Postagens

Mostrando postagens de 2016

Economia

A economia que visa o acúmulo, parece estar em contradição com a natureza. No acumular, o homem faz dele mesmo um meio para que outro, e não ele, usufrua de sua energia. O ato supremo da vida - me parece - se encontrar no gastar consigo mesmo enquanto vida possui. Nesse caso, o erotismo afirma uma economia em que o desenvolvimento humano se coloca como questão fundamental em contraposição ao paradigma da economia do desenvolvimento do capital (Branco - no café com Bataille).

Reformas

O que dizer das "reformas" (burguesas?), digo que são burguesas, para burgueses - proletários do mundo não se unem, hoje em dia, com mídia burguesa há "proletários burgueses" na esteira de produção. O sonho de uma união de trabalhadores ficou mais distante do que antes. É o fim da era trabalhista - se é que houve uma - entramos todos na era pós-verdade, que é o mesmo que dizer, era das verdades burguesas, reformas burguesas. Muito tarde vai se perceber uma espécie de eugenia sociológica, coisa difícil de ser ver, mas muito sentida na pele das classes mais baixas (Branco - férias).

A peste

A Modernidade Líquida em Bauman e em Marx - em "tudo sólido se desmancha hoje no ar" em forma de capital-dinheiro. Na Peste não poderia ser outra coisa - depois da invasão fascista na França - além de nosso sistema que, engana, criando o fascínio da mercadoria, do consumo de nossas própria carne e alma, sendo uma e outra mercadorias. Somos o único animal que come sua própria casa no ato de se nutrir e de eliminar suas fezes (Branco C/Camus).

A peste

A Peste pode ser entendida em "A Transparência do Mal" de Baudrillard - o homem é um vírus cujo objetivo final é a destruição do outro e de si mesmo. Nada fica além da devastação que, seus dentes famintos, por mais e mais, rasgam para saciar sua vontade insaciável - O homem pode ser de fato o vírus que entrou num planeta inocente, cuja existência plena vai depender da extinção completa de sua geração famigerada. Sabe-se sem necessitar de provas que, se o homem desaparecer do mundo, a vida na Terra será exuberante (Branco - C/Camus).

A peste

Em "A Peste" de Camus, o personagem Rieux acreditava que a dita peste não poderia atingir uma cidade de bons indivíduos, funcionários públicos de boa índole. O autor quer mostrar diferente, "a peste" não tem moral alguma - na verdade, ela é a-moral - pode devastar todos, homens bons e maus homens, crianças inocentes, mulheres, velhos e jovens - inclusive atinge os animais. A Peste em Albert Camus, é a nossa desses dias, onde ninguém está seguro. Muito semelhante às moscas em Sartre que sobrevoam as cabeças de todos (Branco - no café).

Produção

A consequência dessa tendência de produção de subjetividade, é a de reduzir todas as necessidades em necessidades econômicas. Viver, amar, sentir as sensações mais naturais se converge para aquisição de bens econômicos. Como dito por Marx, "tudo que é sólido se desmancha no ar". Tudo entra na agenda do econômico e fora dele nada tem valor (Branco - no café).

Produção

Produção não é mais produção de produtos apenas, mas produção de subjetividades principalmente. Quando o produto chega nas lojas já existe uma subjetividade agindo no inconsciente dos indivíduos; palavras de ordens ditando modos de vida, sentimentos e sensações (Branco - no café).

Aula

Hoje, dando uma aula sobre "efeitos da economia neoliberal" no mercado de trabalho: a precarização do trabalho, a corrozão do caráter do trabalhador, o "fim do emprego", etc.... os alunos apáticos com seus celulares, jogando qualquer coisa, dizem de certa maneira: "não quero nem saber" (Clécio Branco).

Ratos

Não se combate "ratos" na república por uma questão lógica. São eles que fazem as leis. São os mesmos "ratos" que as interpretam. São as ratazanas que escolhem suas matilhas e seus inimigos de classe para serem julgados - há "ratos" pelos corredores do Palácio. Eles têm rostos de homens, vestem-se como homens, mas são ratos disfarçados de homens (Branco - no café com Camus).

Ratos

Não há "ratos" em nossa república; se houver, provavelmente veio de fora - diria, moralmente, o procurador da república (Branco c/ Camus).

Natureza

- Qual a razão de não julgarmos a natureza? Pergunta um aluno inocente. - - Pelo fato da natureza nunca poder inventar uma moral sobre os homens e sobre si mesma, respondi.  Os homens são morais, daí serem juízes do mundo. A natureza é apenas ética - ela é em si e para si, segue seu fluxo de inocência (Branco - c/Espinosa).

Submissão Voluntária

O par perfeito da tirania e da submissão se conclui na mesmo lógica das relações amorosas disfuncionais: os tiranos precisam da fraqueza dos submissos para lhes dominar; os submissos precisam dos tiranos que lhes fazem viver de esperança (Branco - c/Espinosa).

Submissão

É quase impossível uma mente comum perceber as tramoias do poder. Ele produz a miséria e a tristeza para fazer parecer como se fosse natural. Vejo o povo disposto a "pagar" o preço das orgias do poder, com a fome, a ignorância e o sacrifício. Mas tudo parece ser normal ao pensamento comum... desde sempre essa máquina gira pendendo para esse lado (Branco - no café).

Servidão Voluntária

A Trindade Moralista - o escravo, o tirano e o padre - atravessou as monarquias e se encontra nas democracias atuais. O grande segredo é o mesmo de antes, enganar o rebanho dissimulando a verdade e mentira sob nome de religião - o que faz temer àquilo que os acorrenta; por isso, "combatem por sua própria servidão como se fosse por sua salvação" (Branco - no café c/ Espinosa).

Servidão Voluntária

O tirano domina com a tristeza que produz; os sacerdotes se prevalecem da tristeza e da dor para venderem o balsamo - e por fim, o rebanho se entrega voluntariamente à submissão numa relação de dependência (Branco - no café c/ Espinosa).

Servidão Voluntária

O tirano domina com a tristeza que produz; os sacerdotes se prevalecem da tristeza e da dor para venderem o balsamo - e por fim, o rebanho se entrega voluntariamente à submissão numa relação de dependência (Branco - no café c/ Espinosa).

Servidão Voluntária

São três tipos de homens abomináveis em (Espinosa/Nietzsche): o homem das paixões tristes; o homem que explora essas paixões e o homem que se entristece com a condição humana. Os tiranos que produzem a tristeza e a miséria; os sacerdotes que exploram a tristeza e o rebanho que se lamenta de estar no mundo. Essa é a fábrica pastoral moderna de fabricar doença dizendo ser a cura (Branco - no café C/Espinosa).

