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Mostrando postagens de dezembro, 2015

Sabiá

O sabiá parou de cantar mais cedo nesse ano, algo se dá na natureza que influencia o comportamento animal. Félix Guattari chama de ritornelos, os sons dos animais - que nós chamamos de canto - e ingenuamente dizemos, "eles cantam para a glória de Deus" - Não, longe disso, os pássaros são ateus e órfãos. Eles cantam para delimitar territórios existenciais; para seduzir seus parceiros sexuais, para afastar intrusos e predadores (...) (Branco - no café com Guattari).

Humano

O que faz do homem tão humano é a sua peculiar oposição a tudo que é da ordem da natureza - isso é tão básico que nem se nota - o ato de cobrir a natureza com vestes, de esconder tudo que é excretado, vai da simples vestimenta, que ganha no mercado de modas, uma "naturalidade," até a arquitetura de nossas cidades que tem na, formação dos engenheiros e arquitetos, o foco em ocultar a natureza em nós e sobrepujar a civilização. Os confessionários são silenciosos, o sexo e o erotismo é constantemente censurado à luz do dia, os excrementos escorrem nos subterrâneos das cidades e entre as paredes dos edifícios. Ou seja, o que nos faz humanos é essa característica de ter horror a tudo que é natureza em nós (Branco - no café com Bataille).

Natureza

Esse fato, do homem se pensar fora da natureza, tem consequências devastadoras para a vida. Só o homem pode pensar que o seu poder de domínio sobre a natureza, é ilimitado e pode ser exercido sem precisar prestar conta a ninguém. Sob esse olhar de dualidade - homem/natureza - o humano não percebe a natureza e os animais da natureza com a mesma dignidade que a civilização o fez olhar para si mesmo. Daí, o homem tratar a vida animal como se ela não fosse sujeito de direitos (Branco - relendo o Anti-Édipo).

Sade

O que o Marquês de Sade quis mostrar de forma mais repugnante e violenta é que, aquilo que mais nos revolta, tudo o que nos choca e causa náuseas - está em nós mesmos - e que, só não o fazemos por falta de oportunidade (Branco - no café com Sade).

Erotismo

Sabemos das razões do humano negar a sua perversão; ficamos humanos em demasia, dirá Nietzsche, edipianizados em excesso, dirão os críticos da psicanálise - mas o fato é que a pulsão tem direito ao seu destino e a libido aos seus objetos. Choramos demasiadamente por amor, por ciúmes ou por qualquer apego que fatalmente teremos que tecer um dia seu luto. Somos pervertidos originalmente e nenhuma moral religiosa tem mais poder do que nossas perversões - mais barato nos sairia assumir nossa natureza (Branco - no café com Georges Bataille).

Sujetividade

Respondendo a um interlocutor ansioso: Máquinas de Guerra e Aparelhos de Captura se opõem. Uma Máquina de Guerra não derrama sangue. Os Aparelhos de Captura são do Estado. A literatura de Franz Kafka, é uma máquina de guerra contra os Aparelhos de Captura do Estado. Essas máquinas de guerra, o teatro de Artaud, o erotismo de Sacher-Masoch, os bebês, a poesia de Borges, os romances de Herman Mellvilly, do casal fitzgerald, o deboche que os "autores menores" fazem da literatura oficial, é tudo isso, uma Máquina de Guerra que afronta o intolerável (Branco - no café com Deleuze/Guattari).

Subjetividade

Ainda respondendo ao interlocutor ansioso: existe a palavra "salvação" nessa linha de pensamento, se circunscreve às linhas de fuga ativas. São modos de singularização, mas nunca se pensa em salvação coletiva, muito menos ainda, salvação da alma ou da morte eterna. Trata-se da fuga ao intolerável. Precisamos ser salvos do intolerável que esmaga nossos modos de ser e de criar. Tudo que massacra nossas possibilidades de sentir novas sensibilidades - uma nova suavidade, diria Suely Rolnik - é disso que precisamos ser salvos. E tal salvação, é individual. Por isso, uma micropolítica que vai desde a casa, passando pela escola e igrejinhas. O que tentamos fazer em aulas, uma nova suavidade - aulas no Pier - nos debates e nas experimentações perigosas de introduzir um livro louco nas aulas (Branco - no café - com Deleuze/Guattari).

Subjetividade

Podemos assistir as Guerras de nossos tempos: a do Golfo, a do Irã, a do Iraque - a eterna guerra do Afeganistão - ou podemos pensar que, tudo é uma única Guerra contra o Estado Islâmico. Vai nos parecer uma guerra justa, do Bem contra o Eixo do Mal - já dizia um Bush, o mais estúpido deles. Pouca gente vai saber que essas guerra tem origem nos anos 30 com a formação das empresas perolíferas europeias e norte-americanas que dominam a área com a colaboração de mega empresários do Oriente (Branco - no café com Guattari).

