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Mostrando postagens de janeiro, 2017

Conceito

Sempre se parte de um pressuposto, de um fundamento ou de uma  escola. Não é voltar às questões do passado, num movimento arqueológico,  aprisionar-se no passado para fazer filosofia.  Não seria nem esse passo para o  passado, nem um olhar para o futuro, como previu o socialismo, nunca se  tratou de ter respostas prontas para as questões.  O marxismo se pautou  sempre por um projeto para o futuro, projetos alternativos para uma sociedade  sem classes, um projeto para o mundo. Deleuze está interessado mais em  processos.  O pensamento cartográfico, o pensamento rizomático, entre outros,  estão sempre nos remetendo a processos. Não se trata de dar respostas aos  problemas, mas sim de abrir as questões ao campo das multiplicidades e das  criações singulares.  Deleuze propõe uma saída das formas binárias do  tratamento das questões e propõe a criação de conceitos como uma forma de  criar inquietações, deixar as questões sobre uma certa tensão.  Em vez de ir ao  passado

Conceito

Responder a uma questão é obturar essa questão, é impedir que ela se  movimente no sentido de múltiplas saídas que ela possa ter. Muito mais  interessante que a resposta, “é o silêncio ou a gagueira, e que seria como uma  linha de fuga da linguagem (...).  Dir-se-ia também: desfazer o rosto, fazer com  que o rosto fuja”. Responder a uma questão é fazer com que ela se reduza a  uma única saída, é levá-la ao nível de um pressuposto de origem, de um  fundamento que tem que desencadear as raias de uma verdade única,  cientificista.  Os inconvenientes dessa imagem de pensamento vêm do fato de  determinar os fundamentos, um sistema de raízes, ponto de partida: “(...) do  qual dependem todos os enunciados produzidos, de fazer reconhecer e  identificar em ordem de significações dominantes ou de poderes  estabelecidos: quando se diz: “Eu, na qualidade de (...)”

Conceito

Segundo Deleuze, o conceito é aquilo que impede que o pensamento seja  apenas uma conversa, um bate-papo, uma opinião, “um conselho, uma  discussão, uma tagarelice”. Todo conceito é forçosamente um paradoxo;  nunca vem pronto com começo, meio e fim para ser declamado.  O conceito de  rizoma, por exemplo, está ligado ao modo do pensamento. O pensamento  rizomático é como a grama, é como a erva daninha que não se sabe como  surgiu, como acabou, começa pelo meio, é sempre entre dois.  “Tudo é o  rizoma. Pensar nas coisas, entre as coisas é justamente criar rizomas e não  raízes, (...). Criar população no deserto e não criar espécies e gêneros em  uma floresta. Povoar sem jamais especificar”.  É assim que eles tratam as questões. O que Deleuze propõe é a fuga das  questões.  “As objeções nunca levaram a nada. O mesmo acontece quando me  colocam uma questão geral. O objetivo não é responder a questões, é sair  delas”.

Filosofia

A  filosofia não deve redizer o filósofo, mas dizer o que ele subentendia  necessariamente, naquilo que ele dizia, mas que não estava dito  explicitamente.  Aquilo deve estar presente no que determinado filósofo disse,  mas não estava explícito, neste caso não deve ser redizer, copiar o que o  filósofo havia dito, mas roubar aquilo que ele diz a partir daquilo que se  entendeu que ele disse, a partir de um roubo que é singular.  Cada um rouba a  seu modo, o que remete àquilo que Deleuze disse no início, ou seja, que a  tarefa da filosofia é sempre uma tarefa de criar conceitos.  Ainda quando lança  mão de um conceito de Nietzsche, de Espinosa, de Bergson, ele está  recriando aqueles conceitos, ele não os está copiando. No entanto, “a filosofia  sempre teve seus inimigos, e ainda os tem”.  Quais seriam os atuais inimigos  da filosofia? A informática, a comunicação, que fazem uma promoção  comercial e uma apropriação dos conceitos.  Para Deleuze: “(...) apoderaram-se

