Introdução VII

Em outra ocasião ocasião, numa entrevista com Deleuze, declara Foucault: “Marx e Freud talvez não sejam suficientes para nos ajudar a conhecer essa coisa tão enigmática, simultaneamente visível e invisível, presente e escondida, investida por todo lado, a que se chama poder”25. A ilusão é acreditar que o poder e o desejo a ele só se encontrariam com aqueles que ocupam cargos influentes: magistrados, governantes, o chefe de polícia, etc. O poder está difuso e pode ser exercido em todo lugar onde haja relações: entre professores e alunos, entre médicos e pacientes, em casa, entre os membros da mesma família. Foucault adverte para esse exercício do poder fascista que habita dentro de todos nós. Daí, o pensador tomar O Anti-Édipo como “uma introdução à vida não fascista”. Os autores extraem potência dos acontecimentos, o que para Baremblitt, “Eles se declaram bricoleurs, juntadores de idéias, sobretudo juntadores de elementos cuja característica em comum é não ter nada em comum”26. É preciso inventar singularmente um protocolo para a criação de estilo vida. Este pode ser inspirado em Carlos Castañeda, em Antonin Artaud, etc. Ao final do texto, encontra-se, em anexo, um glossário para auxiliar o leitor na compreensão dos conceitos que aparecem ao longo de nossa pesquisa, uma síntese do vocabulário que deve servir de apoio para a leitura da dissertação. Os já iniciados na filosofia de Deleuze não encontrarão nenhuma dificuldade em lidar com os conceitos descritos. Deleuze e Guattari inventaram uma nova linguagem, não que tenham sido “ajudados” pelos intercessores, mas é certo que tenham sido afetados pelas vidas e por suas idéias. Os conceitos são, desta forma, uma co-criação com os inumeráveis intercessores: livros, animais, crianças, mas, sobretudo, alguns caros pensadores; dentre eles, Nietzsche, Espinosa, Foucault e Bergson. Para que fiquem bem claros os motivos e os ensejos que encetaram esta pesquisa, cumpre discorrermos sobre o contexto a partir do qual se desenvolveram as proposições de Deleuze e Guattari, bem como o destinatário dessa grande e enigmática obra da filosofia contemporânea. Desta forma, abriremos, como se pode ver a seguir, um tópico destinado a esse fim.
25 Id. Ibid., p. 22.
26 BAREMBLITT, G. Introdução à esquizoanálise. Belo Horizonte: Instituto Félix Guattari, 1998, p. 18.

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