Subjetividade

"Uma novela," "um filme," "uma série" ou um(a) professor(a) continuará decalcando os papéis sociais anteriormente definidos - o que vai fazer com que esses papéis pareçam ser de ordem natural - Definições binárias continuarão a produzir linhas estriadas no interior mais escondido dos indivíduos. Mesmo no campo das psicopatologias, tudo vai parecer como se fosse natural. Já existem estudos que "comprovam" ser, as doenças características de nossa sociedade capitalista. Mas parecerá como fenômeno da natureza (Branco - no café com Guattari).

Subjetividade

Vou usar a expressão, "fazer parecer como se fosse normal", para explicar ao meu modo, o que seja "produção de subjetividade". Primeiro é preciso não se iludir, toda máquina de subjetivação está à serviço da dominação para que um poder seja exercido. Daí é possível que Bashar al-Assad possa parecer seguidor do Cristo da Galileia. Ou que, um dos nosso ladrões no poder possa parecer inocente mesmo que se prove o contrário. Ou ainda, que o Supremo Tribunal possa parecer fazer justiça o tempo todo - tudo vai parecer como se fosse - mas a máquina de subjetivação não vai permitir vazamentos para o povo (Branco - no café com Guattari).

Subjetividade

A produção de subjetividade se encontrara num lugar importante nas sociedades; mas em nossa sociedade capitalista, como em nenhuma outra, ele é "plural, polifônica" (...) não havendo nenhuma instância predominante sobre as demais. A internet trabalha em conjunto com outros órgãos de "indústria cultural", fazendo com que a máquina de subjetivação não apareça, embora esteja agindo em turno de 24 horas - sem férias e sem paradas técnicas. Tudo que o centro operador, desejar no sentido de subjetivar, poderá conseguir sem resistências do povo - já que o "povo" está produzido no seio da máquina de subjetividades (Branco no café com Guattari).

As moscas

As moscas em Sartre - na peça, As moscas - se refere ao sentimento de culpa carregado na cabeça do povo francês ainda muito religioso - na época da invasão. A igreja se aliou ao invasores e manipulou o discurso da submissão e obediência aos nazistas. Já em minha alusão, as moscas são a cristandade ou não que, devoram as condições de vida do povo que, aqui também, carregam as moscas da culpa e do castigo. Por isso, não reagem a nada. Arranja um culpado e carrega as cargas (Branco - bom dia).

As moscas

O poder, nas páginas "Das Moscas", precisa de fábulas para enganar, de deuses para intimidar e da ameaça por meio da violência - esses elementos juntos servem para causar a fraqueza, a tristeza e, consequentemente, a submissão. Na peça, os deuses se divertem com a desgraça humana, mas são os humanos que criam os deuses que se divertem. O grande filósofo quis dizer, provavelmente, estamos sozinhos e condenados à liberdade. Inventamos nossos fábulas para fugirmos de nossas responsabilidades pelos nossos atos. Por isso ouvimos tanto, "se Deus quiser", "se Zeus permitir", "se Alá me der um sinal" (Branco - no café da Travessa).

Povo

Farei aqui a minha pequena diferença entre "povo" e "multidão" - talvez para que eu mesmo entenda as razões das moscas voarem tão livres e gordas sobre nossas cabeças. O que se tem numa democracia como a nossa, é um povo. E povo é demasiado piego, tomado de remorsos, pesado de culpa. Povo é um rebanho feito de palavras pastorais - vive de falsa esperança num outro mundo - daí, as moscas sobrevoarem os rebanhos. E, por outro lado, multidão é de natureza animal, que se une em torno do comum. Quem pode deter uma multidão? Por isso, Toni/Hardt dizem da "produção do comum", uma democracia da multidão. Que haja multidão enfim! (Branco - no café relendo Sartre).

Viver

Os verbos, "viver" e "existir", não querem dizer a mesma coisa - pelo menos no sentido que defendo. Existir é estar no mundo, lançado nele sem que os indivíduos escolhessem. Existem muitos indivíduos que apenas existem.  E viver, está em relação com dar sentido a existência que não tem sentido. Viver as potencialidades da vida e do corpo. Ir lá onde se desmesura as formas dadas, criar novas formas de pensar e agir. Inventar formas de vida. Singularizar-se em meio aos modelos impostos - estamos nos planos da vida (Branco - no café).

