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Mostrando postagens de agosto, 2012

Estações

O que chamamos de amor é a decodificação pela linguagem de um afeto que brotou a partir do olhar do outro. Quando há uma identificação da imagem projetada na pessoa em que se projeta, quando tal imagem é desejada como que fazendo parte de um objeto outrora perdido, vai se chamar de amor. Tal identificação, embora não passe de um encontro com uma imagem sempre sonhada e almejada, tende a levar o organismo aos níveis de sensações prazerosas que levam os indivíduos a declararem estarem apaixonados ou amando. Sob o aspecto psíquico, o amor é essa identificação por imagens que se encontram em niveis ideais. O indivíduo pensa em uma imagem a partir de afetos outrora vividos, forma uma imagem ideal para o conjunto de afetos agradaveis. Um dia, que não é por acaso – ele(a) vive em busca dessa imagem – ele(a) se depara com a pessoa que se “encaixa” na imagem em nivel de projeção. Sob o aspecto físico, o amor é a explosão de processos químicos que produz a sensação afetiva de estar

Sagrado

Não existem textos sagrados, existem avaliações de textos que dizem ser esses ou aqueles textos  sagrados ou malditos. Mas nenhum texto deveria estar acima de uma crítica ou a mercê do devir da história. Caso isso não ocorra, caso um texto passe como sagrado e acima de qualquer crítica, corre-se o risco de se fundar sistemas e civilizações em cima de fábulas infantis que beneficiarão os especialistas em interpretação delas. E pior que isso, a humanidade vai acreditar, como os indianos fazem os elefantes acreditarem, que estão presos por um barbante em um pé de bananeira. Eles nunca se movem e não podem descobrir a força que possuem.

As boas novas são essas dos adoradores da vida: uma fé na Terra e um culto de afirmação à vida que  temos. Não o culto dos ressentimentos a uma vida que supostamente se perdeu. Não mais o ódio e o nojo à Terra, mas a paixão por tudo que é vivo e pulsa no mundo. É o mundo “sonoro e óptico” que se perdeu dentro de um mundo que se criou. Por isso terem dito, de um mundo simulado que é simulacro do mundo mesmo. Ou, de outra forma, de uma caverna que se interpõe sempre dentro de outra caverna. Ou ainda, de uma máscara sobre outra máscara. Simulamos mundos para encobrir o mundo de sonoridades e imagens puras, o mundo que temos em nossa volta. É a negação da vida na Terra que está em questão nas religiões. Fizeram da Terra um exílio de dores e transportaram as cabeças para uma nova terra sem dores, como se a dor e a morte não fizessem parte da vida real. Daí, o ódio ao mundo e o nojo à vida na Terra. A mais ampla forma de se implantar na consciência uma memória, de algo que n

Palavra

  No princípio, era a palavra que colava ao signo o sentido desejado pelo homem. Depois, a gramática que organiza tudo em estruturas, e logo surgiu Deus o Senhor das sínteses. O mundo é "sonoro é optico" e nos chega através de sensações puras, afetos que nos afetam. As palavras são as ferramentas que criamos para dar sentido a tudo que sentimos. São os pobres meios que dispomos em com ele, criamos o mundo que conhecemos.          A construção do "Eu" é uma linguagem - conjunto de palavras que, associadas umas às outras, dão o sentido que queremos ao mundo. O “Eu” é uma estrutura gramatical, a mais primitiva criação humana. Daí, o "Eu" como uma consciência, ser o que há de mais superficial, o nivel de realidade mais pobre que o homem dispõe. O Senhor das sínteses e o mundo artificialmente criado junto com ele, são essa prova de superficialidade. O homem que perdeu o mundo completamente,   mundo de sons e image

Vida

A questão que deveria interessar a todos não é se há vida além da morte, mas se há vida antes da morte. Não pode haver mais desprezo à vida do que não viver tudo o que se pode em detrimento da crença no além da vida.

As feridas

O homem cria ilusões sobre si mesmo, o que se chamou de narcisismo. Entramos no mundo por essa porta, quando nossos pais nos chamam pelo nome a primeira vez.   Não sabemos o que querem dizer, apenas imaginamos. Depois de muitas repetições, nos chamando de Pedro, João ou Maria somos vencidos pela insistência e passamos a concordar que somos aquilo que estamos ouvindo por dias consecutivos. Da mesma forma, procedem nos transmitindo valores e qualidades sobre o mundo e sobre nós mesmos. Da casa à escola, da escola à igreja uma sucessão de valores vão constituir o que se convencionou chamar de consciência civilizatória ou de uma identidade pessoal. Antes de Copérnico, todo indivíduo acreditou estar no centro do universo. Antes de Darwin construiu-se a crença na natural bondade humana que se interiorizou no homem. Antes de Nietzsche, fomos levados a acreditar que a vida e o mundo eram igualmente harmônicos. E finalmente, antes de Freud, acreditava-se no homem da razão e que o

Eu penso...

A maior criação humana é também, a sua maior ficção, o Eu.  Sendo o Eu, uma dobra do outro, não é Eu nem o outro, apenas um desejo evanescente de um e de outro.  A segunda maior criação, seguida de outra ilusão, é pensar que esse Eu pensa.  O pensamento sustentado na gênese do Eu só pode ser reminiscência do Eu mesmo, logo, deveria ser tomado como reflexão ou lembranças.  O pensamento  teria que ser uma violência contra o Eu e não a sua conformidade. Pensar é fazer o Eu fugir de seus trilhos.