Introdução II

Com Deleuze e Guattari, surge uma outra vertente que pensa o desejo diretamente ligado à produção. Nesse novo caminho, pode-se pensar diferentemente do determinismo da falta. Nesse caso, não há um objeto a ser desejado: deseja-se não porque falta, mas porque o “desejo é causalidade humana”3. Os objetos são todos segundos em relação a ele, o que implica a mudança no modo de pensar. Para Deleuze e Guattari, o importante é que o desejo tenha o seu próprio campo de imanência, isso para livrar a vida do determinismo moral. Daí, ligar o desejo à noção de máquina. Esse empreendimento faz parte do grande esforço em fazer do pensamento uma atividade afirmativa4. Deleuze, em parceria com Guattari, destitui o desejo de toda falta e o inconsciente da triangulação familiar. Inconsciente e desejo passam a fazer parte do universo das máquinas desejantes. No capítulo dois de Diálogos, Deleuze faz a seguinte afirmação: “O desejo é sempre agenciado, maquinado sobre um plano de imanência”5. Logo, não é válido colocá-lo relacionado à falta ou à lei, ou que esse seria um desejo impossível. Seria o mesmo que submeter o desejo às instâncias transcendentes que submetem tudo a um juízo moral. Deleuze e Guattari colocam o desejo num plano de imanência, logo, não pode haver um a priori do desejo. O plano de imanência desse é o corpo sem órgãos de que nos fala Antonin Artaud6. Freud descobriu o “inconsciente de intensidades” que circula fluxos de desejo, mas, como diriam os autores do Anti-Édipo, o seu erro foi ter reduzido tudo ao espaço familiar. O inconsciente é um complexo acoplamento de máquinas. “As máquinas desejantes rosnam, no fundo do inconsciente"7. O desejo desliza do campo de imanência e não respeita nenhuma lei. Uma nova maneira de pensar o inconsciente e o desejo inscrevendo-o numa ontologia da
3 ESPINOSA, B. In: Os Pensadores: introdução. Trad. Marilena de Souza Chauí. São Paulo: Ed. Abril
Cultural, 1979. p. XX.
4 DELEUZE, G. Nietzsche e a filosofia. Trad. Alberto Campos. Lisboa: Ed. 70, 1981, p. 29..
5 DELEUZE, G. e PARNET, C. Diálogos. Tr. Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo: Ed. Escuta, 1998, p.
121.
6 LINS, D. Antonin Artaud. O Artesão do Corpo Sem Órgãos. Rio de Janeiro: Ed. Relume Dumará, 1999,
p. 62.
7 DELEUZE, G. e GUATTARI, F. O Anti-Édipo: capitalismo e esquizofrenia Trad. Georges Lamaziere.
Rio de Janeiro: Ed. Imago 1976, p. 74.

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