Boca

Uma boca é muito mais do que um órgão de falar e de comer. Os lábios que fazem o conjunto boca, antecedem o órgão e empresta intensidade ao que seria apenas uma mecânica - no dizer de Descartes -, são os lábios que podem confundir, eles entram em planos intensivos quando a mulher morde os lábios, contorna-o com cores vivas, quando umedece de propósito ou quando - num jogo lúdico de variações - deixa entre abertos ... seus lábios (Branco - no café)

Boca

Já havia dito, não sei quando, que existem duas metodologias para analisar o conjunto boca-lábios: uma é da física clássica de Newton, onde as partículas rígidas que emanam dos lábios só permitiriam que eles fossem a porta de entrada de uma máquina de comer. A outra forma, muito mais interessante, é da física atual. Nesse plano, os lábios introduzem uma intensidade aos olhos de quem vê. São partículas loucas, pré-formadas que desfazem a máquina de comer e trazem aos lábios a loucura do desejo desmesurado. Os lábios que fazem-nos entrar em indefinidos... prefiro essa metodologia (Branco - no café).

Boca

Na trilha da física atual, os lábios entram no jogo lúdico da sedução - somos animais que seduzem, não apenas para procriar, mas também para ter prazer. Os lábios são uma arma delicada, em forma de pétalas de flores diversas. Eles são meticulosamente usados na arte de atrair para a armadilha da sedução. Devemos ao sábio "barbudo do charuto"* a maior e a mais bela teoria libidinal - o conjunto boca-lábios é a primeira área do corpo a ser libidinada. Não se sabe se não ler - as razões de se gostar tanto, de beijar, tocar, chupar, sugar, lamber - do que os lábios em conjunto podem (Branco - no café). * Sigmund Freud

Beijos

Os beijos delicados, em toque leves e preguiçosos, onde os lábios deslizam sobre as costas nuas... os lábios úmidos na nuca, no canto simétrico entre o lábio superior e o nariz...área de produção de feromônios perfumados...os lábios em seus cantos...beijos simulados de um "não querer", mas de uma potência devastadora... os lábios que passeiam por todo o corpo e que fazem os amantes irem lá onde a alma encontra o seu Ser (Branco - de férias no café).

Viver

Voltando ao tema do "viver" e "existir" - ainda usando a sensualidade das bocas-lábios - a existência se funda numa essência que devém do indivíduo vivo; mas não necessariamente com significados de uma vida intensa, como dizia anteriormente em relação ao "uso" dos lábios-boca. O viver está ligado ao fato de produzir significados para a existência. Nosso corpo é extenso, mas é também intenso. O que isso quer dizer? Acho que viver significa viver não apenas a extensão de um corpo, mas também a sua intensidade. Ir ao limite do que se pode. Descobrir o que os lábios no conjunto do corpo pode experimentar em sua intensidade - inclui a mente. Quem vai se interpor ao que é bom para o corpo? Qual a moral que teria moral para dizer que o corpo não pode isso, não pode aquilo etc.? Que se contorçam os moralistas de plantão (Branco - no café).

Livres

Como o indivíduo humano esconde a angústia de ser livre? Num jogo mental de má-fé, numa trama psíquica de Eu sobre si mesmo - isso ocorre de tal maneira sutil que faz parecer o nascer do sol em sua naturalidade - "se Deus quiser", diz o homem de má-fé. Ele deveria querer de tal maneira - só, em seu reino de solidão - assumir esse querer de forma a se repetir sob cada nascer do mesmo sol. Mas a má-fé, faz o homem denegar a sua responsabilidade pelos seus deveres e desejos. "Deus quis assim"; é "a vontade de Deus" - diz o homem em sua imaturidade (Branco - no café).

Moscas

Estamos como em França na época da ocupação nazista? Somos um povo morto que virou carniça? E o nosso céu está enxameado de moscas que cobrem nossos cadáveres em busca de um resto de carne apodrecida. Sartre soube como ninguém dizer dessa coisa em nós que nos faz calar diante do intolerável. É quando os homens lutam para servir voluntariamente. O regime politico atual reduz os indivíduos ao temor e submissão de forma mais atenuada do que numa tirania. Os políticos engordam como porcos castrados comendo nossas carnes, e sorriem nas entrevistas como se tudo fosse assim mesmo, como se fosse normal (Branco - no café).

Sobre a frágil política

Nossa conclusão nesses dias longos, de uma política sombria, é que governar não passa de enxotar moscas. As mesmas moscas que devoram a carne do povo, repartem os recursos parcos da carniça. "Não tem dinheiro," dizem as velhas e gordas moscas verdes. Elas têm o riso largo quando dizem não ter dinheiro para a a saúde pública ou qualquer coisa pública. Os "rola-bostas" se juntam ao coro e dizem: "não tem dinheiro para a educação". O governo diz em seu silêncio desesperado: "não ha tempo para governar", temos que enxotar as moscas verdes e empurrar para lá os rola-bostas (Branco - no café relendo Sartre).