Servidão Voluntária

Nos destruímos voluntariamente, sob a força da culpabilidade; mas não é só isso, destruímos os outros com a força do ressentimento. Propagamos a nossa insuficiência nessas duas forças que nos arrastam para o abismo - sejam indivíduos ou sociedades - é a mesma coisa, a doença e a escravidão que nossas ideias e crenças nos impõem. Somos o próprio tecido de nossos venenos, de nossas toxinas que, em nós mesmos, produzimos (Branco - no café/ c. Espinosa).

Sensações

Os dias frios e cinza no cais, nos aproxima como as aves que se juntam para aquecerem os corpos - olhos dissimulando no entremeio, entre o mar e... não são fugas; são partes de jogo... forças ativam o olhar até o limite de uma distração necessária ... longínqua, nos confins do mar... em baixo de nossos pés... as marolas quebram finalmente em seus limites ... nós ainda não. Perpetuamos olhares silenciosos ... sem que hajam meios de medir as intensidades... (Branco - indefinidos/no café).

Sensações

Um névoa de indefinições insiste, desde os olhares, enquanto os olhos em formato e cor de amêndoas fogem constantemente para o horizonte... os cabelos tocados pelo vento desdobram os cachos de ébano, cheiro de ameixa.... as palavras se fragmentam em balbucios desencontrados... nada pode ser mais veloz do que os indefinidos... (Branco - no café).

Política

Aos alunos e alunas que se interessam por ciência política: os chamados golpes republicanos - Fernando Lugo, no Paraguai; Manuel Zelaya, em Honduras e Dilma  Rousseff , - tratou-se de golpes "republicanos"; mas sem se conhecer os ideais republicanos que se baseiam na Revolução Francesa - Os três governos seguiam os passos do desenvolvimento social, distribuição de rendas e justiça para os menos favorecidos. Os três foram golpeados por seguirem a política de desenvolvimento econômico da base da pirâmide para cima. Os golpistas pensam no desenvolvimento de cima para baixo, a velha história de 500 anos, a de fazer o bolo crescer para, depois, fazer a divisão. Ele cresce sempre, mas nunca é dividido. (Lendo "Lava-Jato" de Paulo Moreira Leite).

Educação

Seria necessári0 iniciar um trabalho esquizoanalítico no seio da educação com educadores - fazer perceber o efeito do ópio ideológico - não estamos educando para fazer pensar; estamos esculpindo mentes downloading - descarregando lixo que parte de um centro de comando. O que resulta numa mecanização robótica dos indivíduos que - pouco a pouco - perdem a capacidade vital de pensar (Branco - C/Mészáros).

Educação

A educação poderia traçar planos de possibilidades; mas atrofiada como é, reproduz o paradigma do Estado, fazendo-se mecanismo de reprodução social. Se um dia pensou-se que a sala de aula era um laboratório que fazia pensar, foi porque não se leu o suficiente. José Martí disse antes que pudéssemos perceber: a escola é um formidável lugar de fabricação de cárcere do homem (a tradução é minha), talvez por isso exista "grade de notas", "uniformização", "conselho de classe" e outras palavras de ordem (Branco - C/José Martí).

Educação

O educador se orgulha pelas boas notas dos alunos, sem perceber que, o(a) aluno(a) está indo "bem" num sistema que está indo muito mal. Nunca pensei que educadores não fossem capazes de pensar no todo sem excluir as partes. Educamos por fragmentos, nesse sentido, somos peças da engrenagem monstruoso sem poder perceber que, o bom é o mal subjazem numa moeda de boa aparência - trabalhamos na inversão da lógica (Branco - c/Mészáros).

Palavra

No senso comum - não se sabe, não se pode saber - reduzidos ao "ouvir-se-falar" de uma substância fônica-grafada em signos e letras, construiu-se a imagem do mundo; as verdades e a verdade sobre todas as verdades - Deus e o mundo - nascem do vocábulo humano, no clarão de um instante em que se diz: "ouvi falar". Não dessa forma; mas com toda a reverência que o logos impõe. É a fabrica de santificar palavras... que se ligam em axiomas até o limite do significante do significado. Tudo passa a existir (Branco - c/Jaccques Derrida).

Natureza

Do quarto andar, olhando através da varanda, vejo a copa de uma amendoeira que quase toca minha sala. Como em Angola, deveria ser tratada como a árvore da palavra - pois, pássaros se aninham entre as folhas tagarelando em minhas manhãs: são maritacas em bandos que chegam para saborear amêndoas - um mico se mostra com seus olhos fixos, como se curioso estivesse, em relação ao que escrevo, me simpatizo com ele (Branco c/Agualusa).

Futuro

Não é necessário esperar pelo futuro - ele virá sem que se espere - virá como monstro que desfaz todo sentido do presente. Usemos o futuro como essa arma que afronta os signos que, com esforço, tratou-se de organizar numa forma gramatical - o Bem e o Mal - ordenada em sintagmas, fonemas, morfemas, significantes e significados. Não sofram antecipadamente à monstruosidade do futuro. Deixem que ele venha e faça sua obra devastadora (Branco c/Jaccques Derrida).

Simulação

As "palavras de ordens" da mídia faz do consumidor idiota algumas vezes; mas todo dia e sempre: ele entra no Burger King, come uma coisa qualquer industrializada com falso sabor, falso aroma, falsas informações, falso preço barato - sente-se falsamente alimentado - e, de resto, sai sorrindo com uma coroa de papelão na cabeça para informar ter sido falsamente coroado (Branco - no café c/Banksy).

Extinção

Lamento muito que animais e plantas estejam em extinção; quando deveriam de fato desaparecer do planeta os "repressores fascistas" e os "fundamentalistas religiosos" (Branco - no café c/Banksy).

Finito

Não há nada infinito que se possa afirmar infinitamente; tudo que há de implicações infinitas é a impossibilidade de abarcar o imensamente grande. Daí, nossa finita capacidade de entender, diz ser o infinito (Branco - em férias).

Arte

Seu rosto - os cabelos fazem uma moldura -, sua boca, no conjunto lábios, de uma singularidade única, seus olhos negros de projeção oceânica - como o brilho de uma noite estrelada - cada detalhe que se possa descrever...é a arte sem imitação, impossível mesmo de ser imitada. Não se faz duas, nunca se fez duas (Branco - em férias).

Arte

Sugestão aos alunos e alunas em férias: se for possível, pintem um quadro ao reverso das tendências, escrevam um poema pelo lado do avesso, leiam e pensem um livro louco, digam coisas que possam fazer soar o "terceiro excluído" - se as pessoas ficarem confusas com suas artes; fiquem certos de que vocês são artistas de verdade (Branco - em férias).

Classes

Se pensam que eugenia é coisa de ficção científica, enganam-se se quiserem - colonização, darwinismo social, capitalismo selvagem, neoliberalismo, burguesias no topo do mundo - a eugenia se encontra nas sociedades criando realidades de classes equidistantes. Pobres, muito pobres, miseráveis, famintos e ricos na outra ponta. O "fato social" faz pensar que isso seja natural. Por isso, vão achar um revolucionário louco por tentar mudar o que se pensa ser natural (Branco - em férias).

