Na Serra do Mar, o sabiá canta de outubro à dezembro, até o início de dezembro, se não estiver enganado. Nesse momento escuto o canto de um, solitário em meio a tantos outros pássaros. Como já disse em algum lugar, ele não canta para ninguém. Se essa minha afirmação for verdadeira, o sabiá, - assim como os outros pássaros - canta para si mesmo, para manter sua espécie existindo no ecossistema. O que estou dizendo pode ferir o narcisismo de muitos, pois aprendemos desde cedo que somos o centro do mundo e tudo que existe e se move, existe para mim. Tudo indica que isso é apenas mais uma ilusão infantil de nossa espécie. Coisa que o sabiá não compactua.
Entende-se por aparelhos de captura as armas do Estado, e não as máquinas de guerra, as quais são nômades. O Estado se articula com aparelhos de captura. Quando o Estado se utiliza de armas de guerra é de outra coisa que ele se utiliza. O Estado se apropria da máquina de guerra e faz uma perversão de seus princípios nômades. A máquina social da sociedade primitiva – sociedade sem Estado – é uma máquina de guerra nos termos do Platô de número 12 27 – Tratado de nomadologia : a máquina de guerra se caracteriza pelo elemento que causa fragmentação contínua do espaço social, impedindo a formação de grandes aglomerados populacionais e extensas redes de troca que acabam propiciando movimentos de centralização política. É o que mantém a lógica da multiplicidade, a possibilidade de cada comunidade diferenciar-se das demais, resistindo à sedução da unidade. É nesse sentido que Deleuze/Guattari elaboram, em consonância com o pensamento de Clastres, o conceito de “máquina de guerra”, di
As organizações são necessárias e úteis, até certo ponto, mas lamentáveis em muitos outros. Organiza-se o mundo a partir da subjetividade dos indivíduos para, depois, planificar a vida social. Uma organização religiosa, por exemplo, tem toda lógica de funcionamento baseada em estrutura burocrática. Tem um corpo complexo, com seus departamentos e subdepartamentos - composição burocrática que faz tudo funcionar como se fosse coluna de um grande corpo. Da sede da organização religiosa às pequenas capelas espalhadas pelo mundo, é a mesma organização burocrática que ajusta e distribui papéis. De Roma para o mundo, seja lá onde estiver localizada a sede das igrejas. É o “cérebro” das disposições burocráticas para o resto do mundo. “Centro nervoso” de onde partem os comandos para os demais “órgãos do corpo”. Um sistema doutrinário é pensado a distância – a teologia de uma organização religiosa funciona como máquina abstrata da religião – homens de saber traçam a rota dos rebanhos e bu