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Mostrando postagens de abril, 2014

Esquizo

Os autores escolhidos, Kafka, Clastres ou Castañeda, são pensadores que captam essa potência, cada um a seu modo.  Um personagem como K., o agrimensor do Castelo, tem as características do esquizo ou da “criança cabeçuda” que não desiste nunca.  As sociedades da lógica contra o Estado são igualmente forças de resistência. Assim como Don Juan de Castañeda, que experimenta a potência e os devires da natureza.  A organização e o conjunto dos organismos formam estratos que são o sistema de juízo de Deus (Clécio Branco - pensando a esquizofrenia).

Esquizo...

O esquizofrênico é dotado da potência molecular que se desvencilha das coisas indo por entre elas. Ele não é necessariamente uma força bruta; pelo contrário.  Ele segue por vias sutis de encruzilhadas e bifurcações de múltiplas entradas e saídas. Essa potência esquizofrênica se encontra na literatura.  Por isso Deleuze/Guattari têm predileção por Kafka e outros autores ditos menores. A potência esquiza do esquizofrênico é a força revolucionária menor. Nunca se sabe onde vai dar, porque se trata de entrar em devires sensíveis e/ou imperceptíveis.  O termo menor se identifica com a potência esquizofrênica, e não se coaduna com o que há de oficial. Se o paranoico é artista das massas, o esquizofrênico é o grande esteta do molecular – não o é no sentido de maior ou menor, mas conforme o termo potência (Clécio Branco - pensando a esquizofrenia).

Capitalismo e esquizofenia

O capitalismo tem um temor: a desterritorialização esquizofrênica, que é o único processo que ameaça a produção e o lucro.  Nesse caso, é preferível abortar o processo esquizofrênico ou levá-lo ao infinito, que é a mesma coisa.  Mas há um tipo político que se pode chamar de potência esquizofrênica.  O tipo esquizofrênico arrasta consigo a potência disruptiva da pulsão de morte.  É ele que, em estado de pura potência, abre múltiplas saídas.

Corrupção

O desejo age não apenas em formas claras, como na natureza, mas também age em organismos sociais e burocráticos. Onde houver organização e organismos, haverá uma forma de agenciamento de desejo.  Por isso, a corrupção, o crime, a falsificação, a bandidagem, com sua justaposição dos indivíduos - ditos civilizados - vai junto. Um indivíduo moralista compra CD pirata com a mesma infantilidade e irresponsabilidade com que compra artigos de 1,99 (Clécio Branco).

Corrupção

Por essa razão, uma organização burocrática, como demonstrou Kafka em O castelo, desenvolve, através de seus organismos, uma complexa rede com a finalidade de blindar o poder.  Dessa forma, a organização dos órgãos, em forma de um rizoma sombrio, passa a desejar, como num organismo vivo, modos possíveis de se perpetuar.  A rede de artimanhas, corrupções e tramoias de toda espécie, poderíamos dizer, é apenas a pulsão de vida que age instintivamente até mesmo nos órgãos das repartições públicas sob o desejo de seus secretários, chefes e subchefes (Clécio Branco).

Corrupção

A maior tragédia da corrupção é a cumplicidade com um povo egoísta e ignorante. Egoísta pelo fato de desejar uma parcela do poder a qualquer preço.  E ignorante por não querer saber das consequências nefastas de eleger qualquer indivíduo baseados em seu egoísmo (Clécio Branco).

Corrpção

Em toda corrupção existe uma cumplicidade do sujeito corrupto com seu Eu enganoso. Um quadrilha parlamentar - rouba o povo e se reúne em oração para agradecer as bençãos de Deus - Por isso ter sido dito, "se Deus existe, tudo é permitido" (Clécio Branco).

Corrupção

Nem sempre a corrupção é do tipo "bandido de meia suja" ou do tipo que "esconde dinheiro na cueca".  Existe uma corrupção "limpa" daquelas que o dinheiro é "branco", já vem lavado com alvejante.  Nesses casos, são especialistas que camuflam em leis e em interpretações de "direitos adquiridos" - políticos, magistrados e membros de alto escalão dos setores públicos.  Esses são os abomináveis homens bons de boa família e sempre vão numa igreja do bairro(Clécio Branco).