Ratos

Vou insistir na leitura comparada dos ratos em Banksy com a minha visão dos corruptos de meu país. Em Banksy, os ratos evoluíram comendo resto de tudo. Ratos comem lixo hospitalar, resíduo radioativos de baterias e qualquer coisa que encontram no lixo humano. A ingestão de qualquer coisa, parece tornar os ratos mais imunes a quase tudo que se usa para combatê-los. Por outro lado, os "ratos" da política, desenvolveram imunidade parlamentar que conta com a proteção do judiciário, da polícia, da mídia e do povo. Cego como está, não se importa de ser roubado por aqueles a quem se submetem. Nos dois casos, não têm solução fácil, não se extermina nem um nem outro (Branco - no café).

Máquina

Como podemos ver, a “dança” entre virtual e atual realiza um movimento no tempo sob a direção de uma flecha temporal que vai do virtual ao temporal, mas a direção da flecha não é linear. É preciso introduzir o modo de funcionamento da máquina, que, com seus emperramentos, suas paradas bruscas, não envolvem menos intensidades confusas que ameaçam a estabilidade do mundo e irrompem atualizações novas, novas individuações (Branco - no café).

Sujeito

Não só o sujeito, mas a razão também vem depois. É a formação do hábito que fornece o sistema causal, a partir do qual o sujeito reflete e julga. O sujeito racional será, por fim, o efeito da apreensão e aplicação das regras gerais da formação do hábito. Antônio Damásio, Em busca de Espinosa, diz da inexorabilidade do corpo na organização de padrões mentais (Branco - no café).

Transexualidade

A transexualidade se define apenas pela cirurgia anatômica ou pode haver em maior grau uma transexualidade por transposição de signos? Vou dar três exemplos do segundo caso. A Cicciolina como boneca inflável; a Madona como androide de musculatura sem nenhuma sensualidade e o Michael Jackson andrógino frankensteiniano. Não são todos seres travestidos de signos, de trânsfugas do sexo? Parece que caminhamos nessa direção, onde a transexualidade de signos vai superar a troca de sexo por corte cirúrgico (Branco - no café c/ Baudrillard)

Estratégia

Fica aqui essa lição da natureza: quanto mais exposto, quanto mais se aparece e se chama atenção para si, mais problemas se atrai. Na natureza, os animais entram em camuflagens e mimetismo, para ficarem indiscerníveis e se protegerem dos predadores. Os humanos ao contrário, aparecem excessivamente, querem ser capturados por outro (Branco - no café).

Aula

·          Perguntei aos alunos se eles fossem invisíveis o que fariam? Percebi na maioria das meninas uma sensação de angústia e um certo disfarce da mesma: medo, desamparo, solidão....não é isso na verdade o que mais se teme na vida? A solidão? Ser invisível não foi percebido como grande oportunidade de ser livre das condições limitantes. Na verdade, se perceber livre nesse nível de radicalidade pode se descobrir o terror da solidão absoluta. Uma vez socializado, não se pode vive mais fora da cadeia do habitus - é o que nos põe "juntos" em bora desigualmente (Branco- aula /  Pierre Bourdieu)

Solidão

Esse é o fato incontestável, o de sermos desamparados, sozinhos, castrados, alienados e finitos num universo infinito.  Talvez por isso, inventarmos todos os nossos problemas cotidianos. Negamos o desamparo arranjando alguém que nem sempre nos faz bem - antes mal acompanhados do que sós - inventamos uma religião de submissão por ter medo da solidão e da morte - com a promessa de uma vida eterna. É bom que se esteja morto para não se ver o não cumprimento da promessa. Essa é uma das razões da "vida eterna" ser o produto mais bem vendido no mercado religioso, ninguém nunca voltou para reclamar a não entrega (Branco - no café).

Invisível

Podemos não ter a capacidade de nos tornarmos invisíveis; mas há uma estratégia de guerra em entrar em indiscernibilidade - a natureza sabe muito bem fazer camuflagens e mimetismo - o ser humano, por ser carente de mais em relação ao dito anteriormente, não suporta essas zonas de indiscernibilidade: veste roupa de mais, mostra-se de mais, se presentifica exageradamente; por isso, tem problemas excessivos (Branco - no café).

Indiscernível

Ficar indiscernível é entrar em linhas de fuga que nos põe em estado de nomadismo. É ser cada vez mais simples, cada vez mais sóbrio; porém embriagados. Uma embriagues sóbria. As pessoas fazem questão de aparecer de mais, falam muito, são carentes como os cachorrinhos, latem inutilmente, balançam o rabo excessivamente (Branco - no café).

Loucura

Sobre loucura e a paixão:  Platão, melhor do que ninguém, sabia ser mais prudente ceder às solicitações de uma amante (ou amante) que não ama - por manter a cabeça no lugar - a ceder à amante que ama (a apaixonada), pois está sempre está tomada pela loucura (Branco - no café).

Loucura

Por outro lado, Sócrates como bom sofista, defende que a loucura é a fonte de maiores bens. Não há criação fora da loucura, nenhuma arte no mundo, nenhuma forma seria des-formada. Nenhuma genialidade se os homens não fossem tomados pela loucura - sem caos dentro dos homens nenhuma ordem haveria no mundo - nenhum paradigma estético seria alterado sem um caos que o precedesse (Branco - no café).

Cinza

Gosto dos dias cinza.... o dia amanhece cinza no mais perfeito indefinido.... da janela do pequeno hotel vejo tudo cinza... o vento não pode arrastar o cinza do mar...as ondas cinzas...numa manhã indefinida, quase incolor, o dia deveria ficar suspenso...." é como um poema infindável, ainda que tenha um último ponto na última frase... soa bem como o, "nerver more"; "nerver more" do Corvo de Edgard Allan Poe - era uma cinza noite (Branco - no café).

Escrever

Já disse anteriormente, agora digo mais claramente: escrevo assim, como quem bebe água ou como alguém sufocado que quer respirar um ar puro lá da floresta. Não me importo se me entendem hoje, ou se me entendem mal - há um prazer em escrever, como há prazer em beber café com aroma do mato verde - escrever no café é um hábito de estar entre grandes autores (que eu não sou), mas tenho toda inspiração deles no ar da livraria, que serve ao mesmo tempo, café (Branco - Bom dia no café).

