Introdução IV

O alvo é o modelo de funcionamento do pensamento calculável, ordenado, previsível e explicável casualmente. Os conceitos são o sentido próprio do poder criativo das pré-realidades caóticas: rizoma, corpo sem órgãos, fluxos, códigos, etc., são sistemas anti-sistemas. “São conceitos que correspondem ao funcionamento acidental, incidental, ocasional, catastrófico, turbulento”15. A essência do movimento da vida é fluida, descontrolada e constantemente desorganizadora. Sempre houve uma preocupação em conter o caos, mas, hoje, tornou-se necessário um novo olhar cientifico sobre as coisas 16. Baremblitt diz que, os cientistas “têm-se dedicado a estudar o que chamam de Interface, ou seja, a passagem de uma condição de uma ordenada e determinista a uma desordenada e caótica, e vice-versa”17. Todas as coisas se assentam sobre essa superfície imanente, daí a criação de conceitos que possam dar conta das passagens que destroem entidades específicas e que surgem outras qualitativamente novas. O segundo capítulo trata da concepção do desejo que sempre dependeu de um objeto de fora, ou que não tenha objeto possível. Do platonismo a nossos dias, desenvolveu-se teologias, dramas teatrais idealistas, verdadeiras armadilhas ao desejo. A psicanálise circunscreveu o desejo no pequeno espaço familiar e injetou um fardo moral em suas costas, desejo incestuoso. Desejamos o que não podemos, por isso, é preciso abrir mão de parte da felicidade para se viver em sociedade 18. Com alguma diferença, a metafísica clássica e a psicanálise se mantiveram fiéis à mesma matriz: somos uma metade desde o início, procuramos algo que não está em nós. A noção negativa do desejo pode ser vista como estratégia para subjugar a sua natureza revolucionária. Por que no desejo subjaz a potência de metamorfose, dele deriva toda criação. O terceiro capítulo se refere à leitura do inconsciente, sob o ponto de vista da crítica do Anti-Édipo. Com o advento da psicanálise, pensar o desejo implica pensar as noções do inconsciente: o inconsciente freudiano perdeu a riqueza efervescente e a inquietude do ateísmo de suas origens e voltou-se a se centrar na análise do eu e na interpretação.
15 BAREMBLITT, G. Introdução à esquizoanálise. Belo Horizonte: Instituto Félix Guattari, 1998, p. 110.
16 Cf. OLIVEIRA, Luiz Alberto de “Biontes, Bióides e Borgues”. In: NOVAES, A. (org). O Homem
Máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 2003.
17 BAREMBLITT, G. Op. Cit., p. 110.
18 FREUD, S. O mal-estar na civilização. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Ed.
Imago, 1996.

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