Devir

O devir filósofo não tem nada a ver com a história da filosofia, devir é  justamente não imitar, não partir de um modelo pronto, como pretende a informática quando se  apropria do conceito de rizoma. É não partir de posições  e pressupostos teóricos pré-estabelecidos, máquinas binárias (questão– resposta, feminino–masculino, homem–animal).  “Há sempre uma máquina  binária que preside a distribuição dos papéis e que faz com que todas as  respostas devam passar por questões pré-formadas”.  Tem de se passar pelo  sujeito do enunciado, do lugar de onde se está falando, de qual raiz ou ramo:  “assim se constitui uma tal trama que tudo o que não passa pela trama não  pode, materialmente, ser ouvido”.  Deleuze não parte para a construção da filosofia dessas máquinas  binárias.  O devir filósofo é como as núpcias entre dois reinos, para se opor à  noção de máquinas binárias. O exemplo de Deleuze está nas núpcias entre as  vespas e as orquídeas: “a orquídea parece formar uma imagem

Questões

Sempre se parte de um pressuposto, de um fundamento ou de uma  escola. Não é voltar às questões do passado, num movimento arqueológico,  aprisionar-se no passado para fazer filosofia. Não seria nem esse passo para o  passado, nem um olhar para o futuro, como previu o socialismo, nunca se  tratou de ter respostas prontas para as questões. O marxismo se pautou  sempre por um projeto para o futuro, projetos alternativos para uma sociedade  sem classes, um projeto para o mundo. Deleuze está interessado mais em  processos. O pensamento cartográfico, o pensamento rizomático, entre outros,  estão sempre nos remetendo a processos. Não se trata de dar respostas aos  problemas, mas sim de abrir as questões ao campo das multiplicidades e das  criações singulares. Deleuze propõe uma saída das formas binárias do  tratamento das questões e propõe a criação de conceitos como uma forma de  criar inquietações, deixar as questões sobre uma certa tensão. Em vez de ir ao  passado ou de se dirigir ao futu

Questões

Responder a uma questão é fazer com que ela se reduza a  uma única saída, é levá-la ao nível de um pressuposto de origem, de um  fundamento que tem que desencadear as raias de uma verdade única,  cientificista. Os inconvenientes dessa imagem de pensamento vêm do fato de  determinar os fundamentos, um sistema de raízes, ponto de partida: “(...) do  qual dependem todos os enunciados produzidos, de fazer reconhecer e  identificar em ordem de significações dominantes ou de poderes  estabelecidos: quando se diz: “Eu, na qualidade de (...)”

Introdução IX

A quem se dirige esse livro? Nas palavras de Deleuze: “Felix diz que o  nosso livro se dirige a pessoas que têm entre 7 e 15 anos”30, mas isso não  pode ser tomado assim, em minha opinião, é claro. Deleuze se remete a uma  conversa informal que teria tido com Guattari, mas que não poderia ser tomada  como uma tese. O livro começa o primeiro capítulo com palavrões e isso se  aproxima muito das crianças naquela idade, no entanto, certamente, não é um  livro que se dirija às crianças. É o próprio Guattari quem diz que se deve  “começar pelo domínio das questões teóricas”, e isso envolve a compreensão  do inconsciente psicanalítico, o entendimento da repressão do Édipo dos  psicanalistas e da teoria do desejo de Deleuze e Guattari. O livro se destina a  quem está cansado da psicanálise e aos revolucionários que sonham que, com  suas interpretações da realidade, vão realizar uma sociedade mais justa. A  advertência do Anti-Édipo é para que os acontecimentos “daqueles dias” que  mostraram q

Introdução VIII

O livro não deveria ser visto apenas como um efeito do acontecimento  político de maio de 68 na França, mas, também como uma referência a esta  data a partir da qual tudo eclodiu. Não é simples, há um contexto que ganha  corporeidade com a “revolução frustrada” daqueles dias. Segundo Manuel  Carrilho, “maio de 68 foi a manifestação de todas as pulsões libidinais em cuja  violenta repressão o poder sempre se constitui”. A proposta do livro é  grandiosa quando se define como uma análise do poder e do desejo nos  momentos em que esses mais se fazem presentes, nos acontecimentos  sociais. É uma outra maneira de interpretar a sociedade e a história. O desejo  está enxertado de uma ponta à outra nos acontecimentos sociais. O nazismo da Alemanha de Hitler e, toda espécie de fascismo, não só o da Itália de  Mussolini são frutos de um movimento revolucionário, e se não for visto desta  forma corremos o risco de não entendermos esses acontecimentos. “O que  animava as massas alemães? Era uma li