Corrupção

A corrupção tem a mesma hierarquia do Estado burocrata. Existe o policial que precisa ser vigiado pelo seu superior que se corrompe e precisa de um outro superior que se corrompe, que tem mais outro superior que se corrompe que tem um comandante que se corrompe que tem uma corregedoria que se corrompe...uma cadeia infinita de corrupção (Clécio Branco).

Moral

Platão dividiu o mundo em dois, o mundo das sensibilidades - esse nosso mundo onde tudo fui, esse mundo em devir - e o mundo das Ideias - onde tudo existe em sua forma perfeita e fixa, sem mudança alguma.  Por isso disse, ao comentar os lábios, os lábios e as bocas em nosso mundo são cópias dos lábios e das bocas perfeitas do mundo acima das estrelas que prefigurou Platão.  Mas prefiro os lábios de nosso mundo sensível, prefiro o devir louco das bocas que mordem e beijam apaixonadamente (Clécio Branco - no café).

Moral

Nesse sentido, do mundo dividido em dois, um perfeito e outro sempre em fuga, Platão inventa a religião da metade do mundo. Não há originalidade em São Paulo.  Ele apenas deu nome novo às peças do tabuleiro platônico. Mas São Paulo não está só, foi preciso toda escolástica para por o jovem galileu na mente do ocidente inteiro.  A semente do cristianismo é platônica (Clécio Branco - no café).

Moral

Daí, toda perseguição ao corpo, ao desejo e ao prazer. O olhar moral sobre o corpo deriva do julgamento das formas em comparação com a metafísica platônica.  Supostamente existe o perfeito em Platão, mas se encontra num mundo além do mundo. O ressentimento e o nojo do mundo, por parte dos cristianismo, nasce dessa analogia.  O cristianismo abomina o mundo sensível pensando ser esse um mundo caído em relação ao mundo eterno - mundo das ideias de Platão.  Mas esse mundo em que habitamos é o mundo que temos - louvado seja a vida e nosso mundo (Clécio Branco).

Moral

A perseguição ao corpo se materializa na tradição judaico-cristã, mas tem sua origem na filosofia clássica - principalmente - e com as máximas teologais da escolástica.  As igrejas se nutrem dessa ideia, cria a culpa eterna e vende o balsamo para enriquecer os cofres sagrados.  O nojo ao mundo, é a estratégia que eleva a aspiração ao além mundo. Inventa-se a esperança no outro mundo e se faz um rebanho que se fixa na espera - quem vive na espera vive sem gozar (Clécio Branco).

Lábios-boca

Existe um limite real que torna esses lábios impossíveis. Podemos fazer tudo com os lábios, beijá-los, mordê-los, chupá-los, esfregá-los, entrarmos neles boca a dentro, e sempre permanecerá uma insatisfação em relação aos mesmos.  Os lábios, justo por sua beleza, pelo seu poder de atrair e demolir, é impossível de saciar a fome que ele mesmo desperta.  Não é fome de lábios alhures. É ele mesmo que se faz pela impossibilidade de completude - talvez para desejarmos infinitamente (Clécio Branco - sobre esses lábios).

Lábios-boca

A outra análise, é pós-moderna, sem a Ideia de perfeição acima de nossas cabeças. Não existe a Ideia desses lábios, existem apenas esses que tocamos com a alma em êxtase.  Estamos no melhor dos mundos - esse mundo sensível - lugar dos lábios da embriagues, da boca, das pernas que se cruzam, da bunda que rebola, dos seios suaves sob o tecido fino, do corpo e da sonoridade dos gemidos que existem em forma Real.  Simbolizamos tudo em palavras, mas o Real são os afetos que nos afetam em sensações sem palavras - elas vêem depois. Deixamos Platão e mergulhamos no mundo das partículas velozes e das imagens que aceleram o mundo - (Clécio Branco - os lábios).

