Devir

O devir filósofo não tem nada a ver com a história da filosofia, devir é justamente não imitar, não partir de um modelo pronto, como pretende ainformática quando se  apropria do conceito de rizoma. É não partir de posições e pressupostos teóricos pré-estabelecidos, máquinas binárias (questão–resposta, feminino–masculino, homem–animal).

 “Há sempre uma máquina binária que preside a distribuição dos papéis e que faz com que todas as respostas devam passar por questões pré-formadas”. 

Tem de se passar pelo sujeito do enunciado, do lugar de onde se está falando, de qual raiz ou ramo: “assim se constitui uma tal trama que tudo o que não passa pela trama não pode, materialmente, ser ouvido”. Deleuze não parte para a construção da filosofia dessas máquinas binárias.

 O devir filósofo é como as núpcias entre dois reinos, para se opor à noção de máquinas binárias. O exemplo de Deleuze está nas núpcias entre as vespas e as orquídeas: “a orquídea parece formar uma imagem de vespa, mas, na verdade, há um devir-vespa da orquídea, um devir-orquídea da vespa, uma dupla captura, pois “o que” cada um se torna não muda menos do “aquele” que se torna”. Nesse encontro entre-dois, muito de cada um se desterritorializa no outro. 

O agenciamento é justo assim, não se trata de uma totalização, mas de um “roubo”. “A vespa se torna parte do aparelho reprodutor da orquídea, ao mesmo tempo em que a orquídea torna-se órgão sexual para a vespa. Um único e mesmo devir, um único bloco de devir”61. É, na verdade, “uma dupla captura”: um processo desterritorializante em que a vespa deixa de ter o seu território restrito e a orquídea deixa de ter exclusividade sobre o seu território. 

O que se passa entre esses dois reinos? Um processo de desterritorialização, perder-se em relação ao território originário para encontrar-se numa outra situação de misturas entre territórios. Nesse processo, não há nada a compreender ou a interpretar. Isso foi mal visto no caso do pequeno Hans. 

Freud e a família do pequenino Hans canalizaram tudo para um único centro, falou-se o tempo todo em nome da criança, só faltou escutarem-na: “a criança tenta de todos os modos e de todas as formas, escapar. Não se parou nunca de lhe QUEBRAR SEU RIZOMA, de lhe MANCHAR SEU MAPA, de colocá-lo no bom lugar”. Ainda voltaremos a tocar nessa questão.

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