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Outis - ninguém

    Literalmente significa ninguém, substantivo masculino da língua grega, referido nos comentários de Haroldo de Campos na Ilíada de Homero, a respeito da falta de hospitalidade dos Cíclopes . O viajante estrangeiro era tratado como um “ninguém”, a-patria , sem significado social, sem valor algum, sem dignidade humana para ser visto ou reconhecido como tal. Bom lembrar que, personagens na mitologia Grega, com suas atitudes e caráter, sempre re-presentam, as forças que agem nos indivíduos e/ou na sociedade. Tais características se tornaram visíveis em nossos dias, quando refugiados de guerra, de pestes ou da fome, são tratados em países – geralmente responsáveis por esses danos – onde buscam refúgio, mas são tratados como NINGUÉM . Lembro de 2017 em Veneza, turistas filmam um refugiado africano se afogando e não fazem nada, provavelmente, ele era NINGUÉM . [1]   [1] https://oglobo.globo.com/mundo/em-veneza-turistas-filmam-refugiado-africano-se-afogando-nao-fazem

O inferno

Estamos em meio a uma pandemia. Essa coisa parecia distante, algo medieval, mas não, está entre nós hoje. Anoiteceu depois de um dia longo e estranho, a ordem das coisas foram alteradas. As ruas outrora cheias, hoje estavam quase desertas. Apenas os animais de rua andavam livremente: cachorros vira-latas perfeitamente adaptados à vida urbana e alguns gatos noturnos. A praça, turva de uma neblina solitária, cedeu lugar às cores das flores que exalam perfumes diversos. Ao anoitecer a "dama da noite", com seu cheiro adocicado, cobre a extensão dos espaços vazios dos humanos. É o perfume dominante nas noites frias. Deve ser a razão de ser, da "dama da noite," nas noites frias que antecedem o inverno na Serra. É delicioso andar solitário nesses dias, em que as pessoas, por pavor da estranha coisa no ar, deixaram as ruas e se refugiaram nas casas. Nesses dias, descobrimos a ameaça real da presença nas pessoas. Muito de repente ficou assustador entrar em contato com e

As flores

As flores são como em - Alice através do espelho - elas realmente podem falar, mas só o fazem com pessoas com quem valha a pena.  Talvez elas falem mais com as crianças e com os animais. E um pouco diferente, mas falam com os loucos.  Sim os loucos falam com as flores numa linguagem que elas entendem. As flores e os Deuses entendem o que os loucos dizem. É preciso ficar louco para entender as flores.

Vírus

Um organismo é sempre uma condição múltipla de engendramentos possíveis. Mas sendo organismo, será sempre mútiplo de um ou de dois. Por outro lado, a vida é sempre condições de multiplicidade infinita, não numérica - como dito no primeiro caso - mas de infinitas possíbilidades. Trata-se de uma equação N-1, ou uma singularidade subtraída do todo. Daí, toda dificuldade de enfrentamento em relação a um vírus ou, na mesma proporção, em relação a uma bactéria. Enquanto for o combate de um organismos que se subdivide em multiplos estatísticos (2; 4; 6; 8 etc), a ciência poderá lograr algumas vitórias temporárias. Mas na outra ponta, é a vida que retorna em multiplicidade infinita. Se a ciência, como concebemos, sempre lida com "um" ou "dois", ou seja, sujeito e objeto, como daria conta de uma multiplicidade infinita que é não-mensurável?  Concluindo, ou mudamos nossa forma de lidar com a vida, ou a nossa será subsumida por outras.

Dilema do pão

Hoje, pela primeira vez neste ano, fui à padaria. Fui cedo para evitar o aglomerado de gente na borda do balcão, pessoas ávidas por pães quentes. Tinha apenas uma senhora, mas ela era o prenúncio das velhas coisas. Já havia visivelmente irritado a funcionária que atendia ao balcão, e a mim também. - Você tem desse, um pouco mais claro? Perguntou apontando para um tipo de pão que é naturalmente escuro, feito com açúcar mascavo. - Se você tiver desse, procure um menor, menos pesado, com menos massa. Continuou ela articulando sinônimos e adjetivos sobre o mesmo pão. Não muito cozido, mas que não seja cru, nem de casca grossa – Daí em diante, a dita senhora começou a contar uma história sobre o tipo de pão que o marido gosta, mas dando características do formato, cor, tonalidade, sabor aroma e outros atributos do pão em questão. A menina que atende, já demonstrando impaciência do lado de lá, tentava em vão fazer a mulher decidir sobre o pão. Eu, já frustrado por pensar que se