Encontros


Por lógica, os encontros só se dão entre os corpos, e os corpos são relações entre forças, forças de conservação e forças de destruição, pulsão de vida e pulsão de morte, como diz Freud.  Nesse sentido, um corpo já compreende um encontro de forças. Mas existem os encontros entre corpos onde cada corpo mantém a sua relação de força.

Não existem desencontros, esses são apenas uma forma do senso comum se referir, tudo é encontro de corpos. A vida toda se baseia em encontros. Nem mesmo poderia existir vida sem encontros de corpos.

A pulsão erótica é a força de atração dos corpos que agem numa espécie de determinismo de continuação da vida. Por outro lado, a força de repulsão da física deve ser a mesma força desruptiva ou pulsão de morte do dualismo freudiano.

Pode-se entender por princípio, que os encontros serão sempre traumáticos por se constituírem basicamente de forças opostas. Não existem encontros idílicos por muito tempo. Nem podem existir paraísos eternos - como desejam os monoteísmos - isso porque, a vida se baseia em encontros de corpos que se movem por forças de oposição.

No momento em que prevalece a pulsão erótica tudo vai bem, mas não por muito tempo a pulsão erótica permanecerá a serviço do prazer. É da natureza das forças desruptivas ou pulsão de morte, prevalecerem nesse jogo de forças.

A força que arruma e cria as formas, pulsão erótica, é a mesma que se coloca a serviço da demolição. Ou seja, tudo que existe está fadado a desaparecer. Nesse caso, todo encontro tende a se dissipar no tempo deixando para trás um rastro trágico.

 Mas não é o trágico do sentido que impregnou o mundo religioso do ressentimento, trata-se do trágico que caracteriza a criação: só existe criação onde há demolição. É o movimento da vida que se faz por formação e des-formação.

Comentários

  1. Idas e vindas...Encontros e desencontros..A vida é um embaraço de laços voláteis....morte e vida se enamoram e travam batalhas, que muitas vezes dilaceram aos que estão atravessados por estas circunstâncias....e o que nos resta?

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  2. ... nos resta todo o resto.

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  3. ...todo o resto é tudo além de uma fina linha

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  4. O assunto me reporta às aulas de Etologia nos anos 80, especialmente os estudos sobre "cortejamento". Forças que se opõem e corpos em pêndulo. De um lado, o forte instinto de autopreservação que afasta(o indivíduo em jogo); de outro, a imperiosa necessidade de procriar que precisa unir(o coletivo em jogo). E a natureza, pelo cortejamento, dando seu "jeitinho"...
    No ser humano, Clécio, a base será a mesma? O "jogo erótico" será a chave, a dimensão humana do "cortejamento" que acontece lá entre os bichos?

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  5. Para enriquecer o tema com "outras palavras", segue um poema.

    Príncipe e sapo
    Lutam dentro do homem oco
    Em luta se chocam no vazio
    Daquele corpo

    Um com perícia
    Outro com foice

    Sem vísceras sem osso
    Dentro do vão daquele homem
    A vida luta contra seu oposto
    E o que era inferno interno
    Passa a ser interno exposto

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  6. Sim, toda a vida parece estar sob a ação do jogo de forças, uma que atrai para manter junto e preservar e outra que vem para desfazer as formas deixadas pela primeira. É assim na biologia, nos processos mentais e nas sociedades.
    Ps. Grato pelo belo texto

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