Nós

Somos fragmentos, uma re-união de pedaços em desarmonia - um pouco anjo; um pouco gente; um pouco bicho; um pouco humano; as vezes, demasiadamente humanos, mas apenas para esconder a nossa face mais horrenda: o homem dentro do bicho - Mas também somos a natureza - a água dentro de nossas veias, o fogo de nossas paixões, a terra em nossas sínteses minerais, o vento em nossos pulmões - somos todo o ecossistema num corpo complexo. Morremos de nossos vírus, de nossas bactérias. Muitos de nós, muito abaixo da linha da ignorância, nunca vai saber desses limiares que nos circundam - o nada e o todo (Branco - boa noite).

Café

"No Café..." significa uma situação de Acontecimentos. Onde almas se encontram para pensar, escrever, seduzir, encontrar, experimentar (...). O grande Che, disse uma vez em tom revolucionário: "se não há café para todos, não há café para ninguém" - uma síntese de uma pensamento revolucionária em torno de um grão que, depois de torrado e moído, resulta na bebida mais compartilhada e socialmente acessível do planeta (Branco - no café).

Escola

A escola nunca foi uma ilha de pureza; o portão da escola detém alunos atrasados, mas nunca foi capaz de deter as disparidades das classes sociais que existem além dos muros dela mesma. A escola é o palco onde o roteiro que se repete, é a mesma luta de classes da história. É nela, com raras exceções, onde se reproduz a matéria prima da luta de classes, a alienação (Branco - aula de sociologia).

Ilusão

O nosso grande desafio, desde a modernidade - marcada pelo renascimento - até a pós-metafísica, é o viver sem ilusão; porém iludidos de uma outra maneira não menos infantil do que a outrora ilusão da "Divindade Mecânica". Nossas ilusões de hoje são produzidas numa máquina abstrata de subjetivação diária. Nunca se foi tão facilmente iludido - desde o cronograma dos programas televisivos que não deixam de imbecilizar crianças e adultos, até mesmo em produção de ideias em círculos mais fechados - escola, por exemplo (Branco - C/ Gramsci).

Desilusão

A grande desilusão que me refiro, começa com a impossibilidade de entrelaçamento de Newton à Jeremy Bentham - da física clássica, da indivisibilidade do átomo à economia política clássica - onde se pensou criar uma sociedade de acordo com princípios rígidos das ciências da natureza - objetivando criar um mundo utilitário, ou seja: "um mundo de felicidades para o maior número possível". Qual foi a desilusão nesse sentido? O átomo é divisível e a sociedade é dividida injustamente. O tempo flui sob o Princípio da Incerteza, o inconsciente em nós é caótico, assim como, o universo inteiro o é (Branco - no café).

Profecia

Do alto de minha presunção, vou profetizar, mas já em atraso, a fusão da forma-mundo chegará junto com o fim dos portais do tempo.Shakespeare, quem anunciou em Hamlet: The time is out of joint - Não há ferrolhos nos portais do tempo. Logo, a fusão forma-mundo nos levará a formular - também - a fusão de todas as ciências como no mundo grego, onde se pensava as forças como uma teoria do Ser - desde Heráclito, o princípio da indeterminação, já se encontrava como Real. E o devir, como possibilidade maior de definição do Ser. Dividiu-se tudo em fragmentos pequenos; sem perceber que os fragmentos são o todo em fragmentos. Está próximo o dia em que alunos não estudarão mais matérias tripartidas - nesse dia, o arcaico professor, senhor de seu cantinho, se reduzirá ao pó de onde veio (Branco - no café).

Máquinas

Educar, para a inocência dos educadores, ainda se funda na relação sujeito que ensina e objeto que aprende. Ou, em áreas de pesquisa, sujeito que estuda e objeto (natureza) a ser apreendido pelo sentidos. O paradigma ficou superado com a morte dos sistemas dependentes da física newtoniana; mas, não se teve tempo para perceber: acossados por todos os lados, os educadores se vêem ocupados com questões do cotidiano. Não vimos a complexidade do homem, a multiplicidade no lugar do múltiplo e permanecemos na mediocridade do conteúdo vazio - quase sem sentido para a vida (Branco- no café com Edgar Morin).

Máquinas

Vou seguir a trilha de Morin, mas com outros autores de datas anteriores: Félix Guattari, Lazzarato, Varella, Pierre Levy e Gilles Deleuze: Quem se interessar pelo tema das "máquinas", continue lendo os textos. Através deles, optamos pelo conceito "máquina" e seus correlatos cognomes por explicar melhor o momento do homem quase inorgânico - maquínico - de nossos dias (Branco - com os pensadores).

Máquinas

Entramos aqui num terreno politico pouco observável pelos sentidos dados ou pelas informações dadas: trata-se da micropolítica que desenvolvemos anteriormente. Ou seja, o desejo faz parte da infraestrutura que conduz à produção da subjetividade. Logo, devemos concluir que a subjetividade constrói a realidade. Então, não pode ser visível a olho nu como se pensa na receptividade midiática - existe uma supra realidade, no meio da superestrutura, e existe uma infra-realidade subjetiva cujo plano de imanência é o desejo (Branco - com Lazzarato).

Máquinas

Já houve tempo em que se lutou por alguma ideia; hoje não existe ideia alguma. Falar de macroeconomia com seus derivados termos: emprego, desemprego, mercado, dinheiro - tudo, não passa de abstração - nada disso tem relação com a realidade social. A realidade social é movida pelo desejo de quem pode realizá-lo em certo nível de aquisição de bens e poder; e, por outra lado, pelo desejo de quem se imiscui como pode nos planos que restam em fragmentos. A mídia vai vai fazer parecer que tudo é da mais alta normalidade (Branco - c/Lazzarato).

Máquinas

Nessa linha de raciocínio, nossa crise que remonta aos anos 1970, deixou a muito de ser crise econômica como prefiguram os jornais que industrializam a farsa. Vivemos uma crise de produção/produzida de subjetividade. Os exemplos vêem da representação social de uma sala de aula. Quando tento fazer o aluno pensar no "que restaria na Terra, após 500 anos, sem o homem"; não fico surpreso com a resposta do aluno que se considera o mais sábio da classe, diz ele:  - O que importa, se eu não estarei mais aí (Branco - c/Lazzarato).

Máquinas

Modelos de subjetividade podem ser os que se aprende na escola, na família - e hoje também nas igrejas - de ter sucesso num negócio. Esse tipo, se fixa na máquina que se reproduz na repetição da semelhança. Defendo outras formas de subjetividade - que Maturana/Varella chamam de máquinas alopoéticas - são produções que produzem além de suas reproduções, ou seja, a produção da diferença na própria engenharia da máquina. A escola se fixa no primeiro modelo de máquina - a escola é uma máquina abstrata que se reproduz a si mesma nos mesmos moldes de subjetividade do poder que ela pensa contestar (Branco - c/Guattarri/Lazzarato).

