Sujeito II
O sujeito existe de alguma maneira, é preciso que ele
exista, mas ele se constitui a partir dessa vacuidade diabólica. Podemos nos
referir a um sujeito a partir desse furo que se pode chamar de uma “loucura”
inexplicável, ou seja, o sujeito vem a se constituir de um excesso de vida que
o homem luta por organizar através de uma linguagem que é sempre atrasada em
relação ao que lhe constrange.
Podemos pensar em um sujeito pré-humano, selvagem
para depois estabelecer em cima dele um sujeito da subjetividade, cambaleante,
sobre o seu “cavalo doido” sem rédeas.
Quem dá a aparência de pacificação é a
civilização, essa identificada com a “Luz da Razão” e com algo que promete o
domínio supremo da pacificação, uma promessa de futuro silencioso das forças
diabólicas.
O sonho iluminista era o de que o homem passaria pela fase da
selvageria e loucura para se encontrar com as forças da subjetividade de uma
civilização evoluída e capaz de impor uma integridade simbólica à ameaça sempre
presente de uma desintegração e negatividade. Se a filosofia trilha esse
percurso poderá está prometendo o mesmo que as religiões, algo que não pode
cumprir.
Restaria ao homem aguardar o pós-morte para, quem sabe, acordar num
paraíso idílico. Mesmo com a civilização mais sofisticada, não há nada que se
possa fazer quanto ao que nos resta depois do Real imaginário e do Real
simbólico.
Tudo o que a linguagem nos deixou em seu legado representativo fui
um traço no horizonte. Existe um traço que corta o infinito do deserto do Real
e existe todo o Resto, o Real Real. Tudo o que a cultura pôde nos oferecer é
parcial: temos um sujeito vacilante que é parcial. Sujeito da linguagem parcial
e fragmentada na sucessão infinita de uma sucessão de signos infinitos.
O que é
a linguagem que propõe fundar um sujeito? Objetos parciais, uns que se ligam e
outros que escapam para adiante. Entramos no mundo pelo espelho, um mundo
especular. Nem mesmo nos damos conta do momento em que saímos do espelho – se é
que saímos – para o simbólico. A imagem no espelho já nos preocupa o bastante.
O fator que parece ser o crucial na emergência
da alienação, a imagem alvo da identificação não será necessariamente o reflexo
da criança no espelho, mas a forma
humana em geral, representada paradigmaticamente pela presença do outro.
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