Lábios-boca

Platão não nos deixa uma imersão aos lábios, pelo contrário, ele eleva os lábios às alturas celestes. Não é bom!  Tudo que vem do alto tem cheiro de moral. Opto pelos lábios sem modelo de perfeição.  Fico com esses lábios da mulher que os deixa entreaberto como que suspirando de desejo. Ou, arrancando suspiros em quem contempla.  Esses são os lábios da boca que queremos recobrir com a nossa, perder-nos nela absolutamente, fazer o tempo do universo inteiro parar num átimo de eternidade.  Esses lábios-boca que embriaga os mais sóbrios sem dar chance de escapar, são eles, os lábios reais cujo único além é o desejo que anima a imaginação (Clécio Branco - os lábios).

Lábios-boca

São duas possibilidades de análise dos lábios, uma platônica e outra da física atual - longe da física clássica de Newton - Platão funda todo romance pós-moderno, a religião moderna, o infantil céu cristão - mas pensem os lábios entreabertos deixando a mostra parte dos dentes, como se deixados de propósito ali para causar uma sensação específica.  Platão diria que essa forma de lábios, que desperta desejo, é apenas uma sombra dos verdadeiros lábios infinitamente mais belos.  Ainda que esses lábios tenham o poder de nos arrebatar da terra, eles são apenas um reflexo do modelo metafísico. Deixo para depois a outra análise (Clécio Branco - sobre os lábios de uma mulher).

Lábios- boca

Um boca... não sei porque falamos, "uma boca", sendo que são os lábios que nos inspiram - talvez o conjunto boca, menos.  Analisamos os lábios por compor um conjunto de intensidades - nesse caso, é na física contemporânea que estamos pensando.  Os lábios definidos pela geometria, e atravessados por Quantas, se deslocam do rosto e o rosto mesmo se imiscui em rosticidade.  Levamos os lábios conosco, ele se infiltra em micropartículas que se re-organizam em nossa consciência produzindo todas as sensações da natureza.  Uma explosão da sensualidade em nós! (Clécio Branco - um boca em especial).

Pausa...

A proibição moral é para ser transgredida. Se existe uma armadilha para consciência, é essa.  Proíbe-se para que seja desejado, sendo desejado é para se obter o objeto proibido.  Nada mais infantil para adultos do que proibir - é a trama moral para manter adultos infantilizados (Clécio Branco - me divirto com isso).

Pausa...

Não há nada mais inútil do que um valor negativo atribuído à vida. Um "não pode" à vida tem o mesmo valor que o vácuo numa sacola de papel.  A vida ignora os valores, ela passa inocente e permanece em seu fluir, sem valor e sem sentido que lhes emprestam. A vida é somente a vida... e nada mais (Clécio Branco - preparando aulas).

Pausa....

Não há nada mais inútil do que um valor negativo atribuído à vida. Um "não pode" à vida tem o mesmo valor que o vácuo numa sacola de papel.  A vida ignora os valores, ela passa inocente e permanece em seu fluir, sem valor e sem sentido que lhes emprestam. A vida é somente a vida... e nada mais (Clécio Branco - preparando aulas).

Pausa...

Qual a origem da infinita culpa cristã? Do "não pode", quando se sabe que pode. Pensem no exemplo do "sexo oral" - essa magnífica invenção dos amantes livres - a moral cristã proíbe sabendo que se pode e se faz.  Daí a culpa falsa, que leva ao bálsamo vendido a altos preços pelos pregadores. Sendo que, eles mesmos, adoram sugar o sexo de suas senhoras.  A culpa é infinita por que o desejo e a ação realizada se repetem (Clécio Branco - dando risadas).

Pausa...

A nossa luta de hoje, e de sempre, é a do "tu podes" contra o "tu deves" dos valores inventados.  É a luta da vontade da vida contra os valores da imposição moral.  São os valores da transcendência previamente criados que dizem "não à vida".  Por isso, a luta é contra uma crença que diz, "tu deves". Mas a vida é maior, quer subir, crescer e expandir - ela, a vida, diz "tu podes" (Clécio Branco - lendo Nietzsche).

