Introdução I

Nossa pesquisa procurou investigar a crítica do Anti-Édipo ao conceito de desejo que se manteve fiel à noção do platonismo e que se encontra historicamente nas filosofias da representação. O propósito principal desse trabalho foi elaborar um mapeamento, localizando onde esta crítica investiga a estreita relação entre desejo, pensamento e modos de vida. Se, como ficou marcado em O que é a filosofia?, de Deleuze e Guattari, publicado pela Editora 34 (São Paulo) e traduzido por Bento Prado Júnior e Alberto Alonso Muñoz, um conceito pode sofrer os efeitos dos acontecimentos, ou, que “todo conceito remete a um problema”1, e também é verdade que “um conceito se esvanece, perde seus contornos ou adquire outros novos que o transformam”2, nosso trabalho procurou essa questão em relação ao conceito de desejo. Os conceitos podem se instalar seguros por algum tempo, até que um outrem esboce uma nova cara assustadora, impondo desconforto à calmaria, o que pode ser o prenúncio da reinvenção do conceito. A noção que vinha sendo mantida durante muito tempo, preservou-se fiel à matriz da carência e da falta, sempre se definiu a partir do exterior. A questão deveria ser pensada sobre tudo como um problema que envolve diferentes maneiras de viver, pelo menos em suas duas vertentes. A vertente tradicional da metafísica clássica que se desdobra em sedentarismo: desejo que espera o objeto alhures, renúncia em troca de promessas de felicidades futuras no mundo onde nada falta. O homem precisa se ajustar aos ideais teológicos da moral religiosa, carregar cargas, o peso do “não” a tudo que é paixão. Modernamente, os psicanalistas reinventaram o desejo como uma defasagem, desejo que alucina um objeto perdido para sempre. A questão não é atacar a psicanálise, mas é necessário desmontar as armadilhas da matriz que aprisionou o desejo e reinventar o conceito.

1 DELEUZE, G. e GUATTARI, F. O que é a filosofia? Trad. Bento Prado Jr. e Alberto Alonso Muñoz..
São Paulo: Ed. 34, 2004, p. 27.
2 Id., p. 41 - 42.

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