Mídia

Quando penso na mulher nua, pelada como símbolo da bandeira anticorrupção, mulher que nem mesmo de Atenas é... quando penso nas panelas que apanharam tanto nas noites de JN... quando penso nos que foram às ruas em nome de uma pureza burguesa sempre perdida... quando penso em alguns professores, de mentes pueris, idiotizando alunos em nome da legalidade .... Penso como a mídia pode fazer bestializados a preço tão exorbitante. Estamos como nunca, na geração videota, tantos vídeos com mensagens pequenas de sentidos ocultos fazendo mentira parecer verdade (Branco - no café).

Direito

A ocasião nos leva a formar uma ideia crítica do direito. Pensamos em relação a normatização do direito como uma forma de fetichismo - algo tão abarcante que não permite a uma mente comum perceber - O direito aparece apenas como norma coercitiva do Estado. E dependendo dos interesses de uma oligarquia, o Estado desaparece na forma dos interesses privados de grupos. Nesse sentido, creio eu, Marx tenha dito ser o Estado uma agência de administração dos interesses da burguesia (Branco - no café).

Direito

Quando a normatização do poder coercitivo do direito torna-se fetiche, surge uma subjetividade jurídica em lugar da objetividade do direito. É a subjetividade jurídica que faz das coisas mercadorias legitimadas pelo direito. O homem e suas informações, respaldados na subjetividade do direito - viram mercadorias. Nessa direção, não haverá mais legitimidade nas ações e nos valores, apenas a legalidade fundada no fetiche da legalização (Branco - no café).

Direito

Já podemos perceber que os trabalhadores não alcançarão seus direitos plenos de cidadania através do direito. Mesmo um governo, não está mais seguro respaldando-se na constituição. Uma oligarquia jurídica pode fazer a constituição virar algo tão subjetivo quanto um poema de Jorge Luiz Borges. Daí em diante, tudo será possível. Marx não pensou nesse fato da constituição se desmanchar no ar. Ou pensou? (Branco - no café).

Direito

Temos que voltar ao conceito de ideologia, de Marx à Antonio Gramsci. Que coisa é essa de direito à greve que se encontra na constituição? É uma ideologia jurídica se a análise colocar em fragmentos tal norma. A norma é do direito à greve ou está posta de forma a garantir a produção, mesmo em tempos de greve? Diz Peter Schöttler: "eu não disse que a greve é burguesa (...), mas o direito de greve é um direito burguês. A greve só acede à legalidade em certas condições, e que essas condições são as mesmas que permitem a reprodução do capital (Branco - no café).

Direito

O mesmo se dá quanto à educação. "Educação é direito de todos" (Constituição federal Art. 205). Mas não se pergunta que tipo de educação? Se o "direito de todos" inclui as mesmas possibilidades de acesso à educação. Desde suas raízes históricas, filhos de trabalhadores precisam aprender a trabalhar. Filhos de burgueses, precisam aprender a comandar. Pierre Bourdieu diz isso bem melhor do que eu. Os filhos de trabalhadores não teriam tempo para estudar porque precisam trabalhar. Filhos de burgueses precisam estudar porque têm tempo de sobra (Branco - no café).

Direito

Na verdade, a "reivindicação é incompatível com o direito burguês", por isso, uma constituição com travestimento social, pode estar ideologicamente maquiada. Está tudo potencialmente - daí dizerem os inocentes do Leblon - ser a constituição, uma das mais perfeitas, das oito que temos em nossa história. Na mesma carta, se encontra os limites e a abolição das reivindicações. Não tem como escapar pela via do direito. Ele está plenamente subjetivado numa oligarquia que não vai permitir o acesso de grupos sociais em seus territórios. Não se trata de direito; mas de proteção de privilégios como do Lava-Jato e das outras investigações manipuladas pela oligarquia. As gravações são os melhores documentos (Branco - no café).

Educação

Não basta estar na escola, frequentar escola, se formar na escola e pensar que tudo vai mudar. Se a escola não muda a lógica social-econômica, ela mesma se torna a impossibilidade de qualquer mudança paradigmática. A pratica do professor é ingenua se não percebe que a escola e seu trabalho executa a "reprodução da estrutura de valores que contribui para perpetuar uma concepção de mundo baseada na sociedade mercantil" (Branco - no café c/Mézáros).

Educação

O maior cinismo da burguesia é produzir professores sub-assalariados que reproduzem em alunos pobres, o pensamento burguês que lhes oprimem. Uma cadeia reprodutiva que garante o domínio futuro adentro numa escala crescente de miséria intelectual - para mim é risível e divertido ver indivíduos que, voluntariamente, afogam-se e se enroscam nas ideias das quais nunca foram capazes de produzir - só de reproduzir (Branco - no café).

Mulher

O mundo feminino historicamente se divide entre mulheres que se fazem, a despeito dos machos - são essas mulheres maravilhosas que escolhem a si mesmas, o que não as fazem desesperadas pelo objeto do desejo de serem escolhidas; e, na outra ponta, as mulheres que ainda não se definiram por estarem convictas e crédulas no lugar que lhes definem. Nos atuais dias de tecnologias, essa linha se demarca pelos perfis da busca paranoica pela aprovação púbica em toques de internet. Ilusão bestial de uma adoração fluída e ilusória do "eu te amo" multiplicado aos milhares (Branco - no café com Simone de Beauvoir).

Mulher

Seguindo os passos da Simone, devo dizer que os costumes de ensinar os meninos a urinarem em pé e às meninas se reservar a pratica de urinarem sentadas ou agachadas, é puramente cultural. "Há países em que os homens urinam sentados e acontece que mulheres urinam em pé". Não se percebe que no fato da mulher se agachar, despindo-se e escondendo-se há um constrangimento e, "uma servidão vergonhosa e incomoda" reservada somente às mulheres? Serão necessários milhares de estratos interiorizados para que, a sociedade de machos, invente a mulher que se acha de tal forma posta no mundo (Branco - no café com Simone de Beauvoir).

Mulher

O desdém do macho homem em relação às mulheres, tem sua gênese na sucessão de impressões que a sociedade dita na educação infantil. Quando o pai mostra ao filho como deve urinar - em pé segurando o pênis - o menino desdenha da irmã por não ser de tal forma distinguida - tal ensino é dado como privilégio. No fato de haver distinção do órgão em contraposição a uma suposta ausência do mesmo na menina, inicia-se na educação de crianças uma sucessiva pratica de subjetivação cujo final é a binaridade equivocada da lógica exclusiva - isso ou aquilo (Branco - no café com Simone de Beauvoir).

Leitura

Uma manhã sem aulas, grande oportunidade para ler e escrever. Os alunos(as) me cobram textos sobre a condição atual da política brasileira. Desculpem, prefiro algo mais distante dessa coisa que deprime quando se sabe que tudo já está premeditado. Prefiro olhar minha estante de livros e escolher um autor menos óbvio em relação à mediocridade de nossos tempos. Vivo um drama muito íntimo quando tenho que começar a ler um livro. É preciso escolher entre tantos bons autores. Deixarei alguns exemplos como Kafka, Gilles Deleuze,Allan Badiou, Paul Virilio - dentre tantos - e escolho Giorgio Agamben em seu "Mistério do Mal". Vou ler e escrever comentários (Branco - no café).