Introdução VII

Em outra ocasião ocasião, numa entrevista com Deleuze, declara Foucault: “Marx e Freud talvez  não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer essa coisa tão enigmática,  simultaneamente visível e invisível, presente e escondida, investida por todo  lado, a que se chama poder”25. A ilusão é acreditar que o poder e o desejo a  ele só se encontrariam com aqueles que ocupam cargos influentes:  magistrados, governantes, o chefe de polícia, etc. O poder está difuso e pode  ser exercido em todo lugar onde haja relações: entre professores e alunos,  entre médicos e pacientes, em casa, entre os membros da mesma família.  Foucault adverte para esse exercício do poder fascista que habita dentro de  todos nós. Daí, o pensador tomar O Anti-Édipo como “uma introdução à vida  não fascista”. Os autores extraem potência dos acontecimentos, o que para  Baremblitt, “Eles se declaram bricoleurs, juntadores de idéias, sobretudo  juntadores de elementos cuja característica em comum é não ter nada em  com

Introdução VI

Com eles, procuramos mostrar que o capitalismo e o desejo  trabalham, até certo ponto, numa relação de semelhança. Os fluxos do desejo,  livres e descodificados, ameaçam toda hierarquia de valores familiares e  sociais. O capitalismo tem algo em comum com esses fluxos, a máquina  axiomática capital-dinheiro, desterritorializa os territórios sociais e os da  natureza, para transformar tudo em dinheiro. O movimento ondulante do  capitalismo transforma tudo em lucro, não respeitando nada. A diferença em  relação ao desejo é que ele não produz um produto pré-especificado, desejo é  produção de produção. Daí, a questão ética do desejo.  Finalmente, no capítulo cinco, para fazer sentido com o que  defendemos, é preciso lembrar e tirar lições das “revoluções traídas”. Ler O  Anti-Édipo, além da dose necessária de embriaguês, é preciso doses de  humor. Para Furtos e Roussillon, “a loucura, o desejo e a revolução formam  uma trama da sua reflexão”23. Ou, pelo menos devemos buscar a questão mai

Introdução V

Mas, as divergências não nos  devem fazer perder de vista o valor dinâmico do inconsciente freudiano, que o  seu autor tantas vezes sublinhou. Segundo Pardo 20, Freud logo cuidou em  reterritorializar a produção primária em uma determinada codificação, ligando a  libido a um objeto, e, portanto, atou o desejo a uma falta: negando desse modo,  ao desejo, a sua característica de livre produção de intensidade. Para  compreender o sentido dinâmico do inconsciente, os autores do Anti-Édipo  consideram apropriado relacionar o uso do termo esquizofrenia ligado  especificamente ao inconsciente: um inconsciente que antes de sofrer as  injunções da edipianização é esquizofrênico, mas não é como o zumbi da  psiquiatria. A questão não é mais interpretar o inconsciente em relação restrita  ao sexual fechado no triângulo familiar, o inconsciente opera por deslizamento  e agenciamento, é rizoma. Então, a relação não se fecha na sexualidade, “mas  também com o animal, com o vegetal, com o mundo, com

Introdução IV

O alvo é o modelo de funcionamento do pensamento calculável,  ordenado, previsível e explicável casualmente. Os conceitos são o sentido  próprio do poder criativo das pré-realidades caóticas: rizoma, corpo sem  órgãos, fluxos, códigos, etc., são sistemas anti-sistemas. “São conceitos que  correspondem ao funcionamento acidental, incidental, ocasional, catastrófico,  turbulento”15.  A essência do movimento da vida é fluida, descontrolada e  constantemente desorganizadora. Sempre houve uma preocupação em conter  o caos, mas, hoje, tornou-se necessário um novo olhar cientifico sobre as  coisas 16. Baremblitt diz que, os cientistas “têm-se dedicado a estudar o que  chamam de Interface, ou seja, a passagem de uma condição de uma ordenada  e determinista a uma desordenada e caótica, e vice-versa”17. Todas as coisas  se assentam sobre essa superfície imanente, daí a criação de conceitos que  possam dar conta das passagens que destroem entidades específicas e que  surgem outras qualitativamen

