Molar e molecular II


Em nível social podemos encontrar o mesmo processo agindo no seio das classes sociais. Não é o caso da “traição” dos ideias da classe trabalhadora? Um devir molecular sombrio pode ocorrer a qualquer momento. É que a “massa” ou “multidão” pode irromper no meio da classe trabalhadora que se identifica mais com o “povo”.

 Mas uma classe ou um povo pode se transformar ou deixar nascer em seu interior uma multidão molecular. Mesmo quando Canetti define o termo massa, ao longo dos exemplos, até chegar ao fogo ou ao mar, é de uma potência que está falando. A força que se acha no meio da massa é da ordem molecular. Mas as classes são talhadas na massa, no molar e no molecular. É sempre uma organização de forças.

 Tais organizações não impedem que entre os estratos, corram livres, elementos moleculares que vão atrapalhar a máquina social e burocrática. As microprocessualidades que escorrem por entre as coisas, são as máquinas desejantes que desarranjam qualquer estrutura macro. 

Seguindo O Anti-Édipo, defendemos as máquinas desejantes como o terceiro termo que faltava para unir homem e natureza numa universal produção primária. “Já não há nem homem nem natureza, mas unicamente um processo que os produz um no outro e acopla as máquinas”.[1] 

Construiu-se a crença de que a natureza e a indústria sejam duas realidades contrapostas, dois processos distintos, um em frente do outro, um operando sobre o outro, fazendo da natureza um objeto alheio, estranho, que se pode e deve manipular: não em vão o homem explora (racionalmente?) o meio em virtude do paulatino desenvolvimento dos modos (econômicos) de produção e de (uma) certa dinâmica bidirecional (circuito de retroalimentação), extraindo (input) da natureza inumeráveis matérias-primas ou recursos energéticos e dando (output) em troca não poucos resíduos. 

É mais, consideram que a dicotomia “sociedade-natureza” se acha na base daquela crença, vinculada por exemplo com o sistema capitalista, que faz da “produção”, a “distribuição” e o “consumo” um conjunto de esferas independentes, autônomas. Retomando aqui as análises de Marx propõem que esta classe de distinção, ou distorção, quer dizer, o par categorial “indústria-natureza” ou a seqüência “produção-distribuição-consumo”, pressupõem junto ao próprio capital e à divisão do trabalho a percepção que o indivíduo capitalista tem do conjunto do processo produtivo e do lugar que ocupa no mesmo, perspectiva que naturalmente não é alheia ao problema fundamental da falsa consciência.



[1] DELEUZE, G./GUATTARI, F. L’Anti-Oedipe, p. 8.

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