Politica

Logo me deparo com a declaração de Agamben: "Os poderes e as instituições não são hoje desligitimados porque caíram na ilegalidade" - um brasileiro notável já havia dito de uma maneira que lembra Agamben: "... um dia os homens teriam vergonha de praticar a honestidade". Em nosso caso, e nos outros, a ilegalidade é difundida pelos meios de comunicação ao ponto das instituições e a sociedade perderem a noção do que seja a legalidade (Branco - no café).

Politica

A legalidade e a legitimidade das instituições estão sendo questionadas, não mais pelos especialistas que as compõem, mas pelo senso comum da realidade social. Não são as regras e as praticas ético-políticas que devem ser questionadas; mas algo que se encontra nos fundamentos e nos princípios que compõem as ações. Os questionamentos das primeiras causas são como o jardineiro que molha apenas as folhas e não as raízes das plantas. Os juristas e políticos profissionais permanecem de plantão; não para manter a legalidade, mas para agirem no momento em que a pratica da ilegalidade possa atingir níveis desproporcionais (Branco - no café relendo Agamben).

Politica

O meu autor - desse momento - lembra a Idade Média, quando a igreja tomava para si o poder divino onde o Estado se encontrava submetido. Logo, a igreja como interprete das coisas celestiais comandava o Estado nas coisas terrestres. Nesse momento, a legitimidade das instituições terrestres entravam no vazio - e o povo não tinha condições de pensar o papel de fantoche das instituições - no contexto atual, dizendo ao modo hegeliano, existe um Grande Espírito que predetermina os feitos das instituições. Quando as questões chegam nas casas jurídico-políticas, parece já haver um destino definido. O resto é banalidade (Branco - no café com Agamben).

Politica

Nesse momento em que me volto para a estante, vejo O Processo de Franz Kafka. Impossível não fazer a correlação com a ideia anterior. O "Senhor K" segue inutilmente pelos corredores do Tribunal em busca de seu processo, mas sem saber que seu destino já foi traçado num lance de falta de informações acessíveis a um mortal. Somente os "deuses obesos" do judiciário sabiam da decisão. O podo, na figura do personagem - "Senhor K" - anda inutilmente pelas ruas da cidade, discute os lados de cada um, fazem-se inimigos de bandeiras partidárias, compram os mesmos jornais, assistem a mesma televisão; mas lhes é impossível perceber, como nos dois casos - da Idade Média e do Senhor K - que a trama do seu destino já foi traçada (Branco - no café com Kafka e Agamben).

Politica

Impossível não lembrar de Antoine de Saint-Exupéry, meu livro de infância - O Pequeno Príncipe - esse livro que foi escrito para crianças, mas foram os adultos que mais leram. Para entender ao modo infantil o que vem a ser Legalidade e Legitimidade, o pequeno príncipe chega ao asteroide de um único rei. Embora não havendo nenhum súdito que o reconhecesse, nem um instituto que legitimasse a sua condição real, só lhe estava o delírio real de ser rei. Nesse caso, o delirante rei, não tinha legitimidade de súditos que não existiam, nem a legalidade de sua realeza, porque não havia nada que pudesse reconhecer as suas ordens reais. O pequeno príncipe se despede do rei solitário dizendo: "a autoridade repousa sobre a razão" (Branco - no café com Saint-Exupéry).

Politica

Quando instituições são contestadas em suas prerrogativas de legalidade e legitimidade - se a massa popular tiver a percepção real desse fato - pode haver uma desobediência civil generalizada. Assim como, o pequeno príncipe se nega a obedecer ao rei, cujas ordens não repousavam sobre a razão - sem legalidade e sem legitimidade, não há ordem social. Mas pode haver uma estranha ordem em favor de interesses privados. Quando o público se torna privado, tudo pode ser permitido, inclusive a legalidade e legitimidade podem ser invertidas em ilegalidade e ilegitimidade (Branco - no café com Agambem).

Mulher

Os indivíduos não nascem prontos, homens ou mulheres. Não é a biologia, nem a morfologia do corpo que definem os indivíduos. É sim, na mediação com o mundo social/cultural - esse Outro - que produz subjetivamente o que cada um de nós vem a se tornar. Mesmo assim, não há imperativos que nos definam plenamente, nem na biologia, nem na sociedade. Ainda resta a força individual que norteia a formação de cada sujeito - somos biologia, aprendizagem e o que fazemos com essas coisas (Branco - no café com Simone de Beauvoir).

Mulher

Na separação - quando a criança é castrada em seus "direitos" de dormir com os pais, sentar-se ao colo dos mesmos, etc. - nascem as primeiras angústias nos indivíduos. Trata-se do caminho inexorável de tomar consciência. Só se toma consciência do ser na angústia (Branco -no café com Simone de Beauvoir).

Mulher

No mundo patriarcal - o nosso - às meninas são ofertadas as carícias dos pais por um tempo mais prolongado do que aos meninos - o pavor de que os filhos estacionem na feminilidade é a razão dessa pedagogia - o que pode levar muitos meninos a assumirem a postura justamente contrária às intenções patriarcais. Os meninos se travestirem da docilidade feminina - em alguns casos pode ser o caminho da condição sexual - para barganharem os beijinhos e abraços que se destinam às meninas por tempo semelhante (Branco - no café com Simone de Beauvoir). Obs. não estou diagnosticando a homossexualidade.

Mulher

Com a relação afetiva diferenciada e prolongada das meninas, no colo de seus pais, adia-se a angústia do desamparo para mais adiante; por outro lado, interioriza-se nas maninas a espera da continuidade desse mundo equivocadamente romântico. Talvez, por essa subjetividade feminina, o "complexo de carolina na janela" seja restrito ao feminino: essa espera eterna de ser feliz nos braços de um amante encantado que um dia virá. E para se fazer merecedora de tal amante, as mães preparam suas filhas para serem "do lar", prendadas e virtuosas (Branco - no café com Simone de Beauvoir).

Favela

Uma pequena pausa: Quando a favela cresce no meio da burguesia, estabelece-se uma fusão: a favela desce para servir ao burguês. Como em "Casa Grande e Senzala", a negra entra na casa grande para cuidar dos afazeres domésticos da "Casa Grande" e para amamentar os filhos dos seus senhores (Branco - no café com Gilberto Freyre).

Deus...