Introdução III

diferença. Tal maneira de pensar implica uma crítica à psicanálise, à medida  que esta limita o desejo ao território da família8.  Para atingir este objetivo, traçamos o seguinte roteiro: o primeiro  capítulo, trata de uma justificativa para nosso desenvolvimento. Com Félix  Guattari, em O que é a filosofia?9, Deleuze apresenta a tarefa do filósofo como  um trabalho de artesão, que não se identifica em nada com os contadores de  história da filosofia. Criar conceitos é sempre uma forma de procriar, proliferar,  infestar o pensamento daquilo que ainda não foi dito, um impensado entre as  coisas pensadas. É o que Deleuze chama de roubo, mas um furto espiritual,  um afeto que se desdobra em criação. A atitude filosófica é sempre criação de  conceitos. Estes estão espalhados ao longo da obra de Deleuze, mas  principalmente nos textos em parceria com Guattari: O Anti-Édipo10, Mil  Platôs11 e O que é a Filosofia?12 Percebe-se uma interligação entre os  conceitos nessas obras, como acontece

Introdução II

Com Deleuze e Guattari, surge uma outra vertente que pensa o desejo diretamente ligado à produção. Nesse novo caminho, pode-se pensar diferentemente do determinismo da falta. Nesse caso, não há um objeto a ser desejado: deseja-se não porque falta, mas porque o “desejo é causalidade humana”3. Os objetos são todos segundos em relação a ele, o que implica a mudança no modo de pensar. Para Deleuze e Guattari, o importante é que o desejo tenha o seu próprio campo de imanência, isso para livrar a vida do determinismo moral. Daí, ligar o desejo à noção de máquina. Esse empreendimento faz parte do grande esforço em fazer do pensamento uma atividade afirmativa4. Deleuze, em parceria com Guattari, destitui o desejo de toda falta e o inconsciente da triangulação familiar. Inconsciente e desejo passam a fazer parte do universo das máquinas desejantes. No capítulo dois de Diálogos, Deleuze faz a seguinte afirmação: “O desejo é sempre agenciado, maquinado sobre um plano de imanência”5. Logo, não é

Introdução I

Nossa pesquisa procurou investigar a crítica do Anti-Édipo ao conceito  de desejo que se manteve fiel à noção do platonismo e que se encontra  historicamente nas filosofias da representação. O propósito principal desse  trabalho foi elaborar um mapeamento, localizando onde esta crítica investiga a  estreita relação entre desejo, pensamento e modos de vida.  Se, como ficou marcado em O que é a filosofia?, de Deleuze e Guattari,  publicado pela Editora 34 (São Paulo) e traduzido por Bento Prado Júnior e  Alberto Alonso Muñoz, um conceito pode sofrer os efeitos dos acontecimentos,  ou, que “todo conceito remete a um problema”1, e também é verdade que “um  conceito se esvanece, perde seus contornos ou adquire outros novos que o  transformam”2, nosso trabalho procurou essa questão em relação ao conceito  de desejo. Os conceitos podem se instalar seguros por algum tempo, até que  um outrem esboce uma nova cara assustadora, impondo desconforto à  calmaria, o que pode ser o prenúncio da reinv

MÁQUINAS DESEJANTES

Considerando o valor dado ao conceito de desejo como produção,  da maneira como é apresentado por Deleuze e Guattari em O Anti-Édipo,  defendemos que o mesmo teria implicações importantes na formação do  pensamento e da vida. O desejo, como produção, se inscreve na crítica  deleuzeana às filosofias da representação, e, mais tarde com Guattari,  inclui uma crítica à noção psicanalítica do desejo sob a lei da castração.  Nossa pesquisa busca os elementos que operam esse conceito. O desejo,  como criação de estilos de vida, se encontra no Anti-Édipo, onde para  entender os acontecimentos sociais tornou-se imperioso considerar a  força do desejo operando em níveis sucessivos, da família à sociedade.  Repudiando a relação com o negativo, valores que menosprezam as  potências do desejo, os autores fazem uso de novos conceitos, que  operam em conjunto: rizoma, corpo sem órgãos, devir, dentre outros que  conduzem o pensamento e a vida a partir de um plano de imanência. As  duas principais cor