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Mostrando postagens de maio, 2011

Eu te amo

O termo que se tornou popular, “Freud explica”, deveria incluir outro mais abrangente, “Lacan explica Freud”. O que faz com que esses dois pensadores ocupem um lugar tão importante na história do pensamento? É que eles realmente explicaram ou chegaram muito perto de explicar tudo o que se passa nos escombros de nossa mente. Vejamos por exemplo a expressão muito comum entre o amantes, o “eu te amo”. Seguindo o pensamento dos dois, o que o indivíduo está dizendo com o “eu te amo”? Começamos desvendado o enigma do “Eu que pensa amar” nas alturas de um apaixonamento. O sujeito faz de si uma auto-imagem ideal, aquilo que ele gostaria de ser e, ao mesmo tempo, como gostaria que os outros o percebessem. Seria a imagem que o indivíduo usa para impressionar o outro. Esse outro é o que vigia e motiva o indivíduo a dar tudo de si para o impressionar. Concluímos que o “Eu ideal” é imaginário. Mas o indivíduo em questão acredita que ele é isso que imagina. Essa imagem nasce da relação com um out

Justiça cega [João, 8: 1 – 11]

No texto da referida “mulher adúltera” fica evidente a figura de Artemis [deusa da justiça – Diké ] com uma venda nos olhos, uma analogia à cegueira da justiça. Não do princípio de imparcialidade desta, mas da patologia da mesma. O que é justiça? O que é justo? É dar a cada um aquilo que lhe pertence, seja um bem material, seja uma atribuição na justa medida, como demonstrou Aristóteles na metáfora da régua de chumbo, um instrumento métrico que pode fazer os contornos da matéria medida. No caso bíblico, trata-se de uma mulher pega em flagrante adultério, baseada na lei mosaica do Antigo Testamento que condenava os adúlteros a morrer sob pedradas. Toda lei é cega, por si só não pode ser contextualizada. É a fria letra da prerrogativa legal. A mulher teria de ser morta a pedradas, como ainda acontece em algumas teocracias fundamentalistas. A condenada deve ser enterrada numa praça pública deixando-lhe apenas a cabeça acima do solo para receber, indefesa, os golpes das pedradas da turba d

O filho pródigo (Lucas, 15: 11 – 32)

Existe outra maneira de ler a parábola do “Filho Pródigo”, além da interpretação que se fez dela?   Sob   outra perspectiva, o centro da questão pode não ser o de uma moral de servidão, como a cristandade interpretou, mas de uma Ética de afirmação. O que importa não é o filho que fica, mas o filho que vai. Os filhos existem para ir mesmo, e muitas vezes a ida é traumática, sem planejamento e sem acordo entre as partes, quando é assim, são os pais que ficam sofrendo em casa e o filho vai cheio de culpa. O que os pais não entendem é que eles são apenas meios para os filhos entrarem no mundo. São meios para que a ida para o mundo seja a menos traumática possível.   O filho pródigo é um forte, ele está enfrentando toda a concepção de família, de igreja e de mundo. Uma solidão de uma escolha tão radical para abrir caminhos no mundo não foi possível ao filho que fica em casa. Mas é o filho pródigo que vai abrir caminhos para o irmão sair mais tarde. Nada aconteceria no mundo se só existisse

Filosofia cristã

Existe uma filosofia cristã? Pode-se dizer que existem filósofos cristãos e teólogos com um pensamento filosófico: São Tomás de Aquino, Dun Scott, Blaise Pascal, Kierkegaard, dentre muitos outros. Esses, quando filosofando, fazem refletir o compromisso que têm em relação às suas crenças, o que pode comprometer em certo sentido o exercício do pensamento livre. Vamos tomar um em especial que não é considerado filósofo, mas criou um sistema que, assim como Platão, dominou o ocidente,   São Paulo dos Atos dos Apóstolos e das Epístolas. Como filósofo, ele tem as prerrogativas de um Platão traduzido para o povo, ou seja, aquilo que Platão teoriza, no seu motivo de seleção das cópias bem fundadas (teoria das Ideias), tem uma forte semelhança com a cristologia paulina. Platão com as Ideias ícones, São Paulo com Cristo, o Modelo.   Ideias bem fundadas, Cristo o fundamento da Lei. Platão quer distinguir a essência e a aparência, o inteligível e o sensível, a ideia e a imagem falsificada, o