Deus sempre foi uma boa "invenção"; para justificar pecados e absorver os criminosos; mas, também, é o meio dos homens fazerem o mal absolutamente - seja na vida privada da pequena família, seja na sociedade em nível macro. Foi Deus que quis assim, é o mistério, é a vontade de Deus, foi Deus que me deu, graças a Deus, se deus quiser ... não existe maior ma-fé no homem infantil, do que essa atribuição a um ente que nunca fala nada. Quando fala, é o homem que diz que ele fala, mas é para justificar seus desejos ou para se livrar de seus temores e culpa (Branco - no café).

Temores

A maioria de nossos temores estão fora da realidade externa. Nós somos os arquitetos da maior parte de nossos medos; do mesmo modo, a maioria das ideias sobre nós mesmos, trata-se de uma invenção de nosso Eu. Ou achamos que somos importantes de mais, belos de mais; ou, de outra forma, pensamos ser feios de mais, inseguros de mais (...) Não é o fato real que determina essas percepções, mas condições de uma realidade imaginária. Nossa capacidade em criar fantasmas sobre a vida inclui a criação de deuses que supostamente nos punem ou nos afagam (Branco - no café).

Máscaras

Assumimos papéis que nos impuseram tão perfeitamente que acabamos por nos fundir um no outro - com o tempo não saberemos mais quem somos nós e o que é o papel - por essa razão somos sujeitos em crises psicológicas infindáveis (Branco - no café).

Limites

Sabemos um pouco do pouco que podemos saber. Não temos condições de saber o TODO; nosso sistema sensório motor não capta imagens não humanas da natureza, não captamos sons não humanos da natureza nem sensações não humanas. Tudo isso existe sem que possamos perceber. A maioria de nossas sensações não são significadas na consciência por incapacidade mecânica de codificá-las. Das coisas mais simples só podemos conhecer um pouco, o resto, todo o resto permanece além de nossa imaginação (Branco - no café).

Ilusões de Eu

A maioria de nossos temores está fora da realidade externa. Nós somos os arquitetos da maior parte de nossos medos; do mesmo modo, a maioria das ideias sobre nós mesmos, trata-se de uma invenção de nosso Eu. Ou achamos que somos importantes de mais, belos de mais; ou, de outra forma, pensamos ser feios de mais, inseguros de mais (...) Não é o fato real que determina essas percepções, mas condições de uma realidade imaginária. Nossa capacidade em criar fantasmas sobre a vida inclui a criação de deuses que supostamente nos punem ou nos afagam (Branco - no café).

Literatura

O Senhor "K" procura em vão, saber de seu processo: nos corredores sombrios do tribunal, nas múltiplas salas, entra e sai de porta em porta; mas tudo que encontra são alusões à vaidade do magistrados. Um ateliê para pintar os quadros em tamanho exagerado, um amontoado de menininhas para "servirem" aos apetites sexuais dos gordos homens da lei. Senhor "K" se depara com a fria realidade presunçosa dos homens que deveriam se ocupar em julgar as causas do povo; muito pelo contrário, os tribunais e as casas do governo, se transformaram num amontoado burocrático, em favor da vida privada de quem tinha poder (Branco - relendo Kafka).

Literatura

Como entender ou entrar na cabeça de Franz Kafka? Creio que, como em todo caso, será preciso entender o seu tempo. Eram os valores idealistas-burgueses e cristão-judaicos (que é a mesma coisa) que se encontravam em ruínas. Kafka debocha dessa sociedade hipócrita que não percebia sua derrocada. O Tribunal - no Processo - transbordava de corrupção, se entrelaçava com a igreja, a repartição pública, a fábrica etc. Se hoje percebemos uma justiça literalmente cega e burra que anda de moletas; Kafka viu antes. O senhor K acordou num longo processo do qual nunca soube do crime em que estava sendo condenado. Em nosso caso, nunca entenderemos do porquê criminosos não são condenados (Branco - volta às aulas).

Massa

No mundo tecnológico, somos aquilo que a comunicação de massa nos convida a ser. Corpo e alma (mente) são plásticos em relação à indústria de massa. O formigueiro humano é um grande rebanho indiferenciado. As massas atuais nunca se comparam às massas revoltas dos séculos (XVII - XIX). O que existe hoje é uma juventude mimada, uma burguesia mimada. A juventude de outrora, revolucionária, se encontra ocupada em clicar curtidas na menina mais "gostosa", vazia de mais, oca e iletrada de mais - mesmo a que frequenta escolas burguesas - A indústria do espetáculo dominou as massas mimando o ego que nunca quis ser contrariado (Branco - café).

Massas

As revoluções tecnológicas que não param de acontecer, criam esse novo homem autômato sem que ele mesmo o saiba. Em tempos de psicologismos, pensávamos numa definição de auto-estima baseada em fatores intra-psíquicos. Era preciso muita análise para que um sujeito se percebesse em seus valores. Nos dias atuais, as adolescentes carregam o fardo de ter que se postar libidinalmente para o público seguidor, suplicar "curtidas e comentários", para que a alma gratificada possa viver mais um dia de auto-estima ilusória. Estão todos vazios e precisam preencher a alma com o vácuo fugaz e furtivo da quantidade fluída de "amigos" que evaporam continuamente - como bem profetizou o velho Marx: "tudo que é sólido se desmancha no ar" (Branco - no café).

Massa

Tenho uma desconfiança sobre a indústria de massa - tenho todas - penso que tal produção de subjetividade quer nos levar ao nível animal mais rasteiro. Ou seja, aquele em que se esquece absolutamente - biologicamente - tudo o que se viveu no dia anterior. Se não for esse o objetivo, um outro não menos devastador, seria o de não lembrar de nada que constitui um humano que pensa - é o que percebemos no formigueiro humano. Ele anda como autômatos, sob o controle do trabalho miserável, das infindáveis contas a serem pagas e do uso robotizado do celular (Branco - no café).

Massas

Os três séculos de Revoluções europeias, marcadas pela razão cartesiana, não serviram além de mostrar suas contradições internas. Tudo faz crer -que a "razão" não pode ser prospectiva quando se trata de condições humanas - mesmo a França, centro das maiores revoluções, vive suas condições de des-razão quando se trata de migração, questões raciais, minorias, urbanização etc. Só podemos pensar metodicamente, quando usarmos a razão como instrumento de análise retrospectiva - a razão histórica, a sociológica, a antropológica - Desse modo, a solidão de um homem em sua cidade terá que ser levada em conta (Branco - no café).

Massas

Minha solidão pelas ruas do Rio de Janeiro - ou a solidão de Ortega Y Gasset - pelas ruas de Paris, não são registradas como problemas históricos, assim como os biólogos registram os problemas com os mosquitos que invadiram a cidade. Os problemas históricos deveriam ser analisados por dentro, o que incluiria esse fato da população ter se transformado em massa-humana, onde todos são solitários no meio da massa (Branco - no café).