Pausa...

É a vontade de Deus, diz o déspota quando questionado. O déspota, ao mesmo tempo em que tem um corpo físico, fundamentalmente é, também, um corpo metafísico.  Ele é um corpo sem órgãos (nesse sentido específico); é um campo atrativo, um polo que se destaca do resto da sociedade.  Como corpo sem órgãos, o déspota se transforma em causa, realidade e centro de tudo, de modo absolutamente hierárquico (Clécio Branco).

Pausa...

A linguagem é quase sempre a simulação do sentido a que ela se refere, além do fato de que as palavras são sempre arbitrárias de sentido do mundo.  Deturpamos o mundo com palavras - o mundo é outra coisa do que se diz - mas é quase impossível dissimular um olhar.  O olhar traduz os afetos que afetam o corpo e, só depois, a boca abre escancarada em dissimulações (Clécio Branco).

Pausa...

O homem vive um dia novo cada dia, não pelo fato de ser um outro dia, mas pela única razão da impossibilidade de haver qualquer repetição do mesmo duas vezes. Nada se repete para sustentar uma identidade do igual, nada de absoluto permanece no mundo além das leis necessárias – existir e morrer, por exemplo -, nada suspenso, nada de eterno além da eternidade do eterno retorno da diferença. Tudo está em contínua fuga eternamente. Eis a única e verdadeira boa nova!

Pausa...

Estou perante alunos que recebem o texto da matéria dada para fazer uma prova.  O aluno me pergunta onde, no texto, se encontram as respostas.  Descemos ao nível em que daremos as respostas sublinhadas.  Essa geração não sabe pensar por que não sabe resolver seus problemas práticos - existe uma sociedade que finge dar tudo solucionado (Clécio Branco - vivendo de utopias)

Pausa...

Quando se diz, "sem você não saberei viver", é verdade até certo ponto. A verdade é que ainda não se aprendeu a viver, mas sempre que houver oportunidade de ser perder, nasce também as condições de possibilidades de se viver por conta própria - de se achar ou de se perder completamente (Clécio Branco).

A máquina capitalista civilizada II

A mercadoria é um produto cuja magnitude engloba um trabalho abstrato e remete aos diferentes trabalhos, qualificados e necessários à sua produção. Um rosto belo e sorridente remete à venda de produtos manufaturados no chão das fábricas, por exemplo. A moeda se institui a si mesma em quantidade abstrata, capaz de equivaler a qualquer coisa, ao valor de qualquer quantum ou a uma magnitude abstrata particular. Não é que o capitalismo tenha inventado a mercadoria ou a moeda, mas as “mercadorias” das sociedades primitivas se moviam em um círculo fechado de mercados restritos sem equivalente abstrato [1] universal, e o cunho da moeda estava reservado às sociedades despóticas, ao imperador. Será o próprio imperador que aparecerá na “cara” da moeda. A liberação desses dispositivos é o que nos faz passar dos fluxos codificados às quantidades abstratas. Os fluxos descodificados irrompem no campo social à margem dos códigos locais e das inscrições estatais ou imperiais: [2] os fluxos só

A máquina capitalista civilizada

As formações sociais capitalistas, por sua vez, supõem um Estado máximo de descodificação dos fluxos de desejo, impensável ou insuportável a qualquer outra formação social. O paradoxo fundamental de nossa sociedade, “(...) o que era o terror para as outras sociedades: a existência e a realidade de fluxos decodificados, e fez deles assunto seu”. [1] Em verdade, o capitalismo joga com fluxos descodificados até um limite. O capitalismo só teme a descodificação absoluta da esquizofrenia. Para impedir a derrocada do controle dos fluxos, a sociedade capitalista civilizada inventou uma máquina axiomática que faz com o capital uma abstração de funcionamento preciso ao modo das máquinas desejantes com um sistema semelhante de corte-fluxo. O capitalismo, como organização social da produção desejante, define-se por dois movimentos acertados e complementares: de um lado, a destruição sistemática dos códigos de grupo ou territoriais, do tipo dos que definiam as relações de aliança nas soci