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Mostrando postagens de junho, 2013

Cultura

Estou na "Casa Cavé" tomando meu inspirado café da manhã. Esta casa - hoje tem um sobre nome, Manon - existe desde 1942 na esquina da 7 de setembro com a Uruguaiana. No centro do Rio de Janeiro, palco de tantas manifestações políticas e culturais.  Hoje faz uma semana da Grande Passeata, muito provavelmente teremos outra ao final do expediente. Estou lendo - enquanto tomo o café - Florestan Fernand es, uma delícia.  Em 1972 o autor já dizia de uma outra maneira - que a ideologia escamoteia no mito da democracia racial, "a democracia na esfera econômica, na esfera social, na esfera jurídica e na esfera política" (P. 40).  Nesse caso, voltemos para as ruas e praças infinitamente - como bem define Nietzsche o poder da vontade, desejar de tal maneira que se repita infinitamente - de maneira a afrontar o poder que cinicamente diz estarmos vivendo em clima democrático de direito. Sabendo que a causa desse estado de coisas é histórica, o que seria injusto impu

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Nesse universo simbólico chamado linguagem, o homem precisa ter acesso a tudo o que se cria na cultura - e mais ainda, ao homem deve ser concedido as condições de criar cultura. O homem é grávido de linguagens, para usar aqui uma alusão a Paulo Freire. É possível manter uma sociedade iludida por algum tempo com o mínimo de satisfação simbólica, mas não quer dizer que um "estranho elemento" não esteja se formando e emergindo no interior inconsciente dessa sociedade - futebol e samba, não vão saciar a sede de cultura por muito tempo.  Não adianta promover a neurotização das massas com religião, nesse caso, também só pode funcionar para um grupo, durante um tempo. Conforme Geertz, "o homem precisa tanto de tais fontes simbólicas de iluminação para encontrar seus apoios no mundo porque a qualidade não simbólica constitucionalmente gravada em seu corpo lança uma luz muito difusa" (P. 33).  Se formos falar de uma padrão cultural  na sociedade, temos que e

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Vamos pensar em termos semióticos, mas ainda muito longe do que Félix Guattari pensou em termos de "singularidade molecular" - sobre o molecular voltaremos a falar no contexto dos movimentos sociais atuais. Aprendemos a pensar por paradigmas que nos aprisionam em cadeias circulares e não conseguimos pensar conscientemente a maior parte dos pensamentos que são inconscientes.  Conforme Espinosa e Nietzsche - cada um ao seu modo - a consciência é a menor parte da cadeia da atividade mental - não pensamos o universo inconsciente por achar que ele não existe por ser inconsciente e, por nos afastarmos de nossa natureza instintiva por conta da civilização.  A psicanálise em seu momento mais filosófico desvela a existência desse inconsciente "caldeirão efervescente" que existe além do inconsciente reprimido - ele é desejo puro. Nossa natureza anímica que fica subsumida na cultura civilizatória. Junto ao paradigma da "consciência" construímos a ilu

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A questão é que o "bicho homem" nunca se fecha numa definição universal de cultura. Esta só serve como mecanismo de controle estatal que mantém a tão almejada coesão social.  Não que não seja necessária, assim como os "estratos" que organizam os órgãos e compõem uma organização inteira. Mas são lamentáveis quando nos afastam cada vez mais do foco que explicaria os movimentos sociais que eclodem tardiamente, e que se perdem em pautas de blocos prontos.  As questões cruciais sempre se escondem entre os "blocos" recortados, assim como no bojo das complicações os corruptos e os corruptores são esquecidos em meio aos recortes de pautas objetivas.  Mais grave ainda, as razões que permitem o perambular das corrupções, a estatização das corrupções nunca serão analisadas com eficacia. Todo edifício do Estado se funda em bases que sustentam a corrupção e prostituição do sistema inteiro.  Os três poderes são a gênese da manutenção do status quo

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O que estou tentando dizer, através dos autores mencionados anteriormente, é que, a Antropologia e a Etnografia, criaram um vício de Estado, uma concepção que leva-nos a olhar o homem por lentes oficiais presas aos Universais.  Definindo o homem por um consenso universal excluímos de "propósito" as microanálises do tecido da cultura. Como diz Geertz, "a menos que um fenômeno cultural seja empiricamente universal, ele não pode refletir o que quer que seja sobre a natureza do homem é tão lógica como a noção de que, porque uma anemia celular não é, felizmente, universal, ela nada nos pode dizer sobre os processos genéticos humanos (GEERTZ, Interpretação das culturas , 1989, p. 32). Ocorre, no caso de um movimento social de massa, esse mesmo "olhar" antropológico, que virou senso comum, faz recortes universais e impõe o olhar e análises sobre o recortado perdendo de vista os elementos micrológicos que constituem a condição da "explosão das massas"

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Assim como a família edipiana só pode ser explicada como a necessidade de sobreviver a uma dada ordem social - ela está à serviço de um tempo histórico - a ideia do Deus dadivoso se encontra na condição humana de desamparo, seja psicológico e social ao mesmo tempo, logo, Deus é histórico junto com a família.  Quando a nação já se confirma nos ideias nacionalistas - tanto a família quanto o Deus - passam a fazer parte dos ideias da nação. O Deus amoroso se transforma em um Deus da guerra, destruidor e punitivo. E a família se organiza em torno do eixo que garante o Estado Nacional.  O Patriarcado é um mini Estado em família, onde o pai se transforma em governo e os filhos em súditos - a mãe é uma espécie de funcionária que organiza e mantém o funcionamento da coisa, reproduzindo, cozinhando, cuidando.  São os valores do Estado que se reproduzem em família.  A ilusão é ideológica na figura do espaço privativo da família - o Estado já se encontra lá, dentro na intimidade

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O que tentamos a dizer é que o universal é a exigência de sobrevivência.  Não é que a crença em Deus seja ela mesma universal, o universal é a exigência psicológica, biológica e social que impõe uma organização psíquica via símbolos que estruturam a mente para suportar e a dar sentido àquele que se encontra sob ameaça constante de extinção.  Por isso, se explica o fato dos monoteísmos se fundarem nas areias dos desertos.  E, por outro lado, não haver uma concepção uniforme no tempo, de um Deus - existe uma "evolução de Deus" - por que o homem que o concebe como Ente modifica sua condição necessária de necessidade de um Deus no tempo histórico em que se encontra submerso. 

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Voltemos aos postulados da linha semiótica. O universal edipiano - por exemplo, postulado pela psicanálise - falha quando não considera que a universalidade "família edipiana" não é a base da organização social fechada no fato edipiano.  Ela mesma tem como lógica - a necessidade de trocas, reprodução da espécie na pulsão erótica - e manutenção material da vida que - portanto - sofre as modificações decorrentes das necessidades que se deslocam junto com a lógica de subsistência, condições sociais da cultura e dos fatores psicológicos que surgem decorrentes das vicissitudes.

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Nesse caso, o que há de universal escondido nas ideias e que subjaz no ocultamento do falso universal?  A condição primeira é que faz emergir ideias e a criação de entes superiores que possam apaziguar as forças da natureza dentro e fora do homem.  O conceito de cultura deve levar em conta o fato do homem ser esse ser lançado num universo infinito de incertezas (Deseign - no dizer de Heidegger).  O homem faz da cultura a alavanca que pode lhe dar o mínimo de certeza num mundo onde a única certeza é a sua morte

Cultura

Seguindo a linha dos três autores citados, combina-se "suportes universais com necessidades subjacentes postuladas" (Geertz) e que na linha dos Universais Globais não se analisa.  Ao pensar o fato religioso como traço universal da cultura não se chega ao desvelamento desse em relação às condições em que o homem forja a ideia de um Deus que se diferencia tanto quanto o números de humanos que compõe a humanidade.  Nesse caso, já existem indicações suficientes para se postular a produção de sentido da cultura longe da concepção da universalidade de um Deus, mas na realidade que impõe a invenção de deuses múltiplos. O universal subjaz ao interior da criação simbólica e nunca o seu contrário.

Cultura

Aposto no conceito de cultura - a classicamente definida com supostos universais, exemplo de que o homem universalmente busca um Deus - como fato ideologicamente construído para submeter à raça humana.  Nesse caso, Gilberto Freire se alinha à corrente culturalista que acomoda as diferenças culturais a traços do rescaldo do animal hibrido que resultou em brasileiro, mas não leva em conta o fato político mais profundo da colonização que deve incluir a análise de fatores psicológicos, biológicos e sociais.  Prefiro trabalhar com conceitos semióticos de cultura que levam em conta fatores psicológicos, biológicos e sociais - estou falando a partir de Renato Ortiz, Carlos Guilherme Mota e Clifford Geertz.

Neoliberalismo - uma microanálise

Os autores nas Ciências Sociais partem sempre das macroanálises para explicarem o todo, não estão errados, trata-se de um método científico, mas que perde todo o contexto das microanálises que ficam de fora. Mesmo um “gigante” como Max Weber, que reconstrói o “objeto” da sociologia na sociabilidade das relações sociais, não se distancia muito do “fato social” de Durkheim. No caso de Weber, as relações que significam sociabilidade – objeto de análise social -  permanecem em planos da macroanálise.  Vamos trabalhar o exemplo “neoliberalismo”. O fato social que pode derivar de uma cultura neoliberal vai reger relações na economia neoliberal sem levar em conta as microprocessualidades da vida subsumida nos pequenos grupos sociais. Ou seja, ser “livre” para empreender gera uma série de iniciativas isoladas que podem desembocar num sistema de individualidade radical. Nesse caso, como manter a “coesão social” dependente dos fatos sociais de Durkheim se o fundamento da economia gera dispe

Conclusão - IX

Uma coisa é ir ao gérmen, ao Ovo primordial, pela natureza mesma do organismo biológico, voltar ao fluxo germinal pelo inexorável destino com o qual todo ser vivo é convidado a ser confrontado. Outra coisa é ir deliberadamente numa atitude política de direito à vida. Por isso, as crianças “teimosas” não desistem nunca. Elas são como as aranhas que tecem a teia ou como as formigas que refazem o formigueiro. Fazer para si é algo estritamente singular, uma batalha solitária de um privilégio único. Encontro deliberado com a pulsão de morte, no sentido mais vital das grandes caminhadas espirituais. Eis a única guerra dos autores que escolhemos pesquisar. Uma guerra pela vida, não a vida de todos, mas a vida que pede singularidade. Nunca é a destruição, nem de um mínimo ser existente. Porque, se o nagual irrompesse com toda a sua fúria sobre o tonal , destruindo-o completamente, um corpo sem órgãos que destruísse todos os órgãos, tudo se transformaria “imediatamente em corpo de nada”. Ne

Pausa para respirar...

O que é educar nos dias de hoje? No nível público das periferias em franco processo de guetificação? Educar para quê? Para que lado?  Se o mundo se reduziu em uma lógica selvagem de desenvolvimento e se encontra dividido entre dois mundos - dos profissionais altamente especializados de um lado e dos que vem logo abaixo, mas com graduação acadêmica - que excluem uma massa de gente sem formação alguma, que habita áreas depredadas sem valor no mercado imobiliário?  Essas áreas sofrem de uma desorganização social sem recursos do Estado em franco processo de anomia o que faz crescer as atividades depredadoras - furtos, tráfico de drogas, crime organizado e crescente formação de milícias que parecem formar um Estado dentro do Estado.  Nessa realidade que se forma qual seria o papel do educador que se vê só e desamparado?

Conclusão - VIII

Tudo se desloca por conta da conexão com o exterior, com n dimensão a-significantes. Sempre que for ameaçado por uma estratificação, um rizoma pode romper e seguir noutra dimensão. Os cortes demasiadamente significantes, que marcam e atravessam estruturas, precipitam o rizoma em quedas livres, desvios e subidas bruscas, princípio de ruptura a-significante . Os vírus e as bactérias são micromáquinas que funcionam sob a lógica do rizoma, por isso é tão difícil combatê-los. Uma vacina contra um vírus, um antibiótico contra uma bactéria, são armas muito provisórias. Eles fazem rizoma com a vacina e o antibiótico, modificando seu núcleo para n dimensões. Não há um modelo estrutural ou segregativo que resista ao rizoma. A linguística e a psicanálise vacilam porque dependem de uma roda giratória em torno de um pivô, mas o rizoma arranca fora os eixos da engrenagem da psicanálise e da linguística. Um balbucio ou uma gagueira não conta com um eixo central; só existem afetos por trás da gagu

Conclusão - VI

É preciso reler Kafka como se lê um manual, para não esquecer que toda edipianização, na extensão do mapa-múndi , se identifica coma paranoia: Édipo é uma dependência da paranoia e a família é edipianizada para se lançar no mundo. A paranoia é a doença de nossa civilização, que depende do modelo familiar edipianizado. Por isso, “o sonho de acabar com Édipo”, desde o princípio, é um sonho frustrado. Édipo é grande demais. Como uma máquina abstrata, Édipo pode trocar de rosto continuamente, ser cristão ou ateu. Pode-se ver que Édipo sobrevive à desordem da família quando dispensa o pai, mas mantém a figura de autoridade em cada esquina e em cada praça, seja o policial, o juiz ou o padre. Deus é pai. Qualquer que seja a figura personológica, assentamento de imagens personalizadas em uma forma de autoridade, ali Édipo se faz presente. O rizoma é o modelo de pensamento que corresponde e faz girar a dupla face da revolução: o individual e o coletivo. Em nosso caso, não se trata do grande

Conclusão - V

Há uma estratégia quase imperceptível na organização que sustenta as relações de poder; quando tudo se torna generalizado e abarcante, o micro passa despercebido. Mas o micro, somado, constitui partes dissimuladas do todo. No caso, nem mesmo se pode contar com a soma das partes que compõem o todo, pois o micro é maior do que qualquer soma de partes. Cabe à esquizoanálise seguir as linhas de fuga do desejo, linhas compostas de elementos moleculares, micrológicos, partículas nômades. Só na dimensão molecular é que as linhas de fuga podem atravessar o muro por onde passam os fluxos livres. O muro é sempre uma definição maior: uma política maior, uma arte maior, uma literatura maior, uma ciência maior. Toda forma oficial compõe um muro. Uma linha dura que define a lógica binária. Existe uma linha que define a visão do mundo, a árvore do mundo, as formações molares. E existe todo o resto. O resto é o elemento molecular que passa por fora. A prática como micropolítica, rizomática, diagr

Conclusão - IV

No que se expôs, segundo Deleuze/Guattari, percebemos que não existe um saber universal e abrangente a todas as questões, principalmente quando se trata da natureza profunda do homem. Não existe um modo de produção único e dominante nessa área. O que existe é um modo predominante em determinado momento histórico. Se a psicanálise é um modo desse tempo, é preciso dizer que por ela definimos o sujeito heterossexual edpianizado. Arriscamos dizer que a psicanálise nada fez para mudar esse homem narcisista. Na verdade, a psicanálise se impôs como um novo imperialismo ideológico que funciona como aparelho de correção da máquina psíquica. Pretendeu o universal na esteira da autoridade patriarcal, mas se conformou à forma da burocracia que garante a funcionalidade do pai. A interpretação não é revolucionária, mas de uma política de conformação. O psicanalista é um técnico que harmoniza os ruídos da máquina desejante sob a estrutura e/ou o teatro do inconsciente. Uma reprodução – e nada de

Conclusão - III

Uma micropolítica deve adiantar-se, no sentido de que, quando há um grupo, é porque a subjetivação já está formada. Não se trata de uma psicanálise da sociedade; Édipo não é uma invenção da psicanálise. Freud apenas percebeu o que já se encontrava no seio de sua sociedade. O Édipo familiar é uma realidade burguesa religiosa que presta um serviço ao Estado igualmente burguês e puritano. Não devemos perder de vista as inspirações protestantes do capitalismo de mercado. A ética protestante funciona como gérmen capitalista sem abrir mão da família. Cinismo do capitalismo, desorganiza a família e mercantiliza o protestantismo. Lutero, ingenuamente, interpretou a salvação através do “dom gratuito de Deus”, sendo esse dom carregado de bênçãos materiais. Deus morreu no que havia de mais sublime na doutrina de São Paulo: a graça. O maior dos perigos numa política não é deixar de perceber o desvio de um tendência revolucionária imediata; nesse caso, é algo facilmente perceptível. O mais terrí

Conclusão - II

A questão maior é fundamentalmente ética, não como temática abstrata, mas como reconsideração da produção de sentido humano. É urgente resgatar o ponto de vista global, que compreende não a globalização, mas o fato de que nada mais se poderá fazer que não leve em conta a produção de subjetividade global que inclui a cultura, a natureza e os modos de subsistência. O abismo que se abriu entre homem e natureza tem demonstrado a possibilidade real de se arrastar a vida individual para seu centro. Dessa maneira, o conjunto da obra pesquisada nos leva a pensar na emergência do mundo, do mundo que se perdeu. A filosofia de Deleuze/Guattari nos mostra que as condições de nossa época são extremamente complexas, o que leva o pensamento clássico a seu limite. Ou seja, não há fundamento para um mundo que se perdeu, um mundo que não respeitou as regras do fundamento, do fixo e do suspenso. Com a morte de Deus, a morte tardia do Pai, a desordem da família, a nova realidade semovente das frontei

Conclusão - I

Por uma questão metodológica, chegamos à conclusão cientes de que estamos sujeitos às muitas dificuldades que ficaram pelo caminho. O sentido da experimentação com a própria vida está junto ao ato de pesquisa. Isso porque somos afetados por ideias vindas de muitas partes. As imagens nos chegam e nos tocam de autores diversos, a força dos conceitos nos arrastam para longe de nossas convicções. Mudamos nosso rumo inúmeras vezes, ficamos sem rumo noutras tantas vezes. Neste momento, surge a seguinte pergunta: Isso, em si, já não é um modo de praticar uma micropolítica? Trabalhamos com nossa vida. Desfazendo nossas próprias certezas, vendo-as em desmoronamento contínuo. Experimentamos nosso corpo como uma máquina minuciosa, com ligações e filamentos delicados. No momento em que nos encontramos com os “pedaços” vindos de tantas áreas, é impossível não pensar na vida de cada indivíduo que se encontra por trás daquele pensamento, daquela obra, seja de um personagem ou de um conceito. Tra