A potência das Linhas




No platô 9. 1933 - Micropolítica e Segmentaridade, no platô 14. 1440 – O liso e o Estriado e no tratamento do Rizoma na Conclusão de Regras concretas e máquinas abstratas, os autores descrevem o complexo de linhas do tipo rizomático e arborescente: não são apenas os estratos, mas também os agenciamentos são complexos de linhas. Os estratos seguem complexos de segmentaridade dura ou arborescente que funciona como linha pivotante. Fixa-se um primeiro estado, ou uma primeira espécia de linha por onde tudo deve passar. A psicanálise, por exemplo, quando toma a questão do homem dos lobos pelo princípio da raiz da interpretação. Tal subsunção faz que se perca de vista a matilha e natureza dos devires que se cruzam nela. Impossibilidade total de que o paciente fale em seu próprio nome. Uma multiplicidade subordinada ao ponto: a diagonal subordinada à horizontal e à vertical. Os contornos da linha têm que fazer parte de uma figura central cujo espaço que se traça é de estriagem. O sentido da multiplicidade dos lobos, no caso, é esvaziado de sentido para ceder lugar a uma unidade significante, a figura paterna. Multiplicidade numerável (lobos) que submete a multiplicidade (matilha) incontável ao uno. A linhas desse tipo são molares,e formam um sistema arborescente que é, ao mesmo tempo, binário, circular e segmentário.

A segunda espécie de complexo de linhas, é molecular[1] e do tipo rizomática. A diagonal se liberta e prolifera seguindo os princípios do rizoma: conexão e heterogeneidade. Pontos que se ligam de formas múltiplas, em qualquer lugar e em qualquer tempo. É possível que um rizoma se instale num sistema arbóreo, fazendo cadeias semióticas em estruturas de poder. O princípio de multiplicidade diz que um rizoma não é feito de unidades, mas de dimensões. Princípio de ruptura, diz que o rizoma pode ser rompido em qualquer lugar. O quinto e sexto princípio explicita o fato de que um rizoma não pode ser entendido por nenhum modelo gerativo, estrutural análogo à raiz pivotante.[2] A linha já não faz contorno, e passa entre as coisas e entre os pontos. O rizoma faz um mapa de linhas que pertence ao espaço liso. Trata um plano de dimensões, por isso a multiplicidade que constitui não está mais subordinada ao uno, mas ganha consistência de si mesma. São multiplicidades de massas ou de maltas, não de classes; não forma um povo, mas uma multidão de multiplicidade anômala e nômade e não mais normais ou de legalidade. Multiplicidade de devires que nunca são numeráveis em relações ordenadas, são sujeitos vagos de passagens. Os autores chamam atenção para o fato de não ser apenas o caso da distinção do uno e do múltiplo. Assim como um rizoma pode se instalar no sistema-raiz, “a distinção não impede a sua imanência, cada um saindo do outro à sua maneira. Mais do que multiplicidades arborescentes e outras que não o são. Há uma arborificação das multiplicidades”,[3] o que permite o risco de se perder nas experimentações.




[1] Os dois termos, “molar e molecular” são operadores pré-conceituais dos processos desejantes e sociais. O processo produtivo-desejante corresponde à dimensão que Deleuze/Guattari chamam de molecular por reunir certas características que são próprias do mundo das partículas subatômicas: elétron, neutrino, nêutron, próton, etc. Esses elementos se encontram presentes, tanto nas formações molares, quanto nas produções moleculares. Deve-se ter todo cuidado ao aplicar termos de outros campos – como nesse caso, da física e química – no plano filosófico. Para os físicos (Heisemberg) é impossível determinar em escala, ao mesmo tempo, a posição e a velocidade de uma partícula. É conhecido que nessa dimensão pode-se constatar a transformação entre massa material e energia. As experimentações com esses micro-elementos permitem afirmar que os mesmos “se formam ao mesmo tempo em que funcionam e operam”. Nesse estado pré-formal, essas partículas de energia carecem da especificidade que adquirem nos conjuntos molares da superfície de registro-controle ou de consumo-consumação das maquias desejantes. Neste nível molecular que se permite fazer uma biologia molecular que compreende o processo de formação de grandes conjuntos, a base da proteína por exemplo. O processo molecular está regido pelas leis estatísticas dos grandes conjuntos. Nas máquinas desejantes, são os processos da superfície de registro-controle e consumo-consumação, onde os elementos se agrupam em unidades amplamente conhecidas como partes de grandes conjuntos molares com suas especificidades: naturais, sociais, subjetivas, tecnológicas, etc.
[2] Cf. DELEUZE, G./GUATTARI, F. “Introduction: rhizome”. In: Mille Plateaux, 1980, pp. 9 – 37.
[3] Idem, p. 631.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Sabiá

AS MÁQUINAS DE GUERRA CONTRA OS APARELHOS DE CAPTURA DO ESTADO

Máquina burocrática