Máquina de guerra da infância IV
Quando se está diante de Quantidades intensivas, não é mais de
um plano de organização que se vai tratar, há variações de posição que depende
das conexões e dos agenciamentos com a univocidade do ser e desejo. O que está
em jogo são as multiplicidades e os agenciamentos maquínicos que constroem o
plano, que se encontra determinado por graus de potência: velocidade, repouso e
lentidão.
Daí em diante, não existem apenas dois sexos que submetem toda
interpretação (do olhar teórico) e preocupação da moral familiar; existem vários
sexos que se conformam e dependem do número de agenciamentos em que o indivíduo
se vê envolvido. Cada um de nós é uma multidão agenciada e agenciando-se;
estamos em agenciamentos constantes que nos lançam em n sexos.
Se a preocupação passa por essa questão, de sermos ou não sermos, isso
ou àquilo, então já não faz mais sentido algum. Quando a criança se descobre
isso ou aquilo, homem ou mulher, também depara com sua impotência e sua
ansiedade de ter ou não ter certeza sobre o que é.
Perde-se o sentido maquínico em detrimento de uma definição
transcendente e puramente instrumental. Longe de seu corpo sem órgãos, a
criança se vê diante do verdadeiro eu depressivo, quando roubam seu inumeráveis
sexos. A verdadeira castração está no roubo dos n sexos que a criança-máquina
tinha por essência. Esquecem que as definições de homem e de mulher deveriam
levar em conta, antes de tudo, sua natureza ligada aos fluxos: “Todos os
devires que há no fazer amor, todos os sexos, os n sexos em um único ou dois, e
que nada tem a ver com a castração. Sobre a linha de fuga, só pode haver uma
coisa, a experimentação-vida.”[1]
A psicanálise define a sexualidade pelo órgão e sua finalidade (forma
de pensamento teleológico). Ela não pôde esquivar-se da cultura falocrata e
manteve a definição de homem centrada no pênis, o que a levou a pensar em um
único sexo masculino, definido pelo órgão-pênis. O clitóris, por analogia
grosseira, é um pênis que não se desenvolveu: um pênis pequeno e malfeito que
jamais pudesse crescer.
Desse modo, passamos de uma analogia científica para a fundação de uma
homologia fundada sobre o significante fálico, e não mais sobre o órgão-pênis.
A instauração do binômio sexual fica atrelada à masculinidade, ou seja, o
feminino deriva da masculinidade, que não pode entrar em devir, por ser o ponto
de partida do significante do fálico.
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