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Mostrando postagens de outubro, 2017

O fogo I

Lembro das queimadas, olhando da janela de meu quarto, na pequena Belém de Maria. A cidade de poucos habitantes, tinha um prefeito para governar sobre pequenos agricultores de uma agricultura familiar de subsistência.  Um vale minúsculo, com um riacho no meio, sinuoso entre montes - era o rio panelas. A razão das queimadas, que se espalhavam nos montes na velocidade dos ventos, era a palha seca da cana de açúcar.  Talvez, o único motivo da existência de um prefeito governando um arremedo de cidade. Coisa vista por mim na infância no clássico, O Pequeno Príncipe.  - Havia lá, um rei solitário, em seu minúsculo planeta que mesmo sem súdito, permanecia rei sobre o vazio da ausência de gente para justificar a sua soberania. Seu momento de glória é marcado com a chegada inesperada do Pequeno Príncipe, seu único súdito por um breve tempo, no planeta de um único morador, o rei -  Em Belém de Maria, a cana de açúcar, monocultura que remete à colônia, justificava a existência de um

Moralismo

Dizer, "falso moralismo" é antitético. Existe "verdadeiro moralismo?" Deve-se concluir que o "verdadeiro moralismo" se funda em base "falsa". Ou seja, o verdadeiro moralismo é verdadeiramente falso. A linguagem tem como regra geral, a imprecisão. No caso do moralismo, pode-se ter uma aproximação da linguagem pelo seu oposto. O significante - de onde parte o discurso moralismo - é imoral. O que justifique a exterioridade moralista, por isso, os moralistas são na maioria, paranoicos. Eles precisam repetir palavras de ordens, arregimentar seguidores, doutriná-los eliminando as possíveis contradições externas. Existe um monstro assustadoramente imoral vindo à superfície da pele de todo moralista.

Botânica

As árvores são guardiães de nossas vidas. Não que seja esse seu propósito. Elas mesmas nem propósito têm.  Nós tomamos as sombras das árvores como se donos fôssemos.  Igualmente tomamos os seus frutos, o seu frescor, seu verdejar.  Tomamos as árvores como madeira. Elas, inocentes, seguram os ventos, colhem as chuvas, conservam a umidade, equilibram o oxigênio que respiramos. Pintamos as árvores, mas é o nome dos pintores que se eternizam, são eles que se projetam como artistas. Elas ficam como meios, silentes, expostas, vulneráveis. Os pássaros moram nas árvores, se aninham em longas discussões ao ocaso do sol.  Tantas vidas se encontram em árvores, umas se multiplicam: formigas, cupins, tantos insetos. Outras, vêm para uma estação, cantam, procriam e se vão sem despedida. Delas se fez poemas, músicas, filmes. Seus troncos servem de tábuas de mensagens, de amores, ódios, paixões frias, corações apaixonados... Por que cortamos esses indivíduos de longas

O Ser

.. . é insustentavelmente leve ... demasiadamente fluído ... absolutamente intangível ... radicalmente absurdo ... fluído ... eterno ... intensivo ... real ...incolor ...inodoro ... radicalmente demolidor ...condição a priore de todas as condições ...do sonoro ...do óptico ...in-cognoscível ... por isso, impensável O ser de todos os entes, de todas as coisas, do pensado e do impensável. Sem sujeito, sem objeto, sem destino, sem sentido e sem propósito. Sem começo e sem fim. O pré-judicativo de todas as formas, disso, daquilo "e"..."e"... "e"... "e"... "e..."