Criança máquina - conclusão
Os mapas não deveriam ser obstruídos em nome da educação de uma
criança, ou de uma falsa segurança. A educação de uma criança está no
desenvolvimento de suas faculdades, que resulta da extensão de suas linhas e de
seu mapa. No entanto, o mapa é mais do que sua extensão; existem os mapas
extensos e os mapas intensos. Os primeiros têm a ver com uma distância
percorrida, da casa à esquina do bairro, por exemplo, ou que tem sua origem na
sexualidade, nos pais e na concepção clássica do desejo.
Os mapas intensos e densos são aqueles preenchidos pelo espaço liso que
sustenta as trajetórias. E fazem com que uma criança perceba um cavalo
construindo uma lista de afetos ativos e passivos (ao modo espinosano). É a
distribuição de afectos que torna os
órgãos conversores, transformadores. Os órgãos deixam de ser apenas organismos
para se tornar mapas de intensidades. Os pais são mapas de intensidades também.
A criança como uma pequena máquina de guerra faz essa operação nos
organismos para criar neles, e a partir deles, pequenos corpos sem órgãos. Não
é uma simples derivação papai-mamãe. Eles constroem um mapa a partir desses
órgãos, mas para fazer deles uma valência e um vetor sempre remanejáveis, a
medida dos movimentos e dos trajetos das constelações afetivas que as
determinam.
Ainda assim, os pais se encontram como meios dessas intensas operações.
Um mapa intensivo é feito de constelações de afetos e devires. Assim, é
impossível para a criança que um animal seja uma representação inconsciente do
pai ou da mãe. Quando houver tal representação, é porque foi induzida por uma
interpretação, mas, ainda assim, as imagens se misturam nos trajetos e nos
devires que compõem o mapa.
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