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Mostrando postagens de novembro, 2011

Linguagem

Pensar a linguagem através da linguagem já constitui um imenso desafio. Nos acostumamos a pensar com palavras, sem nem mesmo exercitarmos uma pequena desconfiança acerca desse procedimento que se tornou senso comum e bom-senso. Daí, dessa convenção, deriva toda a nossa crença na verdade, seja religiosa ou de outra forma de conhecimento. Acreditamos no verdadeiro sem nem questionarmos se tudo não passa de um arranjo de palavras, devidamente arrumadas, para nos dar a aparência do verdadeiro. Mas as palavras que compõem a linguagem não passam de uma redução arbitrária do todo que elas pretendem reduzir. Sentimos sensações nunca ditas, isso porque as palavras só podem representar um mínimo do que sentimos. A imensa maioria de nossas sensações puras se perdem sem serem representadas na linguagem. Grande parte do mundo passa diante de nossos olhos e sentidos sem que possamos captá-la. Isso porque somos prisioneiros da linguagem. Nos afastamos demais de nossa "casa", ou, dizendo de

Crenças e valores

Um homem estava deitado em seu leito de paralisia por mais de três décadas. Esperava que um dia alguém lhe lançasse no tanque de águas sagradas no momento exato em que um suposto anjo revolvesse as águas. Mas ninguém se interessou pelo seu caso, até que um dia o mestre se aproximou e lhe perguntou: "O que queres que eu faça?”Ele lhe respondeu: "Que eu ande Senhor". Disse-lhe, "Levanta, pega a tua cama e anda". Assim ele o fez. Pegou os seus trapos da cama e saiu regozijando-se por perceber que andava. Mais adiante, os fariseus, guardiões da tradição religiosa, se inquietaram com o fato de o homem estar andando. No entanto, não era o fato de ele ter estado mais de trinta anos paralisado numa cama, mas pela razão de o homem estar carregando uma cama no dia de sábado. Não houve nenhuma manifestação de alegria por estar andando, mas uma reação moral ao fato de estar "transgredindo" uma regra moral. A tradição quando supera os valores da vida, op

Saídas

Entramos no mundo chorando e sorrindo sem saber por quê. Partimos de uma imaginação vinda do Outro, que nos diz sermos o que somos: nome, crenças, valores, normas e atitudes são provenientes do Outro, que funciona em nós como um espelho. Mas o fato crucial e trágico é que não temos como saber que somos o desejo do Outro, e, no entanto, somos de fato determinados por esse Outro no qual (ou “contra o qual”?) nos debatemos. Acreditamos por falta de uma linguagem que nos possibilitaria discordar. Esse fato, o modo como entramos no mundo, marca uma primeira atitude política em nossa vida. Um dia teremos que nos revoltar, nos insurgir contra o que nos tornamos sem saber o que ou como. Essa primeira insurreição, necessária, marca os processos de singularização. Um indivíduo - ou um povo, uma sociedade - precisa se insurgir, propondo, de início, uma questão, sendo ela: o que estou permitindo que façam comigo? Daí, se precipita um processo que não tem previsão de acabar. Para que a vida seja é