MÁQUINA DE GUERRA DEVIR-MINORITÁRIO: A FILOSOFIA DOS NÃO FILÓSOFOS
Minorar e devir-minoritário são exercícios de afrontamento, pois
incorrem em atos de criação que produzem anomalias nos estratos que configuram
a ordem social. O devir-minoritário de um povo não é reprodução de regras, mas
a criação de um novo que se opõe às formas instituídas.
Podemos falar que, da operação (n – 1), de onde se subtrai um
devir-minoritário, subtrai-se um (1) da multiplicidade. Para Guattari,[1]
o devir-minoritário pode estar presente em “todas as engrenagens da sociedade”,
pois “a problemática que eles (grupos de minorias) singularizam em seu campo
não é do domínio do particular. Ou, menos ainda, do patológico (no caso dos
loucos e de outros grupos), e sim do domínio da construção de singularidades,
que se conecta e entrelaça com problemáticas que se encontram em outros campos,
como o do trabalho, o da arte, o da filosofia e até mesmo o de minorias
religiosos no seio das grandes religiões de Estado. É o que Deleuze/Guattari
chamam de “dimensão molecular do inconsciente”.
Trata-se de traços de singularidades que se articulam num processo
criador, rompendo as estratificações dominantes. Guattari chama de “processos
transversais” e define como “devires subjetivos” que se instauram através dos
indivíduos e dos grupos sociais (processos de minorização) que atravessam a
sociedade. Conforme Guattari, “a qualidade, a mensagem e a promessa das
minorias (...) representam não só polos de resistência, mas potencialidades de
processos de transformação, suscetíveis, numa etapa ou noutra, de serem
retomados por setores inteiros das massas”.[2]
Para Deleuze, o minoritário, o menor, não é o grupo excluído da maioria
ou subordinado a outro por um padrão que define a tal maioria (os negros, as
mulheres, os homossexuais), mas o processo de variação que escapa do sistema de
poder pertencente à maioria. “Minoria designa aqui a potência de um devir,
enquanto maioria designa o poder ou a impotência de um estado, de uma situação.”[3]
O devir, independentemente da matéria que ele venha a percorrer, instaura
uma política baseada no estado reconhecido dos indivíduos em determinado tempo
e espaço. Trata-se da variação que distingue o mero desvio ou a mera oposição,
afirmando o diferencial: minoria como um “devir no qual nos engajamos”, como a
“potência de um devir, enquanto maioria designa o poder ou a impotência de um
estado, de uma situação”.[4]
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