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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

Mundo Tonal – a potência mística

            Depois da despedida da imagem da mesa com seus objetos, com sua toalha e Deus como o tampo da mesa, Castañeda se afasta do mundo das representações das coisas; não é a representação clássica, mas esse mundo a que nos referimos por palavras e gestos. Sim, porque até Deus, quando se faz objeto do pensamento, cai nas malhas da representação. Deus é sempre o pai celeste, com suas prerrogativas fechadas em emoções familiares. Deus é parte de uma santa trindade. Mas há um deus nagual, um deus tonal, e ambos estão dentro de nós, diria o índio. Mas isso não importa; a relação dentro e fora, neste caso, cairia na dualidade sujeito-objeto. O fato que realmente importa é que, em situações específicas, o mundo nagual vem à tona. “Sua emersão, porém, é sempre inadvertida. A grande arte do tonal é reprimir qualquer manifestação do nagual.” [1] Mas é o tonal que deve ser reduzido ao mínimo possível. “O tonal parece ter uma extensão disparatada: ele é o organismo e também tudo o

Conclusão...

O que a experiência dos experimentadores indica, em relação às drogas (mescalito, erva do diabo etc.), é que eles entram nesse estado de afecção pura em relação ao corpo. Um corpo sem referências fantasmáticas, sem juízos ou que o subjugue é um corpo sem órgãos, plano intensivo de puro desejo.  O corpo sem órgãos só chega através de um conjunto de práticas; na verdade, não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele, porque ele é um limite puro. Diz-se “que é isto – o CsO –, mas já se está sobre ele, arrastando-se como um verme, tateando como um cego ou correndo como um louco, viajante do deserto e nômade da estepe”. [1] A consciência é atraída por alguma coisa que não se encontra em si mesma. Seria esse lugar sem fronteiras, o “mundo de anarquias coroadas?”.  A consciência se encontra limpa de imagens para que as forças ativas possam ser reagidas à consciência, e a pulsão de morte possa cumprir seu papel de violência que obriga o pensamento a criar. Diz Castañe

Experimentação com drogas III

São sonhos sem sono ao modo kafkaniano. É preciso estar de olhos bem abertos para trabalhar os sonhos. Longe das conotações psicanalíticas e/ou apocalípticas, em que os sonhos são de sentido interpretativo, os sonhos em sono lançam o sonhador à falta de sentido, à “melancolia ou até mesmo a uma depressão suicida”. [1] À sua maneira, Castañeda busca um corpo sem órgãos. São as mesmas subidas e descidas perigosas [2] para produzir para si um corpo sem órgãos. “Não é tranquilizador, porque você pode falhar. Ou às vezes pode ser aterrorizante, conduzi-lo à morte.” As doses de prudência não têm relação com o medo; o medo espanta os devires sensíveis. Tanto Deleuze/Guattari quanto Castañeda falam de “agitação molecular”, espaços-entre que racham o Eu identitário, portanto alteração de estados de consciência. “Argumentou que eu não deveria perturbar o local de poder com sentimentos desnecessários de medo ou de excitação.” [3]   É uma questão de embriaguez. Longe das infrutíferas discu

Convicto IV

Ao modo "homem do subsolo", tenho que confessar uma coisa, digo essas coisas dando risadas:  os homens de convicção separam os homens das mulheres em pensionatos e em cultos religiosos por razões óbvias, de impedirem que esses façam sexo.  Não chegou às suas mentes convictas que as meninas fazem sexo entre elas, bem como os meninos, protegidos pela máxima dessa convicção idiota?

Convicto III

Em determinados lugares desse nosso mundo, de homens de convicção, existem "comissões deles" que de decidem, por convicção, amputar o clítoris das mulheres.  Eles têm convicção de que o Deus deles abomina o prazer advindo desse órgão especialmente feminino.  Se o clítoris, é um pequeno pênis, segundo Freud, os pênis que se desenvolveram também deveriam ser extirpados por prolongamento da convicção.

Convicto II - pausa

O homem de convicções é semelhante ao "homem do subsolo" de Fiódor Dostoiévski:  olha pelas frestas da convicção, não articula o ontem com o hoje a não ser pelas suas convicções.  Ele é um juiz dos atos humanos, um pivô que gira sua lâmina para todos os lados.  Vi homens de convicção que tinham a convicção imbecil de que as mulheres não podiam raspar os pelos das pernas.  E as pobres miseráveis andavam a contra gosto com suas pernas cabeludas.  O homem de convicção tem a convicção rígida de que ele foi designado por Deus para determinar o que deve e o que não deve em relação às mulheres.

Convicto

Penso num homem de convicções, nesse homem de  memória rochosa que nada digere, nesse escravo do assim diz o Senhor.  Ele é um perfeito convicto das estórias que lhe contaram. É um rato que se esconde no subsolo de suas convicções.  Esse é o verdadeiro sedentário, obeso de convicções. Nem uma rocha é mais paralisada do que o homem de convicções.