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Mostrando postagens de fevereiro, 2013

Territórios

Os autores do Anti-Édipo usam termos da geografia para dizer do dinamismo da vida. Não são metáforas que aludem à geografia, trata-se da realidade das linhas que traçam mapas intensivos de territórios reais. Não é o mesmo território da natureza sedentária dos Estados, são planos que se sobrepõem às linhas do mapa territorial do Estado. Dentro das linhas de um mapa territorial existem gradientes – cruzamentos intensivos de linhas virtuais-reais . Gradientes são mapas de Quantidades intensivas, cruzamentos de linhas que se movem em velocidade infinita – linhas, sempre linhas. Da mesma forma que existem meridianos, latitude e longitudes no mapa da Terra, existem linhas se cruzando nos mapas intensivos. Uma geografia da física que não é visível, mas que está entrecruzada com a geografia dos mapas do Estado. A natureza se encontra entrecortada de mapas que compõem as sobreposições de linhas quânticas – gradientes. São diferentes formas de dizer da mesma coisa. Para exemplificar, pod

Estratos

Em todo lugar no mundo tem as estórias infantis que os adultos costumam contar para as crianças. Existem as boas e as más estórias. Uma pedagogia que não tem nada de inocente, mas que serve aos seus fins – criar medo do castigo e fazer com que as crianças obedeçam as autoridades constituídas -  A história das estórias revela que, do “bicho-papão” ao “Éden bíblico”, trata-se da criação e da organização do pensamento – são formas de adaptação das estruturas da aprendizagem à moral vigente – uma taxionomia que leva em conta a capacidade de aprender e assimilar do indivíduo em seu desenvolvimento. Do simples ao complexo, são os mesmos objetivos de ensino. Existe uma política de dominação no conteúdo das estorinhas infantis, assim como, existem propósitos de submissão nas estórias dos adultos. A tramoia de submissão começa cedo, na formação de uma “consciência”.  De um lado, existe o modo imanente da formação do aparelho psíquico, do modo como forças da natureza se organizam em

Máquina burocrática

As organizações são necessárias e úteis, até certo ponto, mas lamentáveis em muitos outros. Organiza-se o mundo a partir da subjetividade dos indivíduos para, depois, planificar a vida social. Uma organização religiosa, por exemplo, tem toda lógica de funcionamento baseada em estrutura burocrática. Tem um corpo complexo, com seus departamentos e subdepartamentos - composição burocrática que faz tudo funcionar como se fosse coluna de um grande corpo. Da sede da organização religiosa às pequenas capelas espalhadas pelo mundo, é a mesma organização burocrática que ajusta e distribui papéis. De Roma para o mundo, seja lá onde estiver localizada a sede das igrejas. É o “cérebro” das disposições burocráticas para o resto do mundo. “Centro nervoso” de onde partem os comandos para os demais “órgãos do corpo”. Um sistema doutrinário é pensado a distância – a teologia de uma organização religiosa funciona como máquina abstrata da religião – homens de saber traçam a rota dos rebanhos e bu

Sedentarismo X nomadismo

O personagem Bartleby do breve romance de Herman Melville (1819 – 1891), aquele que inventa a fórmula - I prefer not to do - se cansou de ser um sedentário. Não é o sedentário que repete tarefas burocráticas anos adentro sentado num biombo da repartição, assistindo a vida passar e engordando - como fazem com os porcos castrados –  Pensamos em sedentários nessa correlação, com animais castrados, esses que engordam, se deprimem e perdem toda a libido de viver – mas o “nosso” sedentário é conceitual. Castram  animais para que alcancem altos preços no mercado de vésperas de natal. “Castrar” pessoas é o mesmo que fazer delas sedentárias em contradição com as “condições de possibilidades” que as cercam. Não é do sedentarismo da "engorda" que estamos prestes a falar - ainda estamos nas “salas das máquinas”. O sedentarismo é uma consequência das máquinas despóticas e paranoicas. Uma máquina despótica conquista um território, depois, faz a máquina paranoica trabalhar. O o

Máquina paranoica

O modo de operação da máquina paranoica é o mesmo da máquina de guerra. – são sempre máquinas desejantes. A diferença é no nível dos agenciamentos que fazem. Tanto as máquinas de guerra quanto a máquina paranoica são movidas por desejo. É característica do desejo, ir aos limites do que pode. A máquina paranoica agencia o poder e o deseja sem limites. A máquina de guerra não se identifica com o poder. Os agenciamentos dessa máquina se relacionam com as forças da natureza com objetivo de aumentar a potência de agir – pode parecer confuso por conta da noção da “guerra”. Nesse caso, não se trata da guerra do Estado. A nossa “guerra” é sem armas de fogo. Fazemos uma guerra de afrontamento ao intolerável com movimentos suaves. Colocar uma “rosa no fuzil” da máquina militar é um afrontamento suave. Um homem sem armas pode parar um tanque militar por um tempo curto, mesmo que, com seu afrontamento venha a ser executado depois. É a imagem do afrontamento que permanece - um homem solitário

Máquina abstrata

A Vila - filme de M. Night Shyamalan (2004) – um paraíso idílico de mentiras. Os habitantes vivem isolados do resto da civilização para se protegerem da perversidade dos ímpios. O fascismo esconde segredos devidamente manipulados por uma casta de “sacerdotes”. A Vila tem os seus. As criaturas - "aquelas de quem não falamos" - são fantoches espantalhos inventados por Edward Walker (William Hurt), o líder local que faz o papel de sacerdote-interprete, e de sua mãe (Sigourney Weaver). O segredo sujo faz parte da teologia da Vila. E as peças são os fantoches espantalhos com seus atributos: a cor vermelha sempre associada ao mal, os limites territoriais da vila, a “escuridão” da floresta, os ruídos fictícios e o silêncio dos moradores em relação “àqueles de quem não falamos”. A tramoia está montada e tudo parece ir muito bem. O desejo é capturado nas reuniões onde tudo tem que ser votado – punições, confissões e recompensas pela obediência. Sob a liderança dos anciãos

Fascismos moleculares II

A Bíblia pode ser um livro perigoso de se ler, principalmente se o leitor estiver desejando o poder. No livro, baseados numa crença e nos valores morais, os homens poderão fazer suas teorias do bem e do mal e legitimar suas ações fundados na “vontade de Deus”. Ela está cheia de cenas de execução, de assassinatos por motivos fúteis e de violência contra a vida. Livro complexo, onde um rei assassino, ladrão de esposa do amigo e, possivelmente, nos dias de hoje seria condenado, também, por pedofilia - entrou para a história como sendo “o homem segundo o coração de Deus”. É preciso saber ler esse texto chamado Bíblia. Não é bem um livro de religião, mas pode ser um livro de filosofia. Os autores, prisioneiros de seu tempo, escavam a alma humana e expõem os desejos mais secretos dos homens à luz do dia. Sobretudo quando a questão é o “pecado”. Da mesma forma, os gregos expõem nas mitologias algo similar – a desmensura do desejo. Não que a Bíblia, e a mitologia grega, aprovem atos