Sujeito em Deleuze/Guattari - conclusão
É Blanchot que diz, “algo acontece (aos personagens) que estes só
podem retomar renunciando ao poder de dizer Eu”[1].
Os enunciados da literatura são sempre “enunciados coletivos de
enunciação”, é o que marca o fato do autor estar tomado pelos devires
moleculares, o autor fica subsumido entre os personagens, é o que resta do
sujeito da enunciação.
Ele fica disperso na “eternidade do acontecimento puro, eventum tantum”[2]. Vemos essas forças de dissipação agindo nas crianças, nos
autistas, no esquizofrênico, no xamã, no decorrer das experimentações que
Deleuze/Guattari tanto citam e, que nós
utilizamos nessa pesquisa.
Saímos do sujeito edipianizado que, desde a mais
tenra infância recebeu camadas de eus. Nem Édipo nem estrutura,
Deleuze/Guattari introduzem hecceidades, uma forma de dizer do louco incurável,
Bartleby por exemplo[3], ou porque não dizer a mesma coisa dos “bebês cabeçudos” que nunca
desistem?
Os nomes são referências de uma mesma questão política:
esquizofrênicos, Outsideres, anômalos, embriagados, feiticeiros ou demônios.
São os “sujeitos” que se equilibram numa longa linha de fuga. “Seres da
Natureza primeira”[4].
Eles se parecem muito com o pensamento sem imagem que é marcado
igualmente pela “teimosia de uma questão sem resposta, de uma lógica extrema e
sem racionalidade”[5].
Tal é a fórmula de uma política, de um “sonho revolucionário”, uma
confraria de loucos que se encontram do lado de
Fora. Caminhadas semelhantes a do
esquizofrênico, ao ar livre com as estrelas, numa estrada sempre aberta, cada
vez mais longe do pastor das almas.
[1] Cf.
Deleuze, G. Critique et clinique.
Paris: Les Éditions de Minuit, 1993, p. 13 (nota de rodapé 6). (Tr. Peter Pál
Pelbart, p. 13),
[2] Cf. René
Schérer. Homo tantum – o impessoal:
uma política. In Gilles Deleuze: uma vida filosófica. (Org.) Éric Alliez. São
Paulo: Editora 34, 2000, P. 30.
[3]Cf.
Deleuze, G. Critique et clinique.
Paris: Les Éditions de Minuit, 1993, PP. 89 – 114. (Tr. Peter Pál Pelbart, PP.
80 - 103 ).
[4]
Deleuze, G. Critique et clinique.
Paris: Les Éditions de Minuit, 1993, p. 95 (Tr. Peter Pál Pelbart, p. 86 ).
[5]
Deleuze, G. Critique et clinique.
Paris: Les Éditions de Minuit, 1993, P. 106 (Tr. Peter Pál Pelbart, PP. 95 - 96
).
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