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Mostrando postagens de março, 2011

Eu sei o que você está sentindo...

Dizemos isso procurando ser (sim)páticos em relação ao outro, mas na verdade, nunca saberemos o que o outro está sentindo, somos limitados por nossa condição reduzida a nós mesmos. A idéia da empatia só pode ser afirmada plenamente nos termos de uma ficção, como a que aparece nos dois filmes: "Energia Pura" e "A espera de um milagre". Nesses casos, os personagens seguram firmemente o outro para que sinta e veja tudo o que se passa na vida do outro, tudo que experimenta em uma dada situação:  um animal que está sendo abatido covardemente e a verdadeira história de um crime violento não resolvido. Nos dois casos, ao entrar em contato com a agonia do outro, os indivíduos percebem a impossibilidade de sentir o sentimento do outro, impossíbilidade de não poder se deslocar de si mesmo e a impossibilidade do desejo de entrar na situação alheia e dolorosa. São situações da experiência limite de morrer. O afeto de morte é insuportável no corpo de quem não está morrendo. Mor

Caminho

Já foi dito em algum lugar, “caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar...”. As caminhadas e os caminhos são menos os espaços e os deslocamentos e mais a intensidade que se experimenta ao caminhar. Mesmo quando se trata dos grandes caminhos que vão de São Tiago de Compostela ao Caminho de Abraão. São longos trajetos, percorridos por grandes homens que emprestam seus nomes ao caminho. Caminhadas épicas onde o que importa não é tanto o trajeto percorrido, mas sim os acontecimentos que delas decorrem. Ninguém precisa se orgulhar de ter feito essa ou aquela caminhada, esse orgulho inútil já denuncia a futilidade da experiência.  Não faz nenhum sentido a apropriação da indústria do turismo em relação às “caminhadas sagradas”, o sagrado não é o caminho, e muito menos sagrado é o passeio entre esses caminhos percorridos. É possível que a maioria das pessoas não experimentem nada ao pisarem aquele chão de terra seca. Daí, a trajetória ser menos espiritual do que o aconteciment

Amor ao próximo possível

Vimos que a impossibilidade do amor ao próximo consiste da intolerância radical do ser humano a qualquer alteridade vinda por parte do próximo. Não suportamos o excesso de gozo do próximo, não aceitamos conviver com a diferença do próximo. É tarefa da moral de rebanho erradicar as diferenças que escapam ao ponto de tornar o “próximo” o mais próximo possível a fim de torná-lo semelhante. O que confirma a impossibilidade de amar o próximo ainda vivo. O amor ao próximo só é possível com o “próximo morto”, depois de erradicar a diferença e proclamada a fantasia do rebanho, quando a alteridade estiver silenciada no interior do próximo, então se obtém a forma de “amor” mais condicional existente, “amor de rebanho”. “Amo-te por seres um como eu mesmo sou”.  O silêncio do rebanho é para evitar o confronto com a verdade traumática, do fluxo louco que não se pode registrar e codificar. Verifica-se uma longa sucessão de medidas pedagógicas e disciplinares para se confirmar um rebanho: uma taxi

Amor ao próximo

Compreendemos melhor por paradoxos, por isso vamos expor duas sentenças contrárias para fazer o efeito necessário: o “ama ao teu próximo como a ti mesmo” e “o inferno é o outro” que se conflita diretamente com a inocência da primeira. Não vamos ficar apenas com as idéias de cada sentença, vamos pensar na possibilidade do encontro com o “próximo” como o Real impossível, ou seja, o próximo é o impossível. Slavoj Zizek, seguindo Lacan, diz que o próximo é o Real e que o encontro com o Real é impossível, logo, “o amor ao próximo” é impossível. Isso porque o encontro com o Real é da ordem de um trauma que todo mundo quer evitar. Vamos pensar que, para (com)viver com o próximo em amor , seria necessário amá-lo como ele mesmo é, aceitá-lo como todos os seus vícios, seus hábitos e suas chatices.  Imagina um “próximo” que fuma vivendo próximo de seu “próximo” que abomina o cheiro de cigarro. Por aí, já se percebe que tal encontro é traumático. Todo mundo quer viver em segurança, no sossego,