Massas

Andando pelos ruas no centro do Rio de Janeiro, no meio do formigueiro humano, em busca de alguém para conversar sobre os grandes temas da cidade; não encontro ninguém além das estátuas. A cidade se transformou em multidão-massa-humana sem diferenciação entre pessoas. Penso que devo iniciar uma conversa com as estátuas de mármore (Branco - no café).

Linhas

Não pensamos no fato de existir sobre nossas cabeças, milhares de "estradas" cruzando o espaço sem que possamos ver, ouvir ou sentir. São ondas de rádio, matéria física que levam e trazem comunicações para o mundo inteiro. Segredos de Estado, segredos privados de pessoas individuais, banalidades, futilidades do dia a dia. Mas também coisas sérias, pesquisas científicas, informações sigilosas, dados sobre a economia do mundo, informações sobre politica dos impérios (..). Nada acontece sem que não passe sobre nossas cabeças; mas não podemos imaginar como tudo acontece (Branco - em férias).

Tempo

A eternidade da beleza da natureza devia nos incomodar - se nela prestássemos mais atenção - nós realmente envelhecemos; entretanto, a natureza é a eternidade que se espera em vão para si (Branco - em férias).

Tempo

Desde cedo não tenho ilusões quanto ao mundo - posso ignorar a grandeza e os mistérios que ele esconde em segredo - mas nunca acreditei de fato nas coisas que os adultos tentaram me fazer acreditar quando criança. Hoje sei que é tarde de mais para cair nas ciladas das crendices desnecessárias. Quero continuar envelhecendo feliz e, um dia com serenidade, escolher um lugar para morrer em paz - assim como as folhas secas que se soltam das árvores no outono dando lugar para uma nova folhar verdejar no mundo que permanece (Branco - em férias).

Tempo

Nesse momento precioso, contemplo de minha janela da casa de férias, uma montanha que se molha por dias com a fina chuva que não cessa. Posso perceber o verde fusgo que se utiliza do silêncio para crescer e se tornar em arbustos de acolhimento aos sabiás que retornarão no próximo verão. Dessa cena singular, retiro meu conceito de belle éternité - alguns esperam em vão a eternidade que já está aqui embaixo de nossos olhos (Branco - em férias).

Tempo

Depois de um tempo, se não cuidarmos, desenvolveremos hábitos que freiam a nossa criatividade - cada ano que passa podemos ficar mais ignorantes, ou mais sábios. Depende de cada um (Branco - lendo Simone de Beauvoir).

Cidade

Percebi nesses anos que a cidade se desenvolveu em uma direção, não cresceu, não evoluiu; apenas se desenvolveu em torno de um eixo central. A catedral continua como pivô. Depois, o comércio entremeado de ruas e vielas. As casas de saúde, o hospital e, nos fundos de tudo, o cemitério cresceu junto com a população. Não há nada mais justo na natureza do que fazer nascer e fazer perecer tudo que nasceu um dia. Daí, se percebe o sentido único da eternidade. Só é eterno aquilo que muda de intensidade, ou seja, eterno é a mudança (Branco - relendo Simone de Beauvoir).

Neurose

Hoje sabemos que a neurose é o possível que uma mente pode fazer diante do excesso de Real. Os mecanismos de defesa recobrem o Eu com sintomas para que esse não se rompa em sua frágil integridade. Toda essa barganha dos processos mentais, provam uma ineficiência de nossa formação. O universo simbólico de nossa educação não pode atingir as vicissitudes de nossas vidas; por isso, somos loucos ou neuróticos, que é quase a mesma coisa (Branco - no café com Zizek).

Neurose

Dizendo de outra forma, a neurose é um revestimento de defesa das ameaças do excesso de Real cujos traumas nos deflagram. Pensamos estar arrumadinhos dentro de nossa caixa psíquica. Ou, acreditamos ter uma caixinha interior que nos mantém arrumadinhos em nossas vidinhas de merda. Mas sempre somos visitados pelo Real que nos arrasta para suas profundezas desérticas de seus excessos. Nesses momentos, a mente que deveria representar nossas aflições, angústias e temores - como se dissesse, "não tenho nada a ver com isso" - nos deixa à deriva (Branco - no café).

Educação

Educação de crianças deveria ser essencialmente dramatizada. As frases e os conceitos que se ensinam em salas fechadas, não fazem o menor sentido para as crianças. Os dramas de uma cena teatral podem ser representações da vida real das crianças, por isso, psicólogos induzem as crianças à representação de seus dramas reais por meios de desenhos e dramatizações com brinquedos. Dramas reais são revividos em representações e, podem reorganizar sentimentos, pensamentos e emoções (Branco - no café com Walter Benjamin).

Educação

O que foi dito sobre a "criança proletária" no início do século XX, não pode ser entendido hoje da mesma maneira - essas crianças em nossos dias são invisíveis - naqueles tempos, com seus casacos surrados e impróprios para o frio europeu - elas ajudavam nas colheitas de batatas, no chão sujo das fábricas, nas minas de carvão (Branco - no café com Walter Benjamin).

Pessoas

Há no mundo, basicamente três tipos de pessoas; as que produzem o acontecimentos; as que assistem os acontecimentos e as que perguntam: o que aconteceu? (Branco - pensando as pessoas).

Obediência

O holocausto, as guerras, os extermínios, as destruições de vidas em massa foi possível por causa da obediência - os tiranos dizem, "eu estava apenas cumprindo ordens" - então, me pergunto, por que fazemos da obediência o fundamento de toda educação? (Branco - na madrugada com H. Arendt).

Obediência

A obediência é o "estado de agente" social que um indivíduo assume. Em meio a uma ação, todo indivíduo tem a opção de escolher obedecer ou não, mas como "agente" ele decide obedecer para cumprir seu papel social. Penso, nesses casos, que a sociedade produz marionetes que percebem os fios que as movimentam (Branco - na madrugada com Hannah Arendt).

Tempo

Vivemos dentro de um tempo puro, ele apenas flui, sem marcações - sem natal, sem ano novo, sem carnaval, sem páscoa etc. - somos nós que impregnamos o tempo com nossas "brincadeirinhas" - para que tenhamos a ilusão, sem a qual não suportaríamos viver. Por isso, esses ritos são sucessivos, acabamos de viver o fim de ano e é preciso introduzir rapidamente o carnaval, depois outra coisa e outra..... Ninguém suporta o Real Puro (Branco - no mais delicioso café).

Tempo

O tempo puro não volta. Nossa mente tem a vontade da permanência das coisas, por isso, a repetição de nossas tradições. O tempo Real flui na direção da seta sem jamais voltar - então o "never more" do "Corvo" de Allan Poe, é o Real que nos esmaga - pense no trágico, "nunca mais" a juventude de nossos anos; nunca mais o grande amor que se foi (...). Estamos prensados entre um futuro que não chega, um passado que se foi e um presente que nos escapa (Branco - no melhor café).