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Mostrando postagens de novembro, 2017

Intercessores

Não precisamos valorar as ideias, dar-lhes um estatuto de justiça ou justeza, assim como tentaram fazer com a vida, esquecendo que à vida nada falta, não é uma questão de valorá-la ou aquilatar o pensamento, mas de transvalorar os valores.  Os encontros são agenciamentos de ideias e é desses encontros que se extrai a potência dos conceitos. Para Deleuze e Guattari, a história da filosofia sempre se comportou como um agente de poder em relação ao pensamento. Se não se leu Platão, Descartes, Hegel, Kant, Heidegger, como se pode estar falando essas coisas? “Uma formidável escola de intimidação que fabrica especialistas do pensamento, mas que também faz com que aqueles que ficam fora se ajustem ainda mais a essa especialidade da qual zombam”.  É assim que a história da filosofia concebe a filosofia. Essa história é feita como uma forma de “intimidação do pensamento”, uma forma de fazer o pensamento ter receio, um meio de fabricar especialistas da justiça e da justeza. Diferente do

Intercessores

Não se trata apenas do encontro inter-pessoas, mas de um encontro de ideias, de movimentos, de acontecimentos. Desde que saibamos vê-los, desde que com eles nos conectemos, desde em que neles nos impliquemos.  Tais encontros são como um devir, devir vespa-orquídea, no qual cada um encontra o outro ainda que cada um não tenha nada a ver com o outro. É o encontro da diferença que produz um algo entre os dois. Não é o encontro em que um se torna o outro, é o encontro que introduz um entre-dois, é uma novidade, uma nova possibilidade de vida: no trabalho, na família, na escola, na religião, na rua, em qualquer lugar.  Não é cópia de modelo pronto, não é assimilação de um pelo outro, não é interpessoal, é uma mistura em que um rouba o outro e o roubo não é plágio nem cópia: roubar uma potência não é copiar nem de plagiar. Trata-se de se deixar afetar por uma potência que se encontra no pensamento do outro. Assim como Deleuze e Guattari que se roubaram o tempo todo, mas não deixaram

Inconsciente

A força desse inconsciente é a discórdia de sensibilidade que força cada faculdade a “sair dos eixos”.  E esses não são as formas derivadas do senso comum que fazem o pensamento girar em torno de um centro.  Entretanto, para que o pensamento invente, é preciso que o incomparável seja enfrentado.  Sob tais condições, contudo, o pensamento pode adquirir uma força capaz de criar as condições materiais que o engendram.  Só assim, o pensamento não se percebe mais como um estado, mas como um devir, como um processo construtivo e criativo. Segundo Badiou, em Deleuze, O Clamor do Ser, “o Fora como instância de força ativa, apoderando-se de um corpo, selecionando um indivíduo, o ordena à escolha de escolher”.  Depois, Badiou conclui com Deleuze: é “justamente do autômato assim purificado que se apodera do pensamento do Fora, como o impensável no pensamento”.  As condições do pensamento dependem de uma depuração, de um descentramento que só as forças da imanência podem o

Inconsciente

Mas o Fora não pode ser confundido como “o algo” que vem para “o dentro” e, pronto, põe-se a maquinar o pensamento.  O fora da “ilha”, nas palavras de Castañeda. É o todo que rodeia a ”ilha”, tomando como ilha a noção desse autor, tudo o que sabemos e pensamos, a forma como nos vestimos, fazemos religião, acreditamos nas coisas e delas representamos.  Algo parecido com o que Deleuze/Guattari consideram. “O fora não tem imagem, nem significação, nem subjetividade” .  O Fora, só poderia se referir ao fora de toda representação, no qual o pensamento é forçado a pensar por que algo que ainda não é pensamento desorganiza a consciência, antes de qualquer imagem, portanto, longe dos riscos da representação.  Um Fora de qualquer mundo, o pensamento não pode vir de nenhum “dentro”, “ele vem desse Fora, e a ele retorna; o pensamento consiste em enfrentá-lo.

Inconsciente

No que tange ao inconsciente como produção primária, Pardo, seguindo Deleuze/Guattari, associa-o com a primeira caracterização que Freud faz do inconsciente, como “processo primário”.  Nele, a energia, a libido, a energia do Isso não está ligada a nenhum objeto, nem a nenhuma função. É uma energia livre que circula libido em estado puro.  Ainda somos presos aos modelos de observação centrados, e o destronamento desses, segundo Oliveira, vai “depender de uma profunda renovação de nosso entendimento sobre a composição e a estruturação do mundo físico(...)

Desejo

Aristófanes é um escritor de comédias e de sátiras políticas, um poeta cômico. Aristófanes, através de um mito, discursa sobre o amor: no início havia três gêneros, um masculino, um feminino e um terceiro gênero andrógeno. Cada indivíduo, no início, era uma espécie de duplo, ou seja, tinha o dobro das coisas que nós temos: tamanho, órgãos, membros, etc. Diz Platão: “o homem de então tomava a direção que lhe bem parecia; (...) movimentava-se muito depressa, riscando-se círculos no ar (...). Eram por conseguinte de uma força e um vigor terríveis e uma grande presunção eles tinham”. E, segundo Aristófanes, esses seres, dessa forma unidos, juntavam tamanha força e presunção que tentaram, unidos entre eles, fazer uma escalada aos céus. Depois de muito refletir, Zeus, que era o maior dos deuses, decidiu tomar a seguinte deliberação: cortar cada um deles em duas partes, assim, obteria uma dupla vantagem: os homens, sendo mais numerosos, seriam ao mesmo tempo mais úteis e, por terem sofrido u

Desejo

Para pensarmos o desejo relacionado a objeto, faz-se necessário uma breve consideração sobre o que se passa na cena de O Banquete. Ao visitarmos esse texto, damo-nos conta de que ele foi produzido há 2500 anos. Entretanto, falar sobre O Banquete é abordar uma situação ou um problema de hoje. Não estamos nos referindo a uma história ou a uma investigação arqueológica: O Banquete de Platão nos fala de uma questão atual ou, pelo menos, podemos dizer que há algo de atual nesse diálogo. O que se passa na cena de O Banquete é o seguinte: há um jantar comemorativo na casa de um poeta (Agátão) que acaba de ganhar um prêmio num concurso de tragédia. Nesse jantar comemorativo, decidem, ali mesmo, instituir um novo concurso, Não é mais um concurso de tragédias, mas um concurso de oratória, cujo tema central deveria ser o amor; cada um deveria discorrer sobre ele, e o mais belo discurso seria o vencedor. Os discursos são em número de sete, mas vamos refletir apenas sobre dois dos sete. São os mai

Desejo

O conceito de desejo tem uma longa e importante tradição histórica no Ocidente e está dividida em duas versões principais. A primeira estaria ligada ao modelo platônico e que, mesmo na atual leitura psicanalítica, não perdeu a sua tendência de se reportar à insuficiência da falta. E, para rediscutir a teoria do desejo, não poderíamos deixar de fora a versão que vem sendo tecida por Deleuze/ Guattari, que se encontra desde Espinosa, e que, em nossos dias, é o tema do Anti-Édipo. Essa importância é, sobretudo, ética, porque a imagem de desejo, dependendo em qual se assume, contém implícita ou explicitamente, valores que tendem a conduzir a existência de um modo criativo e afirmativo ou de uma forma moral e sedentária. O Anti-Édipo apresenta o conceito de desejo no entrelaçamento com a própria produção da realidade e é por isso que só pode ser entendido a partir dessa exterioridade que se faz presente nos acontecimentos da sociedade. Rever essas concepções do desejo implica também em red

Maquinismo

Na política há o uso indevido de uma cosmogenia. O desejo de dominação funciona na base da perpetuação do modelo imitando o organismo; mas trata-se de uma organização de maquinismo sombrio. Nesse sentido, um sistema não orgânico pode se perpetuar por longos períodos, engendrando sobre si acoplamentos de subsistência. A diferença que mantém com o orgânico é a ilegitimidade da organização que não consegue, ao mesmo tempo, a busca da homeostase que pertence aos organismo (Branco - no café).

Maquinismo

Não há como tornar o mecanismo da máquina técnica em maquinismo orgânico - o primeiro depende de organizações transcendentes; o segundo é imanente a suas infinitas conexões internas (Branco - no café).