Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2016

Massa

No mundo tecnológico, somos aquilo que a comunicação de massa nos convida a ser. Corpo e alma (mente) são plásticos em relação à indústria de massa. O formigueiro humano é um grande rebanho indiferenciado. As massas atuais nunca se comparam às massas revoltas dos séculos (XVII - XIX). O que existe hoje é uma juventude mimada, uma burguesia mimada. A juventude de outrora, revolucionária, se encontra ocupada em clicar curtidas na menina mais "gostosa", vazia de mais, oca e iletrada de mais - mesmo a que frequenta escolas burguesas - A indústria do espetáculo dominou as massas mimando o ego que nunca quis ser contrariado (Branco - café).

Massas

As revoluções tecnológicas que não param de acontecer, criam esse novo homem autômato sem que ele mesmo o saiba. Em tempos de psicologismos, pensávamos numa definição de auto-estima baseada em fatores intra-psíquicos. Era preciso muita análise para que um sujeito se percebesse em seus valores. Nos dias atuais, as adolescentes carregam o fardo de ter que se postar libidinalmente para o público seguidor, suplicar "curtidas e comentários", para que a alma gratificada possa viver mais um dia de auto-estima ilusória. Estão todos vazios e precisam preencher a alma com o vácuo fugaz e furtivo da quantidade fluída de "amigos" que evaporam continuamente - como bem profetizou o velho Marx: "tudo que é sólido se desmancha no ar" (Branco - no café).

Massa

Tenho uma desconfiança sobre a indústria de massa - tenho todas - penso que tal produção de subjetividade quer nos levar ao nível animal mais rasteiro. Ou seja, aquele em que se esquece absolutamente - biologicamente - tudo o que se viveu no dia anterior. Se não for esse o objetivo, um outro não menos devastador, seria o de não lembrar de nada que constitui um humano que pensa - é o que percebemos no formigueiro humano. Ele anda como autômatos, sob o controle do trabalho miserável, das infindáveis contas a serem pagas e do uso robotizado do celular (Branco - no café).

Massas

Os três séculos de Revoluções europeias, marcadas pela razão cartesiana, não serviram além de mostrar suas contradições internas. Tudo faz crer -que a "razão" não pode ser prospectiva quando se trata de condições humanas - mesmo a França, centro das maiores revoluções, vive suas condições de des-razão quando se trata de migração, questões raciais, minorias, urbanização etc. Só podemos pensar metodicamente, quando usarmos a razão como instrumento de análise retrospectiva - a razão histórica, a sociológica, a antropológica - Desse modo, a solidão de um homem em sua cidade terá que ser levada em conta (Branco - no café).

Massas

Minha solidão pelas ruas do Rio de Janeiro - ou a solidão de Ortega Y Gasset - pelas ruas de Paris, não são registradas como problemas históricos, assim como os biólogos registram os problemas com os mosquitos que invadiram a cidade. Os problemas históricos deveriam ser analisados por dentro, o que incluiria esse fato da população ter se transformado em massa-humana, onde todos são solitários no meio da massa (Branco - no café).

Massas

Andando pelos ruas no centro do Rio de Janeiro, no meio do formigueiro humano, em busca de alguém para conversar sobre os grandes temas da cidade; não encontro ninguém além das estátuas. A cidade se transformou em multidão-massa-humana sem diferenciação entre pessoas. Penso que devo iniciar uma conversa com as estátuas de mármore (Branco - no café).

Linhas

Não pensamos no fato de existir sobre nossas cabeças, milhares de "estradas" cruzando o espaço sem que possamos ver, ouvir ou sentir. São ondas de rádio, matéria física que levam e trazem comunicações para o mundo inteiro. Segredos de Estado, segredos privados de pessoas individuais, banalidades, futilidades do dia a dia. Mas também coisas sérias, pesquisas científicas, informações sigilosas, dados sobre a economia do mundo, informações sobre politica dos impérios (..). Nada acontece sem que não passe sobre nossas cabeças; mas não podemos imaginar como tudo acontece (Branco - em férias).

Tempo

A eternidade da beleza da natureza devia nos incomodar - se nela prestássemos mais atenção - nós realmente envelhecemos; entretanto, a natureza é a eternidade que se espera em vão para si (Branco - em férias).

Tempo

Desde cedo não tenho ilusões quanto ao mundo - posso ignorar a grandeza e os mistérios que ele esconde em segredo - mas nunca acreditei de fato nas coisas que os adultos tentaram me fazer acreditar quando criança. Hoje sei que é tarde de mais para cair nas ciladas das crendices desnecessárias. Quero continuar envelhecendo feliz e, um dia com serenidade, escolher um lugar para morrer em paz - assim como as folhas secas que se soltam das árvores no outono dando lugar para uma nova folhar verdejar no mundo que permanece (Branco - em férias).

Tempo

Nesse momento precioso, contemplo de minha janela da casa de férias, uma montanha que se molha por dias com a fina chuva que não cessa. Posso perceber o verde fusgo que se utiliza do silêncio para crescer e se tornar em arbustos de acolhimento aos sabiás que retornarão no próximo verão. Dessa cena singular, retiro meu conceito de belle éternité - alguns esperam em vão a eternidade que já está aqui embaixo de nossos olhos (Branco - em férias).

Tempo

Depois de um tempo, se não cuidarmos, desenvolveremos hábitos que freiam a nossa criatividade - cada ano que passa podemos ficar mais ignorantes, ou mais sábios. Depende de cada um (Branco - lendo Simone de Beauvoir).

Cidade

Percebi nesses anos que a cidade se desenvolveu em uma direção, não cresceu, não evoluiu; apenas se desenvolveu em torno de um eixo central. A catedral continua como pivô. Depois, o comércio entremeado de ruas e vielas. As casas de saúde, o hospital e, nos fundos de tudo, o cemitério cresceu junto com a população. Não há nada mais justo na natureza do que fazer nascer e fazer perecer tudo que nasceu um dia. Daí, se percebe o sentido único da eternidade. Só é eterno aquilo que muda de intensidade, ou seja, eterno é a mudança (Branco - relendo Simone de Beauvoir).

Neurose

Hoje sabemos que a neurose é o possível que uma mente pode fazer diante do excesso de Real. Os mecanismos de defesa recobrem o Eu com sintomas para que esse não se rompa em sua frágil integridade. Toda essa barganha dos processos mentais, provam uma ineficiência de nossa formação. O universo simbólico de nossa educação não pode atingir as vicissitudes de nossas vidas; por isso, somos loucos ou neuróticos, que é quase a mesma coisa (Branco - no café com Zizek).

Neurose

Dizendo de outra forma, a neurose é um revestimento de defesa das ameaças do excesso de Real cujos traumas nos deflagram. Pensamos estar arrumadinhos dentro de nossa caixa psíquica. Ou, acreditamos ter uma caixinha interior que nos mantém arrumadinhos em nossas vidinhas de merda. Mas sempre somos visitados pelo Real que nos arrasta para suas profundezas desérticas de seus excessos. Nesses momentos, a mente que deveria representar nossas aflições, angústias e temores - como se dissesse, "não tenho nada a ver com isso" - nos deixa à deriva (Branco - no café).

Educação

Educação de crianças deveria ser essencialmente dramatizada. As frases e os conceitos que se ensinam em salas fechadas, não fazem o menor sentido para as crianças. Os dramas de uma cena teatral podem ser representações da vida real das crianças, por isso, psicólogos induzem as crianças à representação de seus dramas reais por meios de desenhos e dramatizações com brinquedos. Dramas reais são revividos em representações e, podem reorganizar sentimentos, pensamentos e emoções (Branco - no café com Walter Benjamin).

Educação

O que foi dito sobre a "criança proletária" no início do século XX, não pode ser entendido hoje da mesma maneira - essas crianças em nossos dias são invisíveis - naqueles tempos, com seus casacos surrados e impróprios para o frio europeu - elas ajudavam nas colheitas de batatas, no chão sujo das fábricas, nas minas de carvão (Branco - no café com Walter Benjamin).

Pessoas

Há no mundo, basicamente três tipos de pessoas; as que produzem o acontecimentos; as que assistem os acontecimentos e as que perguntam: o que aconteceu? (Branco - pensando as pessoas).

Obediência

O holocausto, as guerras, os extermínios, as destruições de vidas em massa foi possível por causa da obediência - os tiranos dizem, "eu estava apenas cumprindo ordens" - então, me pergunto, por que fazemos da obediência o fundamento de toda educação? (Branco - na madrugada com H. Arendt).

Obediência

A obediência é o "estado de agente" social que um indivíduo assume. Em meio a uma ação, todo indivíduo tem a opção de escolher obedecer ou não, mas como "agente" ele decide obedecer para cumprir seu papel social. Penso, nesses casos, que a sociedade produz marionetes que percebem os fios que as movimentam (Branco - na madrugada com Hannah Arendt).

Tempo

Vivemos dentro de um tempo puro, ele apenas flui, sem marcações - sem natal, sem ano novo, sem carnaval, sem páscoa etc. - somos nós que impregnamos o tempo com nossas "brincadeirinhas" - para que tenhamos a ilusão, sem a qual não suportaríamos viver. Por isso, esses ritos são sucessivos, acabamos de viver o fim de ano e é preciso introduzir rapidamente o carnaval, depois outra coisa e outra..... Ninguém suporta o Real Puro (Branco - no mais delicioso café).

Tempo

O tempo puro não volta. Nossa mente tem a vontade da permanência das coisas, por isso, a repetição de nossas tradições. O tempo Real flui na direção da seta sem jamais voltar - então o "never more" do "Corvo" de Allan Poe, é o Real que nos esmaga - pense no trágico, "nunca mais" a juventude de nossos anos; nunca mais o grande amor que se foi (...). Estamos prensados entre um futuro que não chega, um passado que se foi e um presente que nos escapa (Branco - no melhor café).