Aa sínteses III
No Anti-Édipo, a
noção de esquizofrenia se amplia e passa a ser pensada como processo de
produção, e não mais como patologia. O corpo sem órgão é pensado como limite
imanente à produção desejante e, na psicanálise, como vimos, é chamado de
instinto de morte.
(...) Antonin Artaud descobriu-o
precisamente onde ele se encontrava, sem forma nem figura. Instinto de morte é
o seu nome, e a morte não existe sem modelo. Porque o desejo também deseja a
morte, porque o corpo pleno da morte é o seu motor imóvel, tal como deseja a vida,
porque os órgãos da vida são a working
machine.[1]
Por não possuir órgãos, essa superfície é incapaz de produzir,
configurando-se como um fator de antiprodução. Trata-se de um fluído amorfo e
indiferenciado, de uma superfície deslizante que não aceita aderências.
Obscuridade, delírio, loucura, pathos.
São alguns nomes que arregimentam o conceito deleuze-guattariano de “corpo sem
órgãos”.
Esse conceito, tão vibrátil na filosofia de Deleuze, não se confunde
com um mero caos, com um indiferenciado amorfo. Pois o corpo sem órgãos é um
entremeio intensivo (spatium) dos devires, de transversalizações entre
singularidades pré-individuais, pré-pessoais e pré-significantes.
Em suma, o corpo
sem órgãos é o tempo em estado puro, Aion.
Porém, é em virtude dessa configuração que ele pode funcionar como um “motor
imóvel”: ao se opor à característica fundamental das máquinas desejantes, que é
efetuar conexões, acaba por impulsionar ainda mais seu funcionamento.
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