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Desejo

A divisão do mundo, operada por Platão, instaura uma separação no seio do ser, operando, com seu método da divisão, uma diferença de natureza entre dois planos.  De um lado, estabeleceu um plano divino constituído por Ideias, mundo ideal acima das estrelas, mundo das essências ou puras formas inteligíveis, lugar dos modelos superiores que implicam uma realidade verdadeira que existe em si e permanece imutável, suspensa na identidade a si mesma, apreendida apenas pelo pensamento.  De outro lado, o plano dos corpos sensíveis, mundo terreno das aparências, da matéria, das imagens que se refletem nos corpos sublunares, lugar dos fluxos, das mudanças e devires, sempre diferentes do que são, região inferior apreendida pela experiência sensível e que, no melhor dos casos, conquista uma realidade segunda, isto é, torna-se cópia, caso se deixe ordenar e medir à semelhança do mundo modelar das alturas. 

Desejo

E, Aristófanes continua o seu relato dizendo que a cada um que Zeus cortava, ele mandava Apolo voltar-lhe o rosto e a banda do pescoço para o lado do corte, afim de que contemplando a própria mutilação fosse mais moderado.  Entretanto, o que nos interessa nessa história é o desfecho. Eles morriam de fome e de inércia em geral por nada quererem fazer longe um do outro.  Platão parte de uma antiga natureza para lançar o amor (desejo) como veículo de reencontro do complemento perdido.  Ele apresenta o amor como resposta para curar a ferida do corte. Nisto consiste o amor, nesta busca pela restauração, busca pela inteireza originária, busca de uma completude perdida.  O que move os seres nesse discurso de Aristófanes?

Desejo

E, segundo Aristófanes, esses seres, dessa forma unidos, juntavam tamanha força e presunção que tentaram, unidos entre eles, fazer uma escalada aos céus .  Depois de muito refletir, Zeus, que era o maior dos deuses, decidiu tomar a seguinte deliberação: cortar cada um deles em duas partes, assim, obteria uma dupla vantagem: os homens, sendo mais numerosos, seriam ao mesmo tempo mais úteis e, por terem sofrido um corte em forma de punição, seriam mais submissos.  Isso permaneceria como uma ameaça de uma nova intervenção dos deuses. O que temos aqui é uma ameaça velada no mito: transformar todo mundo em um “monstro”, um aleijado para não serem presunçosos e não ameaçarem tomar de assalto os territórios celestiais que é de domínio exclusivo dos deuses.

Desejo

A ilusão é acreditar que o poder e o desejo a ele só se encontrariam com aqueles que ocupam cargos influentes: magistrados, governantes, o chefe de polícia, etc.  O poder está difuso e pode ser exercido em todo lugar onde haja relações: entre professores e alunos, entre médicos e pacientes, em casa, entre os membros da mesma família. Foucault adverte para esse exercício do poder fascista que habita dentro de todos nós.

Desejo

Tanto La Boétie, Espinosa e, mais recentemente Reich, advertiram quanto a essa questão.  As massas, normalmente, não são enganadas pelos seus governos, elas desejam e mendigam uma parcela do poder. Foucault, em sua introdução ao Anti-Édipo, edição americana, adverte- nos quanto ao fascismo interiorizado e presente em todos nós.