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Mostrando postagens de julho, 2013
Por essas razões sem razão encontramos um número cada vez maior de pessoas se perguntando: Quem sou eu? O que quero eu? Para onde estou indo? O que estou sentindo? O Eu se desterritorializa continuamente na avalanche fluida do consumismo, mas nunca atinge o estatuto de não-eu, muito ao contrário, o Eu se fragmenta em mulplicidades de eus.

Pausa...

O que caracteriza nosso tempo é o fim dos fundamentos. Os gonzos das portas do tempo se perderam, estamos lançados no afundamento. A razão entrou em crise e junto a essa crise as identidades se vaporizam. A pós modernidade é pós metafísica, os portais do tempo se abriram em incertezas, não é pior nem melhor do que os tempos dos fundamentos, trata-se de um novo tempo de um paradigma em devir. 

Pausa...

A crise da chamada pós modernidade, é a crise da identidade, onde o homem se vê livre para poder fazer tudo, mas sem um deus que o autorize (porque Deus está morto e nada é permitido), ele não se vê livre para fazer quase nada.

Pausa para respirar

No sentido de uma identidade, o que temos é o efeito de uma desterritorialização sem reterritorialização, o que provoca uma desorientação psíquica nos indivíduos, uma perda de rumo que tem levado a patologias - ansiedade, fobias e depressões - ou a atos delinquentes.

Identidade – VII

Quando a identidade está definida, o indivíduo se encontra delimitado socialmente e psicologicamente dentro do enquadre definido pelo dominador que diz: “você é isso e não aquilo”, “você é o que estamos dizendo e nunca o que pensa que é”. Se existe alguma raiva no homem negro e no pobre por razões obvias, essa raiva se transformará em tensão.  A agressividade é obvia, pois se encontra reprimida pelo processo de racionalização que constitui a sua identidade. Ele acredita ser pobre por causa de sua condição racial. Pelo menos é o que a ideologia constrói com sucesso enquanto sistema de crenças. O que o “homem de cor negra é levado” a reprimir? A sua natural agressividade pela sua condição de discriminado. O seu passado histórico é violento.  O negro foi retirado de sua pátria, de sua família, de seu sistema de valores de forma violenta e submetido às condições deploráveis de escravidão. Era um homem mercadoria, vendido e usado como uma peça qualquer. Tal condição só poderia ser

Identidade – VI

No caso individual seria como a criação de uma baixa auto-estima que leva uma pessoa a se entregar ao abandono de si mesmo. O indivíduo não consegue se perceber com seus valores e passa a ter como norma de julgamento de si um padrão interiorizado que não lhe pertence, mas que passa a julga-lo negativamente. A psicanálise criou o conceito de mecanismo de defesa chamado de, “formação reativa”, que atua nesse caso individual e no social. Em situação de discriminação de raça, o indivíduo vitima da discriminação passa a interagir com o outro que discrimina para confirmar o ato discriminatório. O mecanismo de defesa faz com que a pessoa ou grupo social passe a “preservar, difundir e fortalecer formações reativas de natureza desmoralizadora – todas as formas de preconceito e de discriminação raciais se vinculam, funcionalmente, à defesa da ordem social em que emergem socialmente” (Id.). O poder atinge seu ápice de dominação quando a condição de subjetivação atinge a ordem psíquica e

Identidade – V

Para se concluir o processo identitário é preciso ir mais fundo na alma humana para criar condições mentais favoráveis ao comportamento de conformação às normas estabelecidas pela classe dominante.  Félix Guattarri trabalha em Micropolítica: cartografias do desejo , com o conceito de subjetividade que é coextensivo aos modos de produção de uma identidade, seja ela identidade de raça, cor ou condição social.  Fazer o indivíduo pertencer a determinado grupo social e desmobilizar as forças de resistência que impediriam a sua conformação ao grupo majoritário. É o mesmo processo que cria condições latentes de pensar como o outro que deseja a dominação ao ponto de facilitar a dominação - interiorização do desejo do  outro na forma de submissão pacifica. De outra maneira La Boetice denunciou o “porquê de milhares se submeterem a um”, são modos de subjetivação semelhantes que fazem um indivíduo que nasceu livre possa aceitar pacificamente a dominação de outro.  Em nosso caso, são

Identidade IV

A crença que diz não haver conflito racial no Brasil não mascara a realidade de classes que estrutura as divisões sociais gerais da sociedade. “Depois da abolição o padrão tradicionalista de relação social continuou” (Florestan, 2008, p. 544).  Homens de cor de um lado e brancos de outro é o que caracteriza a nossa sociedade Na verdade, o negro tem que se adaptar ao mundo dos brancos. E para ascender na escala social precisa branquear a cor da pele, ser um preto de alma branca, um negro, mas boa pessoa, sujeito confiável. "Um negro, mas cumpridor das tarefas, vai à igreja, tem família, trabalho, etc." A verdade é que existe um congestionamento dos indivíduos não brancos na fila da ascensão social.  Florestan faz uma lista de condições manifestas da existência do preconceito de cor. “Entre os brancos: manter o negro em seu lugar. Combinar a distancia social e desigualdade racial de modo a impedir o acesso do negro a posições e papeis sociais concebidos como apanágio d

Identidade III

Seguindo os passos da antropologia clássica de Freyre, pareceria não haver conflito racial no Brasil, na verdade não se tem tantas notícias de levantes dessa ordem, a questão Dos Palmares – Zumbi – pode ser considerada como se fosse um escravo rebelde apenas. Para Freyre “não existia “problema racial no Brasil” (Florestan, 2006, p. 15). Se pela perspectiva da busca de uma identidade brasileira, na construção da identidade do povo brasileiro não se via o conflito racial, pela análise crítica de Florestan, o processo de “branqueamento” da raça negra era o modelo de harmonização da mestiçagem brasileira. As análises não consideravam “o processo de exclusão existente no país; mais evidente a partir de uma nova ordem social capitalista e competitiva” (Id., p. 15). Não havia, segundo a antropologia, conflito racial no Brasil. O consenso só seria possível sem uma análise apurada da divisão de classe que considerasse a distribuição de renda e de oportunidades. O “mulatismo” de Freyre,

Identidade – II

A questão da identidade vista e resumida por fora, impõe certa forma de pensar que não corresponde à realidade mesma.  Por outro lado, não revela o preconceito de raça que se esconde por trás da suposta “situação idílica vivenciada no país”.  O cruzamento das raças como marca identitária de uma nação escamoteia a realidade em conflito contínuo que se encontra muito além das definições que se desenvolvem a partir das noções antropológicas. A “mistura das raças” como tese científica de uma suposta conformação racial e ausência de conflitos aparece como solução cientifica para problemas gerais de conflitos raciais. O fato crucial é que a definição de uma identidade pacífica e harmoniosa como resultado da miscigenação, esconde todo preconceito que se revela no sistema de dominação do europeu sobre o indígena e o negro.  O negro é escravo e o índio colonizado. As pesquisas parecem encomendadas por agencias internacionais que desconheciam as verdadeiras condições de desigu

Identidade - I

Identidade - um conceito complexo Temos duas formas, no mínimo, de pensar as identidades. Antes,  porém, como podemos definir a identidade? O que definiria a identidade? Na situação em que estamos pensando é mais do que ter um nome, altura, cor da pele ou algo ligado ao temperamento. Aqui se pensa numa identidade pessoal que facilitaria encontrar tal pessoa no tempo e no espaço. Não é esse o caso que queremos pensar aqui. Queremos focar as identidades sociais, o que caracteriza um determinado grupo social, uma sociedade inteira. Uma das formas em que se definem tais identidades se encontra na cabeça dos intelectuais, na mentalidade antropológica e sociológica da elite considerada intelectual de uma sociedade. Por esse caminho, uma vez definida a Identidade – antropologicamente - depois de cair no imaginário e se tornar senso comum, fica difícil desconstruir a noção estabelecida. Podemos tomar como exemplo o conceito de identidade brasileira advinda em grande parte de Gilberto

Modernidade

Qual é marca da modernidade? Talvez esteja sintetizado no título, "tudo que é sólido se desmancha no ar" (BERMAN, Marshall, 1986) de inspiração marxista.  Não adianta reclamar do que se movimenta continuamente, que fragmenta as partes sem se integrar jamais, isso é tudo o que o desejo humano aspirou no Iluminismo - e é tudo o que temos.  Desde a estrutura urbana, passando pelas relações afetivas mínimas, do amor e do sexo, tudo é fugidio e temporário. O sociólogo Zygmunt Bauman traduz o sentido do efêmero de nosso tempo na imagem líquida onde tudo se desfaz no tempo e no espaço.  São os gonzos dos portais do tempo que se perderam. Não há mais nada que garanta um longa narrativa, nem no pensamento, nem nos valores. Tudo é líquido para garantir a liquidez do mercado consumidor.
O turista que vai em países onde ainda existem transporte por riquixá - Ásia - podem achar exótico serem carregados por um homem - turista, geralmente anda em seu estado de alienação sem perceber esse tipo de realidade. "Puxar um riquixá foi reconhecido (pela OIT) como a forma mais dura de trabalho urbano". Em Daca eles ganham cerca de 1 dólar por dia. Vivem em amontoados de barracos. Moram longe de suas famílias por anos. São os chamados "burros humanos" (Mike Davis, Planeta Favela, p. 188).

Cultura

Na esteira da lógica capitalista, desde os processos de colonização, tudo virou mercadoria. Os homens não só vendem sua força de trabalho como foram eles mesmos negociados no mercado. Em nossos dias, existe um mercado sombrio de tráfico de órgãos, de crianças e de mulheres para satisfazerem o desejo dos homens em áreas ditas civilizadas do mundo. Tudo sem falar no cinturão miserável das muitas ex-colônias. Em situações como  no Haiti, "agora tudo está à venda", ou por conta das catástrofes que se somam aos fatores imperiais do colonizador, "tudo no Haiti está à venda" (Mike Davis, Planeta Favela, p. 184). Mas esse é um caso grave de emergência sem igual. Vendem-se tudo para se obter um pouco de comida. No caso geral do capitalismo, vendem-se de tudo para se obter mais mercadoria capital-dinheiro.

Cultura

É preciso reler Marx e Freud para perceber a subversão das subjetividades que se opera em nível intrapsíquico. Do encantamento do mundo - com seus mitos, lendas e crenças - passamos ao nível da mercadoria generalizada. Nada escapa - Deus, o amor e o corpo - tudo é uma mercadoria com valor de mercado .

Cultura

Seguindo o parágrafo anterior - o processo da máquina axiomática capitalista converte subjetividades em objetividades sem que, o indivíduo e a sociedade, possam ter tempo de colocar em questão a subversão de seus valores e crenças. A máquina, em sua lógica abstrata, faz escapar a subversão da percepção consciente.

Cultura

Quando disse outro dia não haver outra "religião além do capitalismo", me referia à afirmação de Félix Guattari que diz não haver outra cultura a não ser a "cultura capitalista". Pensando na linha de Adorno e Horkheimer, verifica-se que a "forma de organização da produção capitalista ordena tudo" em seus fins utilitários e individuais. Ou seja, todos os campos da vida social se vêm prisioneiros da lógica axiomática